segunda-feira, novembro 05, 2012

Retrato de um dia: manhã no Ginjal, com gaivotas, um pato, um pombo e muito Tejo e tarde com os meus meninos no Riso: uma exposição a sério; depois visita por dentro das fantásticas maquinetas eléctricas do Museu da Electricidade e, para terminar em beleza, lanche na maravilhosa Livraria Ler Devagar na LxFactory


Ontem à noite chovia torrencialmente quando me fui deitar. Hoje de manhã a sala estava cheia de água. A varanda entupiu e a água entrou. Por isso, o dia começou bem.

Na sexta feira o meu marido tinha-me prevenido que eu não arranjasse programas, que queria ter um fim de semana descansado, de pura ociosidade.

Mas se o sábado já foi bem repleto de afazeres e reuniões familiares, o domingo foi ainda melhor.

Não que vos interesse muito mas, talvez por um certo gosto diarístico que apenas com o blogue comecei a descobrir, vou contar-vos.

A começar o dia, caminhada junto ao rio. Um Tejo sombrio, carregado de canas, ramos partidos. Apenas duas gaivotas, voando baixo, como que ainda assustadas da invernia que se abatera de noite, como se assustadas por serem as únicas, como que querendo companhia.




As ruas, ali junto ao rio, ainda cheias de água. E, vindo não sei de onde, um pato, ou um ganso, nem sei. Junto a ele, um pombo. Ali andavam passeando, na maior amizade, passo certo, como se o pombo quisesse imitar o pato.




Mais à frente, em terra, longe do rio, num jardim, o relvado estava repleto de gaivotas. Gaivotas em terra, sinal de vendaval. Por isso, não as vi no rio. Vieram abrigar-se aqui.




Ali andavam, domésticas, outonais. Vendo-as assim, quem as diria capazes de soltar grandes asas e vogar pelos grandes espaços, sobre as águas?

O almoço foi em casa e constou de bacalhau cozido com batatas, feijão verde, grão e ovo cozido. Sabe sempre bem.

Depois, logo a seguir ao almoço, eis que rumamos ao belo Museu da Electricidade. 



Museu da Electricidade - O Riso: uma Exposição a Sério


A minha filha tinha sugerido 'O riso: uma exposição a sério' e, se o tema é o riso, não havia como lhe fugir. A Fundação EDP e as Produções Fictícias organizaram e José Manuel dos Santos, João Pinharanda, Nuno Artur Silva e Nuno Crespo comissariaram. Gente inteligente, culta, gente que prometia.

Ou seja, portanto lá fomos todos. Uma festa.


Música, por favor: um dueto improvável


Manuel João Vieira e Mónica Ferraz



Visitar exposições assim com três crianças pequenas, irrequietas e muito bem dispostas é uma alegria e o riso já está presente mesmo quando a exposição não é sobre o riso. A quarta criança também é pequena, ainda mais pequena que os restantes, mas ainda não corre de um lado para o outro.



Entrada da Exposição do Riso: um grande careto encarnado à esquerda


Repare-se logo à entrada os três homens a rir, esculturas de Juan Muñoz. E repare-se também na instalação à direita. entramos e percebemos logo o que nos espera. As crianças ficaram logo agarradas.



A Passerelle de Joana de Vasconcelos


Trata-se daqueles cães de louça que algumas pessoas de apurado gosto decorativo gostam de colocar no jardim. Aqui encontram-se suspensos pela coleira. Accionando um pedal, aquilo começa a andar à volta e os cães, batendo uns nos outros, acabam por se ir escaqueirando e, vendo o que acontecia, só se pode elogiar o sentido de justiça da autora. 

Os miúdos estavam doidos com aquilo. Por vontade deles, ficavam só ali. Foi um castigo para os arrancar de lá.

Ouvi agora no Câmara Clara o José Manuel dos Santos dizer que têm um stock de cães para reposição. 

Como poderão imaginar, apesar de sermos vários adultos, tomar conta de três perdigotos pequenos que voltam atrás para ver o que lhes despertou atenção ou que vão a correr para ver alguma coisa mais à frente,  no meio da muita gente que estava a ver a exposição, não é fácil. Se a isso somar o tirar fotografias, perceberão que não consegui ver a exposição com o sossego devido nem fixei a autoria de muitas peças. Por isso, desculpem-me, por favor, a falta de rigor nestes apontamentos.



Senhora pirosa armada em madama e a sua casa a condizer,
cadeiras e sofás repletos de almofadinhas de cetim
com pompons, rendinhas,
em azul cueca, rosa bebé, verdinho, amarelinho,
jarrinhas com flores artificiais,  vitrines com pecinhas e arrebiques -
uma casa igual a tantas que há por aí, kitch, kitch 


A exposição tem inúmeras peças, pintura, escultura, gravura, instalação, cartoon, ilustração, etc, tudo de grande qualidade, tudo revelando a inteligência da escolha. Está organizada por secções e, todas elas, merecedoras de atenção e mente aberta.



Estupidamente não fixei a autoria desta fantástica peça que tanto me fez rir
e que tanta  atenção desperta: uma mulher  de gatas com o vestido (de noiva?),
com os folhos pela cabeça e nestes lindos preparos por baixo 


Logo a seguir uma peça extraordinária, deliciosa, revelando o extraordinário sentido de humor da autora.



Da autoria de Paula Rego esta obra de que não sei o nome
mas que é, toda ela, uma graça.
Os olhos são aquelas molas de plástico com que se prende o cabelo.
Os dentes das molas, fazem de pestanas.
Paula Rego tem nesta exposição mais uma série de obras,
nomeadamente as suas fantásticas histórias em gravuras


E se é divertido e estimulante ver uma exposição destas, imaginem o que é vê-la, vendo a reacção das crianças. Divertimento, descoberta, surpresa, irreverência - tudo em estado puro.

Há também a secção dos espelhos deformantes e, aí,  foi outra festa. Todos gordos, largos, multiplicados. Não vos mostro para não ficarem a achar que na minha família somos todos quadrados, gigantes, obesos. Mas, ao ver as fotografias, já me fartei de rir.



Também não sei a autoria mas é do mais insólito que há


E depois há os inúmeros objectos que nos fazem rir, como este (que tem o seu quê de misógino).



A esposa ideal, instantânea, liofilizada.
Coisa de um homem claro: que grande lata...!


Manuel João Vieira, pessoa por quem nutro grande admiração e de quem já aqui falei várias vezes e que hoje assegura, por estas bandas, o acompanhamento musical, tem peças memoráveis como, por exemplo, este cão.



O dálmata salazarento
Manuel João Vieira no seu melhor


E acabo por aqui a conversa sobre a exposição para não me tornar maçadora. Mas não pensem que me vou já embora... Qual quê...? A tarde ainda ia a meio.

É que, estando nós no Museu da Electricidade, era uma pena irmo-nos embora sem o visitarmos e sem vermos a maravilhosa vista que dali se alcança.




E não é só a vista e os geradores e turbinas e outros gingarelhos. É que, depois, há aquelas maravilhosas maquinetas de cores vivas que as crianças operam sem precisarem de ajuda ou explicações e que, dando à manivela ou carregando nos botões, se iluminam ou fazem andar comboios, ou mexem, ou fazem tantas coisas.




E há aquelas em que a realidade e a imaginação se entrepenetram e que fazem os meninos ter vontade de entrar por elas adentro.








E depois o bebé teve fome e já não achava graça a nada e só rabujava e teve que mamar ali mesmo.

E depois estávamos todos com fome e com vontade de ir lanchar.

E, sobretudo, face ao comportamento dos três pestinhas, corríamos sérios riscos de ser expulsos de lá.

Então, o meu filho lembrou-se de irmos lanchar à Ler Devagar na LxFactory. Lá fomos, portanto.

Maravilhosa livraria. Maravilhoso espaço. Amplo, livros por toda a parte, máquinas voadoras, objectos improváveis, escadas, estantes infinitas, recantos, mesas, espaços de leitura, um labirinto que dá vontade descobrir.



Ler Devagar - Livraria na LxFactory


Ainda assistimos ao final de um concerto que também lá decorria, lanchámos, os miúdos maravilharam-se e eu, a contragosto, fui de lá arrancada.



A Ler Devagar fica na Lxfactory  que fica em Alcântara, tem sítio para estacionar  e muito que ver
especialmente nos dias de feira de rua



A Ler Devagar tem uma Agenda Cultural  variada e interessante


Saímos de lá já era de noite. Escusado será dizer que alguns, mal os carros se puseram em andamento, ferraram imediatamente a dormir. 

Para finalizar (e que o Gaspar não me ouça): o único gasto foi o do lanche. A exposição é gratuita, o museu hoje também o foi (não sei se é sempre ou se foi hoje, por ser domingo). 

Ou seja, ainda é possível passar uma tarde muito bem passada e não apenas não ficarmos mais pobres mas,  ainda, ficarmos mais ricos, mais felizes, mais bem dispostos. 

Terei que lá voltar, ao Riso, com mais sossego. À Ler Devagar também, claro, uma e outra e outra vez.

E a ver se o próximo fim de semana é, então, de descanso. Porque este.... ufffffffffffffffff....


*

E, se ainda não estiverem fartos de me aturar, confesso que muito gostaria de poder continuar na vossa companhia por mais um bocadinho, agora ali ao lado, no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras andam sobre as águas em volta de um poema de Luís Filipe Castro Mendes, Poeta e Embaixador, Prémio António Quadros 2012. A música por lá é de Jean-Baptiste Lully.

*

E é isto.
Desejo-vos, meus Caros leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda feira.
Muito riso e pouco siso é o que vos desejo.

12 comentários:

Anónimo disse...

Olá Jeitinho,
no sábado fui com os meus filhotes ver a exposição do riso e o meu mais pequenino também ficou colado aos cães de loiça, que já tinhamos visto na exposição da Joana Vasconcelos no CCB.Os meus filhotes são viciados no museu da eletricidade, adoram e é sempre gratuito.
Beijinhos Ana

MCP disse...

Olá Amiga,
Muito bom o seu fim de semana!
Os programas que não são previamente combinados são sempre os melhores.
A exposição do Riso deve ser mesmo muito divertida.
Achei imensa graça aos cães de loiça, da Joana Vasconcelos,vão-se partindo mas ainda existem muitos, pudera, noutros tempos muitas eram as casas que os tinham como decoração, eu pessoalmente nunca os apreciei.
Tenho mesmo de visitar o museu da electricidade e esta exposição em particular.
Vejo pelas suas fotos e descrições que é imperdível.
Desejo-lhe uma óptima semana.
Beijinhos
MCP


Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Andamos, andamos e ainda nos encontramos mesmo...

Estive também para ir no sábado mas, para dar para ir a 'tropa' toda, ficou para domingo. Mas isto, mais dia menos dia, vai mesmo ser. Eu não a conheço mas vai ver que percebe logo que sou eu.

Os meus pimentinhas gostaram tanto do museu da electricidade que agora vão passar a ir mais vezes. Para quando está de chuva, não há melhor.

Um beijinho, Ana, e já sabe, um dia destes é um abraço ao vivo e a cores.

Isabel disse...

Gostei de todo o post, mas principalmente da música para bebés, como se de uma caixinha de música se tratasse; e da livraria Ler Devagar: um paraíso (que gostava de conhecer, levando a carteira bem recheada - o que nos dias que correm é difícil!).
Um beijinho e boa semana

Um Jeito Manso disse...

Olá MCP,

O seu reguilinha vai adorar aquelas maquinetas do museu, eles podem dar à manivela que as luzes se acendem, ou um comboizinho anda, ou carregam em botões e aquilo faz outras coisas. Os meus são tão pequeninos e adoraram e o mais crescidinho, o de 4, delirou. esse já queria perceber a lógica das coisas.

A exposição do riso é muito interessante, muito variada, tem coisas bem divertidas e outras que apenas nos fazem sorrir mas é um sorriso que puxa pelo nosso bom humor.

E tem várias coisas para crianças como por exemplo uma mesa com canetas para eles poderem desenhar e riscar à vontade. Os dois mais pequeninos também não queriam arrancar de lá. O outro a desandar para outro lado e aqueles dois pimentinhas ali pregados.

Acho que é um passeio que vale muito a pena, quer vá com o seu pimentinha quer vá sem ele.

Uma bela semana para si também, MCP, e um beijinho.

Um Jeito Manso disse...

Isabel, olá,

Lembrei-me de pôr aquela música pois eu andava com o bebé ao colo e ele, à medida que a hora de comer se aproximava, foi ficando impaciente. E então a minha nora teve que se sentar lá num canto e dar-lhe mesmo ali, no museu, de mamar. É uma visão muito terna.

E depois fomos para a Livraria e aquilo é uma coisa mágica, enorme, com uma bicicleta no ar, suspensa, com asas brancas e as asas vão batendo devagar e, depois, lá em cima, há outras figuras brancas voadoras e há estantes até ao tecto. É uma coisa de filme para crianças... e um delírio para adultos. E há dois recantos em que se lancha e há, por trás, um restaurante. E no piso de cima há uma sala onde há concertos. Tudo aquilo é muito informal.

Dá gosto estar lá mesmo que não compre nada, só pelo prazer de lá estar.

Quando vier a Lisboa de novo, é uma visita que poderia fazer, ia gostar muito.

Um beijinho, Isabel!

Anónimo disse...

Um pouco à pressa, algo cansado e com sono, mas permita-me um agradecimento: pela informação sobre a Livraria “A Ler Devagar”, que desconhecia. Nestes tempos que correm tantas vezes não temos tempo para nos informarmos e actualizarmos do que vai aparecendo de interessante, como o caso desta Livraria/café!
Boa visita a que fez ao Museu de Electricidade...com esses seus netos. O meu (ainda em breve a completar 11 meses e está um encanto! Ou então somos nós embevecidos!) um dia fará uma visita idêntica.
Muito mais haveria a comentar deste seu interessante Post, mas estou “nas lonas”.
Uma boa e descansada noite!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Aquele local, o LxFactory, pelo que os meus filhos me referem, tem vindo a impor-se pelas lojas de design e por um mercado que há ao ar livre (salvo erro, aos domingos) e pelo alojamento em regime de co-work de empresas essencialmente formadas por jovens.

Hei-de lá ir ver com calma.

Agora aquela livraria, a Ler Devagar, é um local fantástico. Não perca porque vale bem a pena. Sugiro que escolha um dia em que a agenda mostre que há um programa, ou gente a cantar ou algum evento literário. Afinal ainda há locais inesperados onde somos agradavelmente surpreendidos.

Quanto ao seu netinho, ainda em idade pré-pimentinha, deixe-o crescer mais um pouco para ele poder andar por lá a jardinar de máquina em máquina. O meu mais novo dos 3 mais crescidos, aquele a quem chamo o ex-bebé, fez agora 20 meses, e não imagina a alegria dele. A alegria e a intuição. Chegava ao pé de cada uma daquelas coisas e ia logo direito ao botão ou à manivela e começava, de imediato, a interagir com aquilo.

Não o maço mais. Um sono descansado, P. Rufino!

Anónimo disse...

Olá,

Adorei conhecer o Museu da Electricidade e a exposição 'O Riso'.

Aquela passerelle Joana de Vasconcelos é o máximo!

Mas o que me deixou mesmo encantada foi a 'nova' Ler Devagar.

Que bom deve ser andar por ali no meio dos livros e de toda aquela magia.

Por várias razões há muitos anos que não vou a Lisboa.

Se lá voltar vai ser difícil escolher, mas esta livraria acabou de entrar para o meu top five.

Obrigada UJM!

Um beijinho,

Antonieta

Maria Eduardo disse...

Olá,
Ainda bem que me deu a conhecer a existência da exposição do Riso,a livraria "A Ler Devagar" e tudo o resto a funcionar no Museu da Electricidade pois já visitei este museu há muitos anos e não sabia que estava a ser utilizado para fins culturais. Oportunamente farei uma visita ao Museu para me divertir e rir também um bocadinho...pois bem precisamos todos!
Gostei muito deste passeio com os seus netinhos pois mesmo sem estar lá já ficámos com uma ideia com o que podemos contar. Entretanto vou pesquisar na net para me inteirar de horários etc., mas obrigada pela dica.
A música para bebés também é um encanto...
Um grande beijinho
ME

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Se puder cá voltar,não deixe mesmo de vir visitar esta livraria. Uma pessoa entra e fica deslumbrada. Um espaço mágico, claro, amplo, livros e mais livros, objectos voadores, uma grande prensa, muitos recantos, recantos por todo o lado, gente a ler, gente a folhear os livros, gente a lanchar. Uma livraria como não haverá muitas. A decoração, se é que se pode chamar decoração, é fabulosa.

Um dia que lá volte, farei mais fotografias para mostrar pois é mesmo one of a kind.

Um beijinho, Antonieta!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

Desde sempre, fazemos programas deste género, metendo cultura, turismo, um certo lado lúdico, um toque de gastronomia. O sítio que sempre era all-in-one é a Gulbenkian mas há muitos mais programas possíveis de se fazer. Quando os meus filhos eram pequenos, todos os fins de semana havia um programa assim.

Claro que agora cada um deles já faz os seus próprios programas mas, ainda assim, quando podemos, juntamo-nos todos e fazemos destas incursões. Claro que é sempre um 'festival' pois as crianças são muito pequenas e difíceis de manter sossegadas. Mas isso ainda dá mais graça.

Na Central Tejo, onde funciona o Museu da Electricidade, há geralmente exposições patrocinadas pela Fundação EDP e têm sempre muita qualidade. Depois é num sítio lindo, mesmo encostado ao rio.

Quanto à Livraria, é em Alcântara, entre Alcântara e o Calvário e merece bem uma visita. É extraordinária.

Um beijinho, Maria Eduardo!