sábado, setembro 26, 2015

Entre a sombra e a alma




Passa, e muito, das duas da manhã e agora é que aqui estou. Nem devia estar mas tenho isto de não querer deixar passar um dia sem vos deixar uma palavra minha (parece que me acho importante mas que hei-de eu fazer?, é uma mania ou um hábito, não sei, capaz de ser vício, sei lá). As sextas-feiras têm disto: ou por programas meus ou alheios, acabo por ter ocupações extra que dão nisto.

Tenho sono, muito, e não consigo ter ânimo para falar de sondagens, eleições, o que quer que seja. De resto nem sei se aconteceu alguma coisa de jeito neste nosso paísinho. Presumo que não.

Já fui saber se me tinha saído o euromilhões mas tive uma má notícia: saíu, sim senhor, mas foi para o Reino Unido. Bolas, o jeito que me dava.

Ao dar um rápido giro pela net, vi que os sexólogos afirmam que existe o ponto G dos homens, acho que se chama ponto P. Mas tão perdida de sono estou que agora, minutos depois de ter lido, já não encontro o artigo. Bolas. Mas, pronto, ao menos lembro-me que tem a ver com a estimulação prostática. Se estivesse acordada, isto dar-me-ia pano para mangas mas, a dormir como estou, só me ocorrem inconveniências. Por isso, deixa-me mas é ficar caladinha para não atentar contra a moral e os bons costumes.

Enquanto escrevo (e vocês, seus preguiçosos, todos a dormirem), estou a ver uma moça, na televisão, na SIC Mulher, com voz de betinha, toda habilidosa, a fazer quadros, caixas, individuais. Acho que o programa se chama O mundo de Sofia. Como gosto de fazer trabalhos manuais até me apetecia prestar-lhe atenção mas, se me ponho a aprender aquilo, ainda me passa o sono e eu quero ir daqui direitinha para a caminha.

Portanto, pedindo-vos desculpa por isto hoje não ter uma linha de rumo, deixo-vos com um poema que andava a ondular na minha cabeça.
Não sei que é isto comigo, em vez de me portar como uma avozinha, ando sempre toda por aqui dada aos amores, aos romantismos. De tarde, ou melhor: ao cair da noite, ao vir no carro com dois dos meus pimentinhas, vinha a ouvir a música habitual. Diz-me o mais velho, 'Ó Tá, põe lá outra coisa, não me apetece continuar com essas tuas músicas românticas'. Fartei-me de rir. Vinha a ouvir música sacra.
Há bocado, ao deitá-los, o mais novo foi chamar-me à sala dizendo que não conseguia dormir. Lá fui com ele até ao quarto. Disse o mais velho 'Ó Tá, é que ele não gosta do escuro e eu já não sei o que lhe hei-de dizer mais. Já lhe disse para fechar os olhos e pensar em azul, porque ele gosta tanto de azul. Mas ele não é capaz, diz que, quando fecha os olhos, só vê preto. Eu não, eu como gosto de verde, fecho os olhos, penso em verde e, pouco tempo depois, já tenho a cabeça cheia de verde'. Fiquei encantada com esta conversa. Não dei troco porque estava era a ver se adormeciam, que era tardíssimo e eles só na palheta mas esta, em condições normais, daria para mil devaneios, mil voos entre cores, flores, recortes de luz.


Bem. Não vos maço mais com esta minha converseta que não leva a lado nenhum. Deixo-vos, então, com o tal poema  - aqui na versão inglesa - e dito pela voz mais cansada e poluída da história dos diseurs e que, por isso mesmo, é uma voz capaz de me levar por maus caminhos. 


Soneto 17 (dos 100 Sonetos de Amor) - Pablo Neruda - dito por Tom O'Bedlam

I do not love you as if you were salt-rose 
(No te amo como si fueras rosa de sal, topacio )




No te amo como si fueras rosa de sal, topacio 
o flecha de claveles que propagan el fuego: 
te amo como se aman ciertas cosas oscuras, 
secretamente, entre la sombra y el alma. 

Te amo como la planta que no florece y lleva 
dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores, 
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo 
el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde, 
te amo directamente sin problemas ni orgullo: 
así te amo porque no sé amar de otra manera, 

sino así de este modo en que no soy ni eres, 
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía, 
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.
....



Quanto ao mais: se a coligação de PàFs ganhar o País ficará de vez em cacos e eu acharei que mais valia era que os portugueses emigrassem todos de vez para ver se vinham para cá outros com mais tino, capazes de votar em quem os defenda.


Enfim.
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A fotografia lá em cima mostra a quarentona Kate Moss fotografada para a Vogue Paris pela dupla Mert Alas & Marcus Piggott

Não sei quem pintou aquelas cores tão bonitas do mural ali acima - mas é uma graça, não é? 

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado. 
A ver se durmo até tarde para ver se mais logo consigo escrever alguma coisa que se aproveite -- o que, como é sabido, não é fácil para criaturas de miolo fraco como esta que aqui tendes perante vós. 
Adiante.

Quanto ao mais: se a coligação de PàFs ganhar o País ficará de vez em cacos e eu acharei que mais valia era que os portugueses emigrassem todos de vez para ver se vinham para cá outros com mais tino, capazes de votar em quem os defenda.

Enfim.
...

2 comentários:

Rosa Pinto disse...

'O Inferno é ter braços e não ser abraçado'
Jón Kalman Stefánsson, 'Paraíso e Inferno'

A 4 Paf na PaF

Anónimo disse...

Toda a gente diz que Maçães será o próximo Ministro dos NE. Que acha?