sexta-feira, agosto 11, 2017

Patrícia Gaspar e a lei da rolha


Numa empresa ou num grupo empresarial (e, presumo, em qualquer organização profissional que tenha uma certa dimensão) existe sempre um departamento de Comunicação. Para além da Administração, só as pessoas desse departamento (e não todas) estão autorizadas a falar em nome da empresa. Para além disso, existe sempre um Manual de Crise que é do conhecimento de toda a gente. Vários tipos de crise estão ali descritos e, para cada situação, existem orientações: o que fazer durante, como mitigar os efeitos, o que fazer depois (para recuperar), o que comunicar, com quem comunicar, etc.

Isto é imprescindível. Não passa pela cabeça que, havendo um problema que chame a comunicação social, qualquer um pudesse pôr-se a dar entrevistas. Numa organização cada pessoa tem a visão daquilo que conhece e, portanto, se lhe fizerem perguntas de outra área vai dizer que não sabe -- podendo tal ser usado para dizer que quem lá está dentro não sabe do que se passa -- ou vai pôr-se a dar palpites sobre matérias que desconhece, dizendo, certamente, toda a espécie de disparates. 

A pessoa que é responsável pela comunicação encontra-se no centro de uma rede que se monta e através da qual a informação flui de forma articulada, de modo a que, quando fala, sabe transmitir a informação mais actual, mais fidedigna e mais fundamentada. Aos outros -- os que, em situação de crise, temos é que estar calados e deixar falar quem sabe -- não passa pela cabeça falar em lei da rolha. É assim não porque tenhamos os nossos direitos de falar cerceados mas porque há regras, bom senso e sentido de responsabilidade.


Portanto, quando foram os incêndios, ver o espectáculo de toda a gente a opinar, bombeiros aqui e ali, comandante daqui e dacolá, protecção civil, o senhor da liga dos bombeiros, o secretário de estado e a ministra, o cão, o gato e tutti quanti era, para mim, coisa deplorável pois o resultado foi o que se viu: desinformação, azo à especulação, palco a chicas-espertas e boateiros, alimentar programas e programas transbordantes de comentadores.

Quando, finalmente, se soube que a comunicação sobre os incêndios iria ser centralizada, caíu o carmo e a trindade. Toda a espécie de mariazinhas saíu, em histeria, rasgando as vestes: é a lei da rolha! é a lei da rolha! Parecia que vinha aí a censura, uma ataque à liberdade de expressão. Eu bem sei que gente parva que nada conhece da vida só diz disparates e, à falta de assunto, desata a ladrar a cada osso que lhe atiram. Mas cansam, causam poluição sonora e social. Faço zapping mas, intimamente, fico maçada.

E então, eis que no meio do foguetório dos caniches, surgiu Patrícia Gaspar. Segura, tranquila, demonstrando um conhecimento profundo sobre o que fala, ela conseguiu calar a papagaiada e, pela sua competência, ela passou a ser voz que informa o país sobre os incêndios. E nunca mais as catatuas e caniches ousaram pregar contra o profissionalismo que esta medida demonstra. E ninguém ousou levantar cabelo face aos conhecimentos que ela evidencia. 


Diariamente, de manhã e à tarde, neste período de verão severo, com ventos, altas temperaturas e baixíssima humidade relativa, e em que tantos incêndios devoram o país de norte a sul, surge esta mulher que sabe falar, que sabe transmitir o que se passa, que fala sem ambiguidades, que não foge ao que lhe perguntam, que não é alarmista nem simplista, que impõe respeito e transmite conhecimento de causa. Ouvimo-la e acreditamos que há uma estrutura a zelar pelo país nesta situação em que a crise persiste.

E daqui eu a louvo. Não sei que idade tem, não sei qual o seu percurso profissional, nada sei da sua vida. Nem isso interessa.

Mas vejo que deve ser uma profissional de mão cheia e que, por onde passa, deve deixar impressa a marca da qualidade, do rigor e, acredito, da empatia.

Por isso, salve, Patrícia. E obrigada.

E, através dela, os meus agradecimentos a todos quantos, de norte a sul, arriscam a sua segurança -- e a sua vida -- no combate a tantos e tão violentos incêndios.

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E queiram continuar a descer caso vos apeteça saber de tantos cisnes que, afinal, não são cisnes e de tantos candidatos a autarcas que apena o são por ambição pessoal, por clubite partidária ou por frete. É ver para crer na quantidade deles (e delas) que por aí andam com sorrisos de plástico pela beira das estradas. Isso e também uma galinha insuflada. E peixinhos, Jorge, tantos peixinhos.

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