domingo, agosto 13, 2017

Who by fire


Mulher na Aldeia do Mato, Abrantes
by Rui M Pedrosa



Acordei com cheiro a fumo. Cheguei a casa dos meus pais e na rua um cheiro a fumo. Cheguei aqui, in heaven, e cheiro a fumo e uma névoa pardacenta no ar. De tarde, uma gigante onda de fumo crescia no céu, o cheiro sempre presente.

Muito calor, nenhuma humidade, um pasto perfeito para a besta. 

Vejo a televisão: fogo por todo o lado. O meu país em chamas. Mais de 4.000 bombeiros no terreno. Autoestradas fechadas.

Não é o calor e a falta de humidade que desencadeia os fogos, isso apenas ajuda a propagar. Isso e o vento. O rastilho tem mão humana: seja por incúria, distração, interesse económico, maldade ou loucura. Ouço as notícias: muito fogo posto. Muita gente detida, outros apenas interrogados. Um dos grandes incêndios, um que devorou serras e vales, e galgou estradas e rios e lambeu casas e cegou árvores aos milhares foi ateado por uma mulher de cinquenta anos. Chegou-se ao mato e com um isqueiro pegou-lhe fogo. Saíu de casa e deliberadamente provocou o incêndio que destruíu milhares de hectares de floresta e colocou em risco a vida de quem vivia naquelas aldeias e dos bombeiros que por lá andaram a consumir-se. Que razões terá a mulher? Que loucura ou desespero tomou conta dela?


Parece que o perfil típico dos incendiários se divide entre doentes com depressão ou alcoólicos. Por isso, não sei como se podem prevenir estas catástrofes quando os causadores são pessoas que não obedecem a comportamentos racionais.


Espanto-me com este fenómeno. Um país tão pequeno, gente aparentemente normal, pacífica, agora com o desemprego a diminuir, o poder de compra a melhorar, supostamente menos razões para se cair no desespero e, no entanto, isto que se vê. 

Parece não haver outro país na Europa onde tanto fogo seja ateado. Será que as televisões não deveriam mostrar tantas imagens de fogos e de gente aos gritos? Será que quem ateia fogos, por um motivo ou por outro, quer causar destruição e pânico idênticos aos que vê na televisão?
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Na Albânia também a braços com uma onda de calor
by Gent Shkullaku

Mas, enfim, de uma forma ou de outra, em maior ou menor escala, e fogo por incêndio ou por bombas ou rebeliões, parece que uma onda abrasiva está a invadir o mundo (e nem vou falar da anormalidade a que se assiste entre as aberrações que estão à frente dos Estados Unidos e da Coreia do Norte).

Bombardeamento aéreo em Damasco, Síria
by Ammar Suleiman

Nas ruas de Caracas, Venezuela
by Ronaldo Schemidt

Tomara que chova, que arrefeça, que tudo volte ao normal, que os ânimos serenem, que o bom senso e a saúde mental prevaleçam. Se isto dura muito mais tempo corremos sérios riscos de que o mundo se torne um lugar ainda mais perigoso.
E claro que isto que estou a dizer é uma banalidade mas, perante o que está a passar-se, não consigo formular ideias originais.
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Vi as fotografias que aqui usei no The Guardian e, para nos fazer companhia, lembrei-me da canção do Leonard Cohen embora a letra não tenha especialmente a ver.

And who by fire, who by water, 
Who in the sunshine, who in the night time, 
Who by high ordeal, who by common trial, 
Who in your merry merry month of may, 
Who by very slow decay, 
And who shall I say is calling? 
(...)
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E, a propósito ainda de fogo, lembrei-me de quando eu era pequena e, pelos santos populares, havia fogueiras nas ruas e da atracção pelo risco que aquilo me provocava, levando-me a saltar por cima, mesmo quando elas eram largas e estavam com fogo alto. Mas o dia foi algo cansativo (mas muito bom!) e eu estou aqui só a adormecer enquanto escrevo. Por isso, não sei se vou conseguir escrever sobre isso e chegar ao fim.

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Até já ou até amanhã

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