quarta-feira, setembro 18, 2013

O belo número de Setembro da Revista Ler. (Belo a começar logo na capa: o José Pinho da Ler Devagar valoriza qualquer capa).


No post abaixo falo da minha estranheza, das suspeitas que começam a formar-se na minha cabeça: falo da ministra Maria Luís Albuquerque, a Miss Swaps, e das contradições e factos esquisitos que começam a saber-se acerca dela. E apelo a que alguém vá atrás do seu passado próximo (por exemplo de 2000 e tal para cá) para ver se ficamos a perceber melhor que gente é esta que nos anda a sugar o sangue e o tutano, a arrancar o couro e o cabelo, a destruir o país.

Mas isso é lá em baixo. Aqui a conversa é outra, é da boa.

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Música, por favor, há temas que pedem música.


Natalie Merchant interpreta The letter




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Vocês nem imaginam as vezes que eu já tinha ido à procura da Ler de Setembro. Costuma sair tão cedo e este mês, já íamos a meio do mês e nada.

Pois bem, hoje já tinha finalmente chegado e já cá canta. O amigo de estimação da Ana Cristina Leonardo já tinha dito: Mantendo o formato habitual, a revista sofreu uma profunda remodelação gráfica: mais imagem, crónicas ligeiramente mais curtas, janelas de poesia aqui e ali. Tudo muito cool


Ou seja, a Ler tinha sofrido um revamping mas, pela descrição, fiquei com os dois pés atrás. Céptica, devo dizer. E mais curiosa fiquei. Cool? O que seria isso de cool aplicado a uma revista destas?

Pois bem. Só posso dizer-vos que a primeira impressão é óptima. Ainda tem o cheiro da tinta e está uma maravilha. A abrir logo uma poesia de João Vário, daquela colecção de poesia dirigida por Pedro Mexia para a Tinta da China da qual faz parte o livro da Rosa Oliveira, o Cinza, que é também muito bom. Como amuse bouche não poderia ser melhor. Uma página inteira, uma letra grande que impressiona. Fiquei logo agarrada.


Aliás, toda a paginação, todo o grafismo, a poesia aqui e ali, as cores, a dimensão das fotografias, a leitura mais fácil - tudo muito bom. Se me permitem continuar na onda do Eduardo Pitta e usar uma palavra muito usada pela gente da imagem e da comunicação, diria que está clean.

Como sabem eu sou toda dos sentidos (ou seja, em primeiro lugar, um animal - e dos primitivos - e, só depois, entra em cena o meu lado racional). A minha primeira impressão começa logo no toque, na imagem, no cheiro. E só não incluo aqui a audição e o sabor porque, enfim, não sou tão maluca que me ponha a lamber os livros e as revistas ou a ouvir vozes. Adiante.


José Pinho, Ler Devagar

Apeteceu-me fazer acompanhar o José Pinho
por algumas das minhas pulseiras
(tenho destas coisas incompreensíveis)
Também não sei se não fiquei tão bem impressionada por ter a olhar para mim um senhor tão bonito, com um olhar tão penetrante, ainda por cima rodeado por livros, ainda por cima sabendo eu que é o pai da Ler Devagar. Está aqui mesmo ao meu lado, com um meio sorriso, olhar fixo em mim.

Digo isto e fico a pensar: ao dizer uma coisa destas estou a demonstrar o quê? Auto-estima ou presunção? Pois não sei (nem isso me importa). Sei é que ele não tira os olhos de mim. Essa é que é essa.

Mas tem ar de ser malandreco, é bem capaz de fazer isto com qualquer uma. E qualquer um.

Vocês experimentem pousar a revista na mesa ao lado do computador e vejam se não ficam com a mesma sensação.

Seja como for, ainda apenas li a entrevista que a Ana Sousa Dias lhe fez em diagonal, enquanto estava na fila ao regressar ao fim do dia. Felizmente estava uma bicha do catano, demorei séculos a chegar a casa, a luz cada vez mais frouxa, e deu para me deliciar a folhear a revista, a ler algumas coisas. Por exemplo, estou cheia de vontade de ir a Óbidos ver as livrarias dele, do dito José Pinho. 


Que vida tão boa deve ser a dele. Que feliz que ele deve ser. Ralações, maçadas, limpar o pó dos livros, arrumar as prateleiras, tentar descobrir livros tresmalhados, e despesas e tudo isso mas, Deus meu, quem já esteve na Ler Devagar sabe como aquilo é outro mundo, um mundo absolutamente maravilhoso. Uma coisa que parece um sonho.


Adiante.




Li também a crónica do Pedro Mexia sobre o seu encontro com um homem invisível, o Herberto Helder - a sua antítese em termos de exposição mediática (enquanto o primeiro aparece em todo o lado, apresentação de livros, debates, moderações, Governo Sombra, escrita na Ler e no Expresso e o escambau, o segundo é bicho raro, pouco sai da toca ou, se sai, não anda por onde possa ser objecto de atenção jornalística).



Pessoalmente, no que aos escritores diz respeito, prefiro o seu anonimato mediático (digamos assim), o serem incógnitos perante os seus leitores. Os escritores deveriam ser invisíveis, transparentes, andar no meio de nós e a gente não os ver, ou viverem escondidos no fim do mundo e a gente ter uma curiosidade danada, sem saber se é homem, mulher, novo, velho, feio, bonito. É que não interessa nada disso, interessa é que os seus sentimentos e pensamentos saiam destilados em belas palavras.

Um destes dias vi o Gonçalo M. Tavares. Nunca consegui ler um livro dele, coisa insólita demais para o meu estado de evolução na espécie. No meio das coisas estranhas que escreve, aparecem frases com uma certa piada mas, no conjunto, tenho mais que fazer que tentar perceber o sentido daquilo, já que beleza não é por aí além. A escrita dele não me transporta e eu não tenho energia anímica para ter que ser eu a andar a arrastá-la de página em página. Mas, então, lá estava ele, um sujeito quase normal mas com algumas diferenças. Vi-o e achei que o que ele escrevia estava bem para ele. Não é boa coisa a gente poder tirar a prova dos noves. Mais vale permanecer na ignorância.

Adiante.

Amanhã vou levar a Ler e esperar que, no regresso, esteja outra vez um trânsito infernal, mas daqueles mesmo parado para eu poder ler devagar. Não há nada melhor que a gente ler devagar (grande nome para uma livraria.

... E cá continua ele com os seus belos olhos verdes a ver se me impressiona. Ora esta.

Vou-me mas é deitar.

*

Se não se importarem de deixar o mundo dos livros para entrarem no perigoso mundo dos embustes, é descerem até ao post seguinte. Mas, se forem, talvez depois seja melhor lavarem as mãos e os olhos que eu não sei se aquilo não faz mal à pele e à mente e não atenta contra a nossa higiene (mental, claro).

*

Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira.

PS: Não deixem de ver os comentários dos meus posts pois acontece ter por lá links fabulosos que Leitores, a quem muito agradeço, generosamente oferecem.

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá jeitinho,
Concordo plenamente consigo sobre os escritores serem transparêntes, o que interessa é a obra não a pessoa que a escreve.
Beijinhos Ana

Anónimo disse...

Num daqueles acasos a que os lógicos chamam 'serendipidade' dei com o seu blog. Um caso raro de inteligência, de bom gosto,de candura e de afectuosidade.
Cumprimentos.
jar

Anónimo disse...

hoje encontrei um must, é um programa de busca de música, tem versão portátil, ou seja não se instala no computador.Mas o mais espectacular, além da sinopse do cantor que procuramos, dá a letra das músicas, e dá para fazer download, varre a internet para o autor que procuramos - https://sites.google.com/site/getsongr/home e o ideia do programa - https://dl.dropboxusercontent.com/u/117669777/SGPhoto_2013_09_18%2016_44_29.png

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Por vezes, dantes, imaginava que um escritor me conhecia e que, depois, eu me via retratada num livro. Deixei-me disso mas a ideia fez o seu caminho: agora sou eu que absorvo os outros com vontade de os transformar em personagem de romance.

Mas, na minha ideia, tudo isto só funciona se o escritor for invisível senão ninguém estará natural ao pé deles. Além disso, escrever, acho eu, deve requerer sossego mental, recolhimento.

Mas, enfim, cada um é como é. Alguns escritores, se calhar, funcionam melhor se viverem sob a luz dos holofotes. (Depois os livros reflectem isso...)

Um beijinho Ana.

Um Jeito Manso disse...

Olá jar,

Obrigada pelas suas palavras. Mas vou já avisando: não se deixe impressionar com tão curta amostra. Tenho o meu lado negro. Quando viro uma fera, é sem dó, direitinha à jugular...(tudo de garganta, claro, ou melhor, tudo na prosa, mas enfim, a intenção é que conta, não é...?)

Sabe uma coisa? Conhecia serendipity (palavra que acho que nunca pronunciei em voz alta pois, mesmo a ler, tendo a trocar o di com o pi, ou seja, leio serenpidity) mas não sabia que havia a palavra em português. Até fui confirmar pensando que fosse uma tradução literal da sua parte. Afinal existe mesmo. E, assim sendo, hoje já aprendi uma palavra e, portanto, já ganhei o dia.

Muito obrigada.

E, quando constatar os meus maus fígados, não se aborreça. Sou do mais primário que há: dá-me com força mas passa-me depressa.

Volte sempre que será sempre muito bem vindo.

Um Jeito Manso disse...

Caro Anónimo,

Você bem tenta que eu me torne interessada por estas coisas... Mas não me dá nada para fixar este género de coisas, programas para isto ou para aquilo, esqueço-me, não me puxa nada para estas coisas. No entanto, acredito que aos meus Leitores isto seja muito útil. Eu aqui na internet só vou à procura de música para inserir no blogue. Nunca vou à procura para ouvir sem ser para isso. De resto, só ouço música quando estou no carro. E mesmo programas para outras coisas, não tenho mesmo tempo para isso. Tomara ter mas não tenho. O meu tempo lúdico junto do computador resume-se a este bocadinho à noite em que estou aqui a escrever.

Mas vou sempre espreitar o que me manda e fico fascinada. O mundo da internet é imenso e maravilhoso.

Por isso, por essas portas que vai abrindo e em meu nome e dos meus Leitores, muito lhe agradeço.