quinta-feira, março 28, 2024

Sobre o Governo Montenegro, uma primeira pergunta:
a Ministra Maria do Rosário Palma Ramalho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social é gémea separada à nascença de Marisa Liz?

 


Para já, é isto.

Obrigada, António Costa

 

Por tudo. 

Pela inteligência, pela cultura, pela decência, pela boa educação, pelo bom feitio, pela capacidade de perceber e de fazer, pela dignidade, e, até, pelo sentido de humor.

Só tenho uma coisa a apontar: a nível de dicção, sai do Governo como entrou, péssimo. 

Come sílabas que é um ver se te avias... 

Tirando isso, não consigo ter a pachorra que ele tem para aceitar com boa cara a perseguição que lhe fizeram, a começar pela direita, pelo ministério público, pela comunicação social e a acabar na presidência da república. A forma como tudo foi conduzido até Marcelo conseguir o que sempre demonstrou querer, a dissolução da Assembleia da República e o impedimento da governação socialista, parece-me não apenas grave como soez.

Mas António Costa está num patamar superior àquele em que eu estou. António Costa tem poder de encaixe, tem uma argúcia e uma calma que fazem do seu savoir faire uma mais valia que espero bem que, em breve, seja posta ao serviço dos outros, seja aqui seja onde for. António Costa é um nome grande da política nacional (e aqui a política deve ser entendida na sua mais nobre acepção).

Portanto, temos sorte em ter democratas deste calibre no nosso país e espero que mesmo os estúpidos que se entretiveram a dizer mal dele nos últimos tempos, se arrependam e compreendam o erro que cometeram.

Pela parte que me toca: muito obrigada, António Costa.

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PS: A quem não viu a entrevista a Ferro Rodrigues na RTP 2 sugiro que ponham a box a andar para trás pois foi extraordinária. 

Magnífica intervenção. Imperdível. Mais vozes assim se manifestassem e outro galo cantaria. Salve Ferro Rodrigues.

quarta-feira, março 27, 2024

Será que o Dissolvente Marcelo já está a preparar-se para dissolver a nova Assembleia da República?

 

Depois das anedotas e das altas chicanas do dia, a maltinha chiripitatá-tatá que resultou do caldinho que o Dissolvente arranjou conduziu a que a faena fosse dada por encerrada depois de tudo se ter ensarilhado de uma maneira descabelada. 

Agora vão para casa pensar como voltar amanhã de cara lavada, isto depois do Ventura se ter atirado para a pista da lama salpicando todos os que se chegaram a ele.

Enquanto escrevo, lá está ele com os microfones todos apontados à sua boquinha safadona, mostrando estar sempre pronto a entalar quem não lhe fizer a vontade: ou a AD assume o Chega como amante encartado e se prontifica a passear na rua, de mão dada com ele, ou ele fará a vida negra à AD, vem para a rua, aos coices, sempre com a boca posta no trombone. 

Isto a que se chegou, contudo, não foi só obra do Dissolvente: foi também obra da comunicação social que não tem feito outra coisa senão andar com o Ventura ao colo.

Agora pergunto eu: Marcelo -- que já dissolveu duas vezes a Assembleia e que acha que percebeu bem a vontade dos Portugueses --, o que pensa agora, ao ver o descontrolo emocional do Ventura, a sua pulsão chantagista, a condicionar o exercício democrático naquela que é suposto ser a Casa da Democracia?

Estará já a ver como dissolver esta caldeirada?

Hoje, no primeiro dia desta nova composição parlamentar, já se viu o que vai ser a macacada daqui em diante. Vai ser este o desgoverno do País?

O que vai Marcelo fazer? Nada? Vai assobiar para o lado como se nada tivesse a ver com isto....? É que tem, tem muito a ver com o lindo espectáculo a que nos tem sido dado assistir.

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[Solução para este imbróglio? Repito-me: fazer o contrário do que o PSD tem estado a fazer, ou seja, a dar palco ao Ventura. O Chega deve ser isolado (mas, atenção!, isolado de forma inteligente, com uma inteligência superior em manha à do Ventura). A democracia deve ser exercida pelos democratas. Portanto, se a AD quer governar, só poderá fazê-lo se tiver a humildade de procurar o entendimento, sempre que faça sentido e tal seja necessário, com o PS]

Ahahahahahahah

Eheheheheheheh

 


(...)

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Post Scriptum 

Agora a sério: tal como referi na noite das eleições, a única solução de governabilidade mínima (a bem do País) passará por um entendimento (caso a caso, quando faça sentido, quando não viole os princípios programáticos do PS) da AD com o PS. 

No caso da eleição do Presidente da AR, com Aguiar-Branco (nome neutro), a AD, na sua arrogância, cagança, imaturidade democrática, preferiu fazer um entendimento com o Chega, nem se dignando a falar com o PS. Deu nisto. Uma anedota. 

Se a AD tivesse falado com o PS, a esta hora Aguiar Branco seria Presidente da AR.

Uma humilhação para Aguiar Branco e, sobretudo, para Montenegro. Uma grande, grande humilhação.

terça-feira, março 26, 2024

Um político que diz tudo o que pensa

 

Ia para comprar um livro e, bas*, acabei por trazer quatro. Mas como quero falar deles com algum vagar e agora estou aqui com vontade de partilhar o vídeo abaixo, deixo a literatura para amanhã ou depois.

E quero aqui deixar o vídeo como contraponto à avalancha comentadeira com que os canais estão inundados, quase tudo com gente de direita. O mais à esquerda que vi -- e digo esquerda sabendo que, no caso, esquerda não é propriamente o caso --, é o Adalberto Campos Fernandes. 

Mas a impante figura do fulano do Chega (e vamos lá a ver se não o teremos como vice-presidente da AR) agora ali está a lançar a confusão, o Rangel completamente entusiasmado, leia-se à beira do histerismo, a fazer de conta que chega bem para o dito Pedro Pinto que, como formação, tem o ter frequentado o curso de Relações Internacionais e, como profissão, tem dedicar-se à organização de espetáculos tauromáquicos e que, como curiosidades, tem as que aqui transcrevo da Wikipedia:

. Em julho de 2022, foi noticiado que, nesse mesmo mês, Pedro Pinto, num corredor da Assembleia da República, tentou encostar a sua testa à de Nuno Saraiva, assessor do PS, num tom provocatório, enquanto ameaçava partir-lhe a “tromba”, chamando-o de "anão".

. Em junho de 2023, foi reportado que Pedro Pinto tinha sido visto, nesse mesmo mês, a agredir um árbitro de futebol de 18 anos e a tentar agredir um outro da mesma idade num torneio infantil de escalões de sub-11 e sub-13, em que também participava a equipa do seu filho, o Futebol Clube do Crato

Napoleão 
[Quem é o Napoleão?]

E, faça-se o zapping que se fizer, a malta toda fala à volta do Chega, o que é que o Chega faz ou deixa de fazer ou se prepara para fazer.

Lá se abre uma excepção para comentar o clima de cortesia entre Marcelo e Costa. E uns dizem isto e outros aquilo. E o que eu digo é que Costa, uma vez mais, mostrou que está num patamar acima das tricas, é um estadista, é um senhor. Acho que fez bem ao, neste momento, não trazer para o palco mediático o que, num plano institucional, iria aumentar a confusão. Portanto, os dislates e os graves deslizes de Marcelo que prejudicaram gravemente a estabilidade e, certamente, a paciência de Costa, ficaram para trás. Viu-se que Marcelo estava comprometido, certamente com medo que Costa não se aguentasse e deixasse sair uma boca que o entalasse ainda mais. Aliás, mal acabou de falar, raspou-se atabalhoadamente. Parecia que estava com medo que alguém lhe chamasse o 'dissolvente' (como o Carlos Magno lhe chama) ou o Desestabilizador-Mor. 

Mas isto para dizer que eu, vendo tanto comentadeiro e comentadeira a opinar e desopinar, a ovar e a desovar sapiências a metro, só me apetece arejar a cabeça com um político como deve ser, um que diz tudo o que pensa. 


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(*) bas = business as usual
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Desejo-vos uma boa terça-feira
Saúde. Atenção. Cabeça fria. Paz.

segunda-feira, março 25, 2024

Estou como a Fran que também não suporta os estúpidos e os ignorantes.
Chama-lhes anarquistas que querem acabar com o regime, destruir a democracia. Concordo.
E, tal como ela, também não posso com homens que pintam o cabelo (e, claro, ainda menos, com os que usam capachinho)

[E, já agora, junto a receita da sopa e do arroz de cabrito que fiz hoje]

 

O ar denso, amarelo. Uma mistura de pólens, nomeadamente o dos pinheiros, e de poeiras do deserto. Isso e o que parece ser humidade. Não gosto. Sinto a garganta ligeiramente arranhada, por vezes uma comichão que me dá tosse. Se calhar é disto. De noite, tenho tido ataques de tosse. Esta noite já não dormimos de janela aberta (ie, vidros abertos) e, por acaso, tossi um pouco menos.

A ver se a chuva que aí vem lava o ar pois isto, certamente, não é lá muito saudável.

Sábado foi dia de família, de alegria, de animação. 

Domingo dia de lazer. Aproveitei para lavagem de roupas e para cozinhar. 

Fiz sopa de legumes e arroz de cabrito. Vou dizer como fiz cada coisa.

Sopa de legumes

Numa panela, coloquei água, duas cebolas, um alho francês, uma fatia de abóbora, uma courgette, um nabo, quatro cenouras médias, sal. Tapei. Depois de levantar fervura, baixei e ficou a cozinhar até ver que os ingredientes estavam quase macios.

Num tacho à parte, com um pouco de água, coloquei o conteúdo quase todo de um pacote de sopa portuguesa embalada (cenoura fatiada, couve ripada, alho francês fatiado) e uma mão cheia de feijão-verde fatiado. Ficou a cozinhar, tapado, até as couves estarem macias.

Quando os legumes da panela ficaram cozinhados, desliguei o fogão, juntei um fio de azeite e triturei. Depois misturei os legumes cozinhados à parte e envolvi.

Arroz de cabrito

Primeiro retirei a gordura dos bocados de cabrito. Não tirei absolutamente toda mas, pelo menos, tudo o que é gordura densa saiu. Lavei bem.

Num tacho coloquei um pouco de azeite. Cortei duas cebolas grandes lá para dentro e foi frigindo. Por cima coloquei os bocados de cabrito. Por cima deles, um pouco de sal, salsa e coentros em quantidade razoável, meio alho francês aos bocados e o resto do conteúdo da embalagem de sopa portuguesa. Juntei água até quase cobrir. Juntei ainda um pouco de pimentão-doce em pó, um pouco, muito pouco, de curcuma e, ainda, um pouco de alho também em pó. Por sugestão do meu marido, juntei um bocadinho (bem pequeno) de chouriço de carne, só para dar alguma graça.

Depois de ferver, baixei, sempre com o tacho tapado. Ficou a cozinhar. Talvez uma hora, não sei bem. Vou espreitando até ver que a carne começa a despegar-se dos ossos. Juntei, então, três cenouras às fatias e uma boa quantidade de feijão-verde, creio que uns dezoito feijões grandes, também aos bocados, desta vez largos. De cada vez que junto alguma coisa, levanto o lume para que o caldo volte a levantar fervura. Nessa altura, baixo de novo.

Pouco depois, juntei três bolas de folhas de espinafres congeladas e duas maçãs de alcobaça cortadas aos cubinhos (isto para cortar um pouco aquele sabor que pode ser intenso do cabrito). Quando se come, fica com um suave doce que corta o que ainda remanesça de sabor gordo a animal que o cabrito parece que sempre tem.

Depois de ferver de novo, juntei um copo de arroz basmati. Antes tinha validado (a olho...) que o caldo presente no tacho seria sensivelmente o dobro. Envolvi tudo.

Quando o arroz estava cozinhado, o caldo absorvido, juntei um bocado de vinagre. Envolvi.

Ficou bom.

Tirando isso fiz várias coisas como arrumações, apanhar nêsperas, limões, etc. Por exemplo, há pouco vi um vídeo com a Fran Lebowitz que gosto sempre de ouvir. É desabrida, é educada, é divertida, é lúcida, é inteligente... e é democrata. 

Podem colocar-se legendas em português mas creio que só daquelas em que a tradução é automática (que, como se sabe, por vezes é manhosa...). Mas, vão por mim, vale muito a pena. Também ela se insurge contra os estúpidos, os ignorantes, que andam a dar cabo das democracias. 

Nem todas as mentes são suficientemente abertas para ouvirem os alertas ou algumas sugestões que servem sobretudo para lançar o tema, para fomentar a discussão. Há ainda muita gente que se acha mais esperta que os outros e podem os populistas estar a minar a democracia, regredindo nos direitos e nas liberdades, infectando todo o sistema legislativo e a fazer porcaria por todos os lados, que continuarão enfeudados nos seus redutozinhos de intelectualidade reaccionária e míope. Por eles, bem podem os populistas, os ditadores, os maiores energúmenos avançar sobre nós que não mexerão um dedo, entretidos a 'mandar bocas' aos que tentam resistir.

Enfim, é o que é. 

Fran Lebowitz on the joy of revenge, holding grudges and why men shouldn't dye their hair

Fran Lebowitz sobre a alegria da vingança, sobre guardar rancor e a razão pela qual os homens não devem pintar o cabelo 


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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Coragem. Frontalidade. Paz.

domingo, março 24, 2024

Antes que os porcos triunfem

 

Várias ideias me ocorrem mas vou rejeitando umas por exigirem um espaço e uma ponderação diferentes deste canto em que escrevo e outras por temer não encontrar as palavras justas. 

Vou antes falar das perplexidades que têm ocupado o meu pensamento nestes meus últimos dias. É certo e é devido que todos tenham direito a votar e que o voto de um marginal ou de um ignorante valha tanto quanto o de um trabalhador esforçado ou de um catedrático. Um voto é um voto e todos os votos são iguais. É um dado adquirido e penso que assim deve ser.

O que me custa é que não se perceba que é muito provável que os ignorantes, em especial os que nem têm consciência de quão ignorantes são ou os que gostam de viver nas margens da sociedade, tudo farão para se vingar dos outros, dos integrados, dos que estudam, dos que sabem.

Se há coisa que sei, até pela minha formação, é que só se podem fazer generalizações quando a amostra é significativa. 

Para conhecer a opinião dos portugueses sobre dado assunto, não precisamos de ouvi-los a todos. Podemos apenas ouvir uns quantos. Mas temos que ouvir os que representem fielmente a população. Por exemplo, se x% são homem e y% são mulheres, tenho que ter essa percentagem representada na amostra. Se uns tantos são analfabetos, uns quantos têm o 9º, outros o 12º, uns a licenciatura e outros o doutoramento, é bom que a amostra também os contemple em idêntica percentagem. E se x% têm até 18 anos, y% estão entre os 18 e os 25, etc, etc, etc....(e por aí fora). Saber montar uma amostra significativa é uma tarefa exigente e requer que se saibam identificar os factores que influem na votação. Por exemplo: se os desempregados votam de uma maneira diferente dos que trabalham, então a amostra deve inclui-los na devida proporção. Ou, relevantíssimo pelo seu peso, os reformados/pensionistas que também devem estar presentes na proporção certa. 

E agora vou dizer uma coisa que pode ser polémica e que, para eu poder fazer finca-pé, teria que validar. Ou seja, afirmo-o agora por mera intuição: creio que a população que se informa sobretudo via redes sociais deve ter um comportamento diferente da que vê televisão, lê jornais ou lê vários livros por ano. Seria interessante que este factor diferenciador fosse testado em estudos de opinião e, se se verificasse a diferenciação, que esse aspecto passasse a estar presente nas amostragens.

Ou seja, constituindo uma amostra significativa, se ouvir o que pensam, poderei generalizar ao todo, embora haja sempre uma certa margem de erro (que desejavelmente será bastante baixa). 

Portanto, eu arrepiar-me com os disparates que ouço no balneário ou mesmo com alguns dislates que ouço a amigos, uns porque são mais conservadores, outros porque não pensam e se limitam a ser maria-vai-com-as-outras, não significa que isso seja amostra do que vai pelo país. Sei disso.

Mas, apesar de não poder generalizar, não posso ignorar. Não posso fazer uma estatística e atribuir probabilidades mas posso acreditar que o que ouço são indicadores.

E o que ouço são coisas descabeladas, sem pés na cabeça, fruto da mais profunda ignorância. Votam convictamente por assumirem como verdadeiros pressupostos que são disparates sem ponta por onde se pegue, fruto da mais profunda iliteracia económica ou social ou de ausência completa de estudo ou de raciocínio. Repetem mentiras já mil vezes desmascaradas, afirmam anormalidades que não são verdade nem aqui nem em parte nenhuma do mundo. Mas acham que, ao votarem no Chega, estão a fazer justiça. Uma dizia, ufana: 'Depois ainda não querem que a gente diga as verdades? Quem é que julgam que são para nos quererem impedir de dizer as verdades?'. E várias outras sorriam e acenavam que sim, que claro que sim, que a elas ninguém as calava. E eu pensava: 'Mas estão a falar de quê? De quem? Elegeram quem? Estão convencidas de quê?'

Passei no outro dia por um sítio em que ganhou o Chega e, olhando para aqueles prédios, pensei: 'Andares e andares de gente inculta, desinformada, ressabiada, ignorante. Vão votar sem perceberem que estão a dar tiros nos pés'.

A democracia contém todas as permissões para que, quem queira, a devore, a detone, a faça implodir.

Não acredito que seja benéfico nem quero que se restrinjam liberdades. Longe de mim.

Mas alguma aprendizagem estes ignorantes deveriam ter. Não sei como. Seria bom, num mundo ideal, utópico, certamente meio maluco, que, para se votar, as pessoas tivessem que estudar e passar num teste em que mostrassem saber o bê-a-bá do que é a sociedade, de como funcionam as instituições, de quais são as bases da Constituição, de quais são os riscos das sociedades anti-democráticas em que a liberdade individual não é respeitada, do que é a Economia e as Finanças, do que é a Justiça. E quem chumbasse, qual exame de Código, não poderia ir votar. Tão simples quanto isto.

Se calhar, está na altura de se pensar outra vez no Serviço Cívico ou nas Campanhas de Alfabetização. Engendre-se uma coisa adaptada aos tempos actuais, quiçá via redes sociais. Não sei. 

Uma coisa é certa: alguma coisa deve ser feita. Senão, um dia destes estamos a ser governados por porcos que lá porque andam em duas patas e se vestem com calça e casaco já se julgam tão ou mais preparados que os humanos.

Haverá, entre quem me lê, quem ache que, dizendo isto, estou a revelar um elitismo descabido. Seja. Mas pense-se na qualidade dos primeiros deputados que pisaram a Assembleia da República a seguir ao 25 de Abril e compare-se com parte significativa dos que vão pisá-la dentro de dias. Uma diferença abissal. É como querer comparar o Género Humano com o Manuel Germano. Vamos continuar a aceitar que a democracia vá caminhando por esta rampa descendente que não se sabe onde vai levar (mas a bom sítio não é)?

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E parece que vem aí, outra vez, a chuva. E ainda bem. Faz falta sempre a agora, em particular, para lavar o ar que anda carregado de poeiras. 

Que entre, pois, o genial Jacob Collier (que, aqui, vem acompanhado por: Madison Cunningham & Chris Thile).

Jacob Collier - Summer Rain


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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. ?. Paz.

sábado, março 23, 2024

Dois meses.
E a vulnerabilidade de Kate Middleton.

 

Há uns anos a minha mãe andava cansada. O meu pai, que mal andava, tinha partido uma perna e tinha sido operado tendo, depois, sido internado numa clínica de reabilitação. Era verão, estava um calor dos diabos, e a minha mãe ia vê-lo todos os dias. Ao fim de semana e uma ou duas vezes durante a semana eu ia buscá-la a casa e íamos as duas vê-lo. Nos outros dias, ela ia de autocarro cuja paragem ainda era um pouco longe. Com temperaturas muito acima dos trintas e tais, era natural que se sentisse cansada. Por isso, não me preocupei assim muito com o cansaço, aconselhei-a foi a não ir todos os dias ou a ir de taxi. Como sempre, não me dava ouvidos e eu aborrecia-me pois temia que se desidratasse, que se esgotasse, não percebia porque, pelo menos, não ia de taxi. Pedia-lhe também que fosse ao médico para ter a certeza que estava tudo bem. E ela protelava. 

Mas um dia ela achou que o cansaço não era normal. Foi ao médico, um médico mais velho que ela e de quem era amiga de há muito -- as consultas demoravam para cima de uma hora, creio que chegaram a duas, ele chegou a cantar (e os outros doentes à seca na sala de espera...) --, e ele mandou-a fazer análises. Não vou entrar em pormenores mas, intuitivo e experiente, de análise em análise, teve uma suspeita e mandou-a fazer uma colonoscopia. Não sei porquê, talvez porque andássemos tão focados no estado complicado do meu pai ou porque não nos ocorreu que alguma coisa muito grave pudesse acontecer com a minha mãe, a verdade é que ela achou que não era preciso eu ir, que ia com a sua vizinha e amiga, sempre presente e disponível. Eu trabalhava nessa altura e tinha querido ir mas a ideia que tenho é que não estava à espera que dali pudesse sair algo de dramático.

Contudo, quando, no dia em que foi fazer o exame, ela me ligou, nervosíssima, a dizer que era melhor eu ir já lá a casa pois tínhamos coisas a resolver, fiquei em choque. Não me quis adiantar mais nada mas percebi imediatamente o que se passava.

Quando lá cheguei, estava lá a amiga que já tinha sido operada umas quantas vezes a cancros e que já tinha várias peças a menos. Um exemplo vivo de que o cancro já não é sentença de morte. A minha mãe estava nervosíssima, preocupadíssima, mas não em pânico. Além disso, o cancro estava em estadio inicial, era o menos grave dentro do que era, e, portanto, as perspectivas eram animadoras, digamos assim.

Imediatamente, a família -- que, como tenho revelado, tem ligações ao mundo da medicina -- pôs em marcha os contactos e quase imediatamente uma cirurgia começou a ser planeada num hospital privado. Felizmente a minha mãe tinha não apenas ADSE como um bom seguro de saúde e, portanto, todo o processo foi muito ágil e sem restrições financeiras.

Mas se a minha mãe estava muito apreensiva, eu, por dentro, sentia-me deveras aflita. O meu pai que, entretanto, teve alta da clínica e estava em casa, acamado, muito dependente, e a minha mãe, que eu julgava saudável, estava com cancro. Contudo, esforçava-me, ao máximo, por não demonstrá-lo para ver se transmitia alguma tranquilidade já que a minha mãe estava igualmente preocupada por ter que deixar o meu pai em casa sem o seu cuidado. Não foi fácil, de facto, toda a logística que teve que ser montada para que o meu pai ficasse bem, acompanhado. Eu ia lá levar todas as compras, transmitir-lhe boas notícias da minha mãe, descansá-lo.

Mas esse esforço, para mim, era o menos. Lembro-me, sobretudo, do medo que senti quando ela foi fazer uma ressonância magnética para ver se o cancro não estava espalhado ou quando fui com ela à consulta com o anestesista ou quando fui levá-la ao hospital para a cirurgia ou quando fui à consulta para saber se havia células cancerosas no tecido linfático que tinha sido retirado juntamente com parte do cólon. Sentia-me em pânico. 

Mas o médico tranquilizou-nos, que estava tudo bem, que tinham retirado tudo e que não havia receios. Disse-lhe, sorridente: 'Disto não vai morrer'.

De facto, ficou bem. Os anos passaram, fazia exames, e estava tudo bem. 

Mas a mim custou-me a ultrapassar o medo que trazia dentro de mim desde a surpresa do diagnóstico de cancro da minha mãe.

Quando, há pouco tempo, se percebeu que se calhar algo de grave estava, outra vez, a acontecer com ela e quando a TAC o confirmou, senti-me esmagada. Andava há cerca de um ano e picos convencida que ela padecia de uma hipocondria extrema e queria que ela se tratasse da ansiedade que isso lhe causava. Na verdade, apesar de ter noventa anos, eu estava convencida que ela ainda teria vários anos de vida pela frente. 

Quando tivemos a certeza de que estava outra vez com cancro e que este estava tão avançado que já não teria muito tempo de vida, já ela estava muito mal, já sem andar, quase sem conseguir falar, sem forças. Portanto, não lhe chegou a ser dito a ela o que tinha pois, apavorada que andava sobretudo com os tratamentos, achando que todos os seus males resultavam dos comprimidos que tomava para o coração, achámos que não deveríamos atormentá-la com este diagnóstico. Contudo, logo depois, por mero acaso, soubemos que, afinal, há cerca do tal ano e picos ela tinha sido insistentemente alertada para o que muito provavelmente tinha e que deveria fazer mais exames e tratar-se, o que não fez e ocultou de todos.

A partir daí viveu pouco mais que um mês. E foi um tormento, um declínio agudo, galopante, rápido, doloroso. Ela sabia o que tinha embora, inicialmente, nesta fase final, continuasse a parecer ignorá-lo. No fim, já falava do assunto, embora nunca tivesse verbalizado a palavra cancro, e mostrava-se aterrorizada com a perspectiva de ir morrer. E isso a mim devastava-me. 

Cada pessoa lida com a finitude à sua maneira. 

A equipa médica e a psicóloga aconselharam-nos sobre a forma de lidarmos com a situação mas devo dizer que foi um período tão intenso e assustador que, apesar de breve, ainda hoje ando a processar.

A minha família e amigos e mesmo a equipa médica tentavam fazer-me ver que, sendo certo que ninguém é imortal, longa vida já a minha mãe tinha tido e que, apesar de tudo, a sua decisão  tinha sido inteligente pois, na idade dela e já com algumas limitações cardíacas, certamente não iria poder suportar terapêuticas agressivas. Assim, viveu autónoma e razoavelmente bem até pouco antes de morrer.

Mas saber que ela tinha um cancro que avançava exuberantemente e que não havia nada a fazer e que cada dia podia ser o último foi uma coisa horrível para todos os que lidaram de perto com a situação e, para mim, talvez ainda mais. 

Pouco tempo antes um amigo e colega tinha sabido que um cancro que ele julgava resolvido tinha reaparecido com agressividade, obrigando-o a radioterapia que, como não resultasse, obrigou, de seguida, a passar para a quimioterapia. Isso fez-me muita impressão. Conversava com ele muito abertamente sobre isso, ele falava dos seus medos e de como ficava abalado e doente depois das sessões. E eu, tão solidária e triste com a doença do meu amigo (e, por via disso, a sentir que tinha a obrigação moral de continuar a trabalhar para lá do que queria pois não ia abandoná-lo nem à empresa numa altura em que ele estava tão fragilizado), não fazendo a mínima ideia de que a minha mãe tinha um cancro dentro dela, comentava isso com ela. E ela nada deixava transparecer. Perguntava-me muitas vezes por ele mas eu pensava que o interesse dela era sobretudo por saber que eu queria deixar de trabalhar mas tinha decidido esperar até que isso fosse possível. Se soubesse o que se passava com o seu estado de saúde, jamais teria conversado com ela sobre isso pois imagino que ficava cheia de medo e, ao mesmo tempo, deveria fazer um grande esforço para eu não perceber.

Faz hoje dois meses que morreu.

Continuo a não encaixar a sua ausência num horizonte temporal coerente. Por vezes parece-me coisa muito recente. Acontece-me pensar que está na hora de lhe ligar ou ter muito presentes algumas observações suas e até me parece quase mentira que já cá não esteja. Mas, noutras vezes, parece-me que a minha mãe viveu numa outra dimensão da minha vida, uma dimensão que já não existe. 

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Imagino o susto e a aflição que igualmente Kate Middleton, jovem mãe de três filhos pequenos, tem atravessado. Vê-la magra, branca, enervada, a falar da sua situação fez-me relembrar os meus medos, os medos da minha mãe. Ou as aflições de uma amiga a cuja mãe foi diagnosticado um cancro também terminal, tinha a senhora cinquenta e tal anos. Ou o susto e ansiedade de uma outra pessoa da minha família. Ou o que se passou com os meus tios. Ou com o meu sogro. Ou com uma tia do meu marido. Ou, há dias, uma amiga a quem foi extraído um nódulo canceroso, supostamente não tendo ficado nada lá que dê preocupação. Ou tantos outros casos. Uns felizmente foram interceptados a tempo e as pessoas ficaram com uma história com um final bem sucedido para contar. Mas é sempre um susto, uma agonia.

Espero que Kate e todas as outras pessoas que estão a atravessar este período de luta em que ainda não se sabe quem vai levar a melhor, se as células benignas, se as células malignas, tenham boa sorte e voltem a respirar de alívio e a viver serenamente.

A vida é curta, bem o sabemos. Mas não precisa de ser curta demais nem de envolver sofrimento.

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Boa sorte. Paz.

sexta-feira, março 22, 2024

Sérgio


Com um brilhozinho nos olhos, hoje é o primeiro dia do resto da tua e da minha vida. Essa é que é essa. E o resto vem por acréscimo.

Claro que antes foi um stress. Não há um lugar para estacionar, um único, nem ali nem nas redondezas. O parque dos Restauradores também cheio. E um trânsito do caraças. Taxis e Ubers a largarem clientes junto aos hotéis. Ou seja, demorado, a tirar bagagem, a agradecer, tudo nas calminhas, e a gente atrás a ver o tempo a escoar-se. Depois os sentidos das ruas... Tendo ambos trabalhado por ali durante anos e dir-se-ia que conhecendo a zona da Av. da Liberdade de olhos fechados, agora foi assim: 'vira aí que ou se arranja aí ou viras para baixo e entras outra vez na avenida.'. Está bem, está, não dá para virar ou, se dá, depois, não dá para virar para baixo. Voltas e voltas e o tempo a desaparecer... Uns nervos.

Há um ano longe do bulício das zonas e dos períodos de trânsito, coisas assim já nos enervam. 

Resultado, fomos para a direita, por cima, pela Mártires da Pátria, para tentar o parque do Martim Moniz. E foi o que nos valeu. 

Dali ao Coliseu é um pulinho a pé. 

Com isto já estávamos em cima, já à hora de começar. Lançados que íamos, dirigimo-nos à pressa para a entrada. Até que começámos a ver que estávamos com uma fila de gente ao lado. Incrédula, perguntei se era para o Sérgio. Era. Uma fila gigante. Que remédio, voltámos para trás para nos pormos no fim. Mas atrás de nós continuou a juntar-se gente. Certamente gente que passou pelo mesmo que nós. Conclusão: não dá para ir de carro lá para o pé.

Foi sentarmo-nos e o concerto a começar.

E foi bom, bom.

Claro que o Sérgio tem para aí uma dúzia de canções que são fantásticas, icónicas, cantantes, colectivas. As outras -- e que me desculpem a heresia -- são, sobretudo, mais do mesmo, meio chatas. Mas a dúzia fantástica, mais as do Zeca que cantou, mais aquelas em que teve a companha do Canto Nono e da Garota Não valeram muito, muito a pena, foi uma festa, uma alegria, momentos de partilha com toda a gente a cantar e a bater palmas para acompanhar.

E depois aquela surpreendente memória do meu marido que sabe a letra de todas as mais antigas, incluindo uma de que não tinha qualquer ideia com letra do O'Neill. Incrível.

Viemos de lá todos felizes da vida.

Claro que, depois, ao entrar no parque do Martim Moniz, todas as portas fechadas... Valeu que outras pessoas ali tinham também o carro e algumas já sabiam que, a esta hora, só pela rampa. Acho que isto para evitar que transformem as escadas mais em casa de banho do que já são de dia.

Só tenho pena de não ter jeito para fazer vídeos de jeito. Por isso, aqui vão os Vampiros no meu mal-amanhado registo e que, lá, foi arrepiante, um momento maravilhoso.


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E uma bela sexta-feira

Saúde. Alegria. Paz.

quinta-feira, março 21, 2024

Tratado sobre a síndrome da ejaculação precoce aplicada à política

 

Ainda os votos estão a acabar de ser contados e já as televisões mai-los seus comentadores se afadigam a comentar a indigitação de Montenegro pelo bizarro Marcelo.

Não sei se vem bebé a caminho e o casório tem que ser encenado às pressas, pela calada da noite, ou quê. 

Se não for isso, não sei que pressa esgalgada é esta de estar a chamar a Belém o putativo indigitado à meia-noite, como se nada pudesse esperar pelo dia seguinte. Só se algum dos dois intervenientes neste insólito rendez-vous nocturno tiver que, a seguir, ir a correr tirar alguém da forca, quiçá no tal beco do chão salgado em que se acertam contas contra quem faz fosquinhas ao dito Marcelo. 

Parece que anda meio mundo com fogo no rabo, o Marcelo a calçar ao Montenegro os sapatos de Primeiro-Ministro, o Pedro Nuno Santos também acelerado, primeiro a cantar derrota ainda a confusão ia no adro e depois, ainda o risonho Montenegro não era mais que putativo, já a propor dar-lhe a mão num putativo rectificativo.

Muito putativismo.

Bom entendimento é civilizado e deve ser apreciado mas também seria bom que nos explicassem porque é que todos estes homens estão tomados pelo síndroma das decisões precoces. O primeiro a mostrar o mal que o tinha acometido foi, lembremo-nos, o fofo Raimundo. Ainda não havia governo, muito menos programa de governo e já ele estava a ejacular a decisão de votar contra.

Mas, a seguir, é vê-los todos a correr para ver quem ejacula decisões mais cedo e mais antes de tempo.

Era bom que nos explicassem a que se deve isto, se é das poeiras do deserto ou se é virose que anda por aí.

Cá por mim, parece que estou a salvo. Até ver só vi isto nos nossos (nossos, salvo seja) políticos-homens. 

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E, no rescaldo da noitada, agora que o Luís nos informou que, daqui a nada vai, quando for espalhar o seu sorriso por Bruxelas já o fará na qualidade de indigitado, o que concluo é que os dois envolvidos na farrinha nocturna de hoje resolveram refrear as hormonas e, para o Luís não cair em descrédito logo no dia 1, ah és mentiroso e tal ou isso que estás a dizer só pode ser mentira, protelaram a tomada de posse para 2 de Abril. Ao menos nisso tiveram tino.

Fiquei ainda a saber que, no dia 2, se calhar o Marcelo também vai dar posse ao feliz Pedro Nuno Santos na qualidade de Primeiro-Opositor. E, até por isso, também é bom ser dia 2 senão a malta ainda achar que era mentira.

Malta pândega, esta.

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Quanto ao tratado sobre a síndrome da ejaculação precoce aplicada à política naturalmente não é aqui que o encontram. Mas sugiro que os mestres da comentação, a saber, Bugalho, Calafate et al (muitos deles colhidos ao calhas à porta dos Jardins Infantis), se debrucem sobre o tema. Mesmo que alguns ainda não tenham conhecimentos na matéria também não faz mal, eles falam do assunto na mesma.

quarta-feira, março 20, 2024

No reino de Kafka

 

Ao fim da tarde, andei a fotografar florzinhas como, por exemplo, as flores da laranjeira, delicadas, cheirosas, os botoezinhos do limoeiro que coexistem com os limões que, uma vez apanhados, exalam um belíssimo odor cítrico, e os frutos, as nêsperas a tingirem-se de dourado, a natureza a embelezar-se para receber a primavera.

Fotografei também o recanto do terraço onde estão os dois pequenos cadeirões e a mesinha que a minha mãe pintou de azul claro, que vieram de casa dela e que têm por trás as hastes arqueadas e floridas do jasmim amarelo.

Ia, pois, falar dos perfumes, das cores, da beleza.

Mas vou antes falar do que tem acontecido comigo e com o meu marido. 

Não quero fazer generalizações, dizer que tudo funciona mal. Não sei, não faço ideia. Posso apenas falar da realidade que conheço e que me toca de perto.

O que concluo do que vou contar, e antecipo já, é que há ainda muito a fazer. E, como sempre, o principal tem a ver com organização. Definir processos ágeis, realistas, eficientes e honestos é sempre o mais importante. Geralmente as empresas ou as instituições tendem a pensar que a primeira coisa a fazer é informatizar, gastar pipas de dinheiro a automatizar -- e isso é um erro, começar por aí é apenas deitar dinheiro para cima dos problemas.

Uma das novas modas e encontro-a nos portais das Finanças e agora constato que é o mesmo no da Segurança Social é decretar que o assunto sobre o qual reclamámos está em análise e, ao decretarem isso, dão a reclamação por resolvida e, portanto, fecham-na. 

Por exemplo, estando um assunto meu por resolver há quase um ano e tendo eu enviado diversas reclamações, estão todas dadas por resolvidas porque escreveram lá que estão na mesma, em análise.

Idem com o meu marido.

Eu conto qual a minha situação, que tem na base a mesma situação que meu marido.

Ambos trabalhámos a vida praticamente toda em empresas, descontando para a Segurança Social. Ambos somos agora pensionistas da Segurança Social. Mas, no início da nossa vida profissional, descontámos para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), eu como professora e ele também como professor e depois na Marinha.

Por isso, quando solicitámos a reforma, pedimos a pensão unificada, ou seja, o somatório das duas parcelas, uma da SE e outra da CGA. Em alternativa, poderíamos receber duas pensões separadas. Preferimos, uni-las. Na altura informaram-nos que não tínhamos que enviar comprovativos dos tempos de serviço inerentes aos descontos para a CGA, pois a CGA tinha lá essa informação. Mas, por via das dúvidas, enviámo-los na mesma.

Passado pouco tempo de termos requerido a reforma, fomos notificados com o valor provisório, isto é, sem a componente da CGA. E foi isso que começámos a receber.

Decorridos 6 meses, recebi uma segunda notificação já com a indicação do valor completo. 

Para quem não sabe, nessa altura recebe-se um conjunto de folhas, frente e verso, com números, fórmulas, cálculos. Diversas parcelas, médias ponderadas, penalizações, bonificações... uma coisa quase impossível de conferir. Os cálculos remetem para os decretos respectivos e só os entendidos na coisa poderão validar tudo aquilo.

Mas, a olho nu, duas coisas chamaram a minha atenção. 

A primeira é que, às tantas, no meio daquela babilónia de cálculos, aparece uma operação aritmética. Agora não estou para ir ali dentro buscar a papelada para aqui pôr os números tal e qual mas imaginem que aparece qualquer coisa como

3.000 x 80% = 2.100

Aparece assim, com o enunciado do cálculo.

Olhei e pensei: estão doidos? O cálculo está errado, o correcto é 2.400.

E depois é o valor errado que entra na sequência de cálculos, portanto fazendo com que tudo esteja mal até ao fim.

Numa outra folha, onde aparecem os valores que vêm da CGA, aparece a data de início e a data de fim dos descontos. E vejo que a data de fim está mal, acaba 11 meses mais cedo. Ou seja, deve influir negativamente nos cálculos e no tempo de serviço.

Liguei para lá a referir aqueles dois erros e diz-me a menina que me atendeu: 'Ah, pois é, se calhar a minha colega que tratou do seu processo enganou-se...'.

Fiquei de boca aberta. Julgava que tudo aquilo era automático, que não haveria margem para erros humanos. 

E diz-me ela: 'Mas o que tem que fazer é apresentar uma reclamação, expondo esses erros.'

Assim fiz. No 1º semestre do ano passado. 

E nunca mais nada.

De cada vez que ia ao portal e apresentava reclamação por não ter resposta à reclamação (e voltava a repetir as minhas razões), recebia a resposta de que estava em análise e pimbas, reclamação dada por resolvida.

Mandei mails, telefonei, coloquei reclamações. Nada.

Hoje resolvi não largar.

Quando se liga para estes sítios, a gente tem que ir com paciência, determinação... e muito tempo pois vai marcando os números correspondentes ao assunto, se quer isto digite 1, se quer aquilo o 2, etc, e depois de estarmos para ali a escrever números, esperamos, esperamos pois aquilo toca, toca, toca, e nada. Até que a chamada cai.

Mas tanto insisti que finalmente fui atendida. A senhora disse-me que a Segurança Social é a porta de entrada mas que os cálculos são da responsabilidade do Centro Nacional de Pensões (CNP) pelo que iam transferir a chamada. E aqui novo castigo: toca, toca, toca até que se atinge o tempo limite e a chamada cai automaticamente.

Continuei a insistir.

Finalmente, do CNP atenderam. Sim, viam que o assunto estava em análise. E que, portanto, eu teria que esperar. Disse-lhe que daqui a nada há um ano que estava em análise e que me dissessem o que é que estava a emperrar, se havia algum problema, se haveria alguma coisa que eu pudesse fazer. Ela leu o teor da reclamação. Disse: 'Mas é que o assunto tem duas coisas: uma é um cálculo que você diz que está errado e outra tem a ver com a CGA. Por isso, temos que esperar que eles digam alguma coisa.'

Perguntei: 'Mas do CNP já enviaram o pedido para a CGA?'

A senhora disse: 'Devem ter enviado porque aqui o que tenho é que está em análise.'

Ainda tentei que tentasse ver em que data tinham enviado o pedido para a CGA. Disse-me que isso não conseguia saber.

Resolvi, então, ligar para a CGA. Já com aquilo quase a fechar fui atendida por um senhor muito simpático. Para meu espanto disse que não havia nenhum pedido da CGA relacionado comigo, nada. 

Quando me mostrei espantada e sem saber o que fazer, sugeriu-me que eu enviasse um mail para a CGA a dizer que no CNP me tinha informado que estavam à espera da resposta da CGA. E que eles me responderiam que ninguém lhes tinha pedido nada.

Lá mandei o mail, e acrescentei, de minha lavra, que fizessem o favor de verificar aquilo das datas e que informassem o CNP das datas correctas.

Não sei se o farão nem sei quando é que este nó estará desfeito. 

Uma coisa aparentemente tão simples...

No caso do meu marido, ainda está um passo atrás, pois a mim já juntaram a parcela da CGA, penso que errada mas já estão a pagá-la. Ao meu marido nem isso. Ainda está apenas com a pensão provisória pois ainda não juntaram a parcela da CGA. Já fez a mesma coisa: reclamações, mails, telefonemas. 

Até que hoje também não desarmou. Na SS, disseram-lhe que o tema está no CNP. Ligou para o CNP: que estão à espera dos cálculos da CGA. Ou seja, a resposta de sempre: o assunto está em análise. 

Então ligou também directamente para a CGA. E, para espanto dele, a resposta é que não fizeram nada porque não lhes enviaram os comprovativos. Ora quer no pedido da pensão quer nas reclamações e mails ele juntava sempre os comprovativos. E isto apesar de nos dizerem que não são precisos. Mas... se agora, afinal, são precisos e não os têm, então não pedem...? E da CNP não estranham passarem meses sem resposta e não questionam a CGA?

Lá enviou um mail para a CGA com os ditos comprovativos.

Vamos ver qual a evolução. Mas é asfixiante. Uma pessoa esbarra em paredes, parece que não vai conseguir furá-las, parece que fica sem saber o que fazer, parece que fica a descrer de alguma vez conseguir resolver os assuntos.

Como aconteceu com a minha mãe. Porque tinha insuficiência cardíaca, porque tinha sido operada a cancro do cólon e mais uma série de coisas, a médica de família tinha-lhe feito um relatório médico que ela enviou para a Segurança Social, para efeito de qualquer coisa chamada Multiusos, que lhe daria direito a ter algum desconto no IRS. Enviou no início de 2021. Responderam que agendariam uma inspecção numa Junta Médica. O tempo ia passando. Volta e meia eu mandava um mail para lá a saber como estava aquilo. Respondiam que se tinha atrasado tudo com a Covid, que esperasse. E o tempo passando. Para aí em Novembro, numa altura em que a minha mãe estava pior, mandei um mail a dizer que o estado de saúde da minha mãe se agravava e que já lá iam 2 anos e tal. Ligaram-me no dia do velório para, então, agendarem uma Junta Médica. Dei-lhes a notícia: tarde demais. Poderiam, ainda assim, ter emitido um relatório pois ainda há que pagar o IRS de 2023. Mas não. Morreu, morreu, azarinho, fecha-se o assunto e é menos um assunto em aberto .

Provavelmente haverá mil razões: falta de organização, falta de pessoal, falta de formação do pessoal. Mas que isto deixa os cidadãos a quem acontecem situações destas a sentirem-se impotentes e desanimados, lá isso deixa...

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Mas não quero que isto abale os meus alicerces, muito menos a minha boa disposição. 

Portanto, que entre o talentoso Jacob Collier (com Tori Kelly)

Witness Me


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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Pachorra e ânimo. Paz.

terça-feira, março 19, 2024

Uns comentadores comentam o que diz o Ventura e o Marcelo, outros comentam o baptizado da neta do Castelo Branco e o Bruno de Carvalho responde à letra a um tal Miguel Azevedo - aparece de tudo um pouco.
Portanto, com vossa licença, opto por aqui trazer a subida do populismo explicada pelo S. Pappas

 

Entre assuntos burocráticos em que, como é costume alguém me liga e dá o assunto por acabado dizendo que falta ainda um outro papel (juro: hoje aconteceu outra vez!), e telefonemas exacerbados envolvendo um senhor das obras e as limitações existentes e tudo uma confusão pegada, eu só a querer paz e descanso e a falarem-me no tubo das águas pluviais e na prumada e em mais não sei o quê e o esgoto do outro lado e uma infiltração ou entupimento não sei onde, vá lá a gente entender alguma coisa, e, ainda, entre acabar um trabalho e deitar um olho ao que por aí se diz, pego no computador já perto da uma da manhã e sem cabeça para grandes divagações.

Apelo, pois, à vossa habitual condescendência.

Por entre votos perdidos, estragados, envelopados. desenvelopados e o diabo a quatro, continuamos sem saber como é que o sarilho arranjado pelo Marcelo vai acabar. Pelos vistos, ele também não e, por via das dúvidas, parece que também não se rala muito se não cumprir a Constituição. Eu, que não sou letrada em leis, só tenho para mim que, no meio da confusão, é prudente a gente agarrar-se a algumas bóias de salvação, a saber: a Constituição, as boas maneiras e o respeito pela inteligência dos outros.

Mas parece que, no meio da enxurrada populista, a malta já está toda numa de caguar para essas minudências.

Claro que também não consigo instruir-me com a chusma de comentadores que andam a dar à costa: raia miúda, carapauzinho pingão, de tudo aparece. É vê-los, com ar entendido, a dar lições de tudo o que calha. Política, Constituição, Fait-Divers a fazerem de conta que são História. Tudo. Ainda há pouco. 

Mas, ao fazer zapping para ver se fugia, à pressa, eis que, sem aviso prévio, me aparece a diva Castelo-Branco a arrastar a sua Senhora Dona Lady, depois os convidados a dizerem o que levavam vestido e que presentes iam dar à menina Constança, neta do avô que estava aperaltado na versão gaja produzida para baptizados. E no estúdio, como comentador, o Bruno de Carvalho, esgargalado e sem meias, a falar na qualidade de músico, compositor, letrista, produtor, cantor, ou seja, ecléctico artista do mundo do espectáculo. Portanto, I rest my case. Ou seja, santa paciência: aos costumes digo nada.

E, assim sendo, com a vossa licença que, desde já, agradeço, passo a palavra a Takis S. Pappas que até usa bonequinhos para a gente perceber melhor. Útil. Dá para pôr legendas em português. 

The rise of modern populism


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Um dia feliz

Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, março 18, 2024

Despediu-se da vida o Poeta.
Mas nós, que ainda estamos vivos, não nos despedimos da sua poesia.

 

O que é a poesia? Poder-se-ia redigir como se fosse prosa e continuar a ser poesia? Tem a ver com a forma como se lê? As pausas, a melodia da ligação entre as palavras? Ou não, é poesia mesmo quando espera, silenciosamente, que alguém a leia? Ou o que a distingue da prosa são as ideias destiladas, marcadas pelo silêncio e pela intemporalidade?

Não sei.

Que venha alguém defini-la. Eu não sei.

Soube da morte de Nuno Júdice e fiquei abalada. Não sabia que estava doente. Li que morreu de cancro, no hospital. Quem morre assim, creio eu, morre sempre da mesma maneira: a debilidade a tomar conta do corpo, o tempo a esvair-se. Estaria provavelmente no corredor que quase me apetecia apelidar de corredor da morte, aquele em que já não se trata da cura mas, tão-só, do bem estar, do bem-estar possível, do alívio... Provavelmente a família passou pelo mesmo que eu, e provavelmente toda a gente que acompanha doentes nestas circunstâncias, querendo transmitir alguma esperança ou optimismo mas não sabendo como, pois estamos formatados para não mentir, muito menos aos nossos pais ou àqueles que amamos. E ele provavelmente a ver que os familiares queriam encontrar palavras de ânimo e a saber que essas palavras já não faziam falta.

Quando morre uma pessoa que está nessas circunstâncias, aqueles que os amam pensam: 'descansou', 'já não sofre mais'.

Terá acontecido também com ele. Descansou. E o descanso de um Poeta é sempre inegavelmente merecido pois, ao longo da vida, um Poeta semeia, planta, apara, oferece ao mundo poemas que são flores que não morrem, que para sempre acompanharão os que ainda cá estão e todos os outros que vierem a seguir.

Numa sexta-feira, dia 22 de agosto de 2008, pelas 10:26 da manhã, Nuno Júdice escolheu a imagem abaixo e publicou o poema "Domingo no campo". Escolho-o ao acaso entre tantos mas deixo o caminho para muitos outros: A a Z

E leio devagar, devagar, devagar.


Aos domingos, quando os sinos tocam

de manhã, o que neles se toca é a manhã,

e todas as manhãs que nessa manhã

se juntam, com os dias da infância que

nunca mais acabavam, as casas da aldeia

de portas abertas para quem passava,

as ruas de terra batida onde as carroças

traziam as coisas do campo, os cães que

corriam atrás delas, uma crença no sol

que parecia ter expulso todas as nuvens

do céu, e a eternidade desses domingos

que ficaram na memória, com o ressoar

dos sinos pelos campos para que todos

soubessem que era domingo, e não havia

domingo sem os sinos tocarem a lembrar,

a cada badalada, que os domingos não

são eternos, e que é preciso viver cada

domingo como se fosse o primeiro, para

que o toque dos sinos não dobre por

quem não sabe que é domingo.

posted by Nuno Júdice @ 10:36

domingo, março 17, 2024

Porque ele há coisas, há quem goste e quem não goste.
Veja-se o caso da colecção de arte dos Anderson

 

Como podemos pretender interpretar o que nos rodeia da mesma maneira se, perante uma mesma coisa, temos reacções tão diferentes?

Às vezes pasmo com comentários que recebo*. Posso estar, em meu entender, a ser obviamente irónica e logo me aparece alguém a interpretar tudo ao contrário e a achar que estou a gozar com maleitas alheias. Fico de boca aberta. Mas como? Não perceberam que o tom era de ironia? Serei tão pouco hábil na escrita? Terei que intercalar smiles para que percebam que é brincadeira? Ou quando ironizo sobre as adivinhas que se fazem em torno do desparecimento de alguém e há quem que se ache mais esperto que outros e, porque leu ou ouviu umas aqui e outras ali, já acha que sabe tudo e aparece como se estivesse a dar-me uma chazada por achar que mostrei não ter compreensão...? Fico de olhos arregalados. Mas como...? 

A nível político, então, é o pão nosso de cada dia. Digo uma coisa, interpretam o oposto e aparecem a mandar bocas. Gostam de tresler? Ou não sabem ler? Frequentemente é isto: eu acho que estou a dizer potato e logo alguém aparece a mandar vir porque acha que eu disse tomato

Coisas assim.

Fazer o quê?

Temos que aceitar que o mundo é diverso e que há lugar para todos. Portanto, aceitemos que, para alguns, falamos uma língua estrangeira ou aceitemos que, porque vivem uma vida diferente da nossa, nos acham, a nós, estrangeiros. Aceitemos.

É como na arte: no outro dia uma conhecida mostrava pinturas que acha excepcionais. E eu, atrapalhada, sem saber o que dizer. A mim parecia-me tudo tão básico, tão horrível. Jamais, mas jamais, seria capaz de pendurar uma coisa daquelas na minha casa. Não que não fosse uma espécie de reprodução realista de paisagens ou de retratos de pessoas a quem tivessem sido aplicados filtros de saturação de cores ou de contraste para ficar tudo absolutamente 'perfeito'... Só que, para mim, uma coisa do mais piroso que existe. Fiz uma ginástica do caraças para não deixar perceber que achava tudo aquilo detestável.

Em contrapartida, se mostro aquilo que a mim me agrada, é inevitável que alguém desate a rir como se aquilo até o filho ou o neto de cinco anos fosse capaz de fazer, e de olhos fechados. Como explicar que não gosto de coisas óbvias, que não gosto de coisas 'perfeitas'? 

Mas posso eu achar que o meu gosto é melhor que o gosto de quem gosta de coisas que acho um pavor...? Não posso.

Mesmo aqui nos blogues, há quem os tenha com letras de todo o tamanho e feitio -- umas inclinadas, outras a bold, umas pequenas, outras grandes, umas às cores, outras aos saltos -- e tudo intercalado com bonecada que, a mim, me parece básica e de mau gosto. E, no entanto, para os autores e para os amigos, aquilo deve ser o máximo. E, se calhar, é. Para eles, deve ser. É subjectivo, isto. Nada mais subjectivo que o gosto. Portanto, tudo certo. Não os frequento porque me incomoda o que a mim me parece mau gosto e, naturalmente, não vou lá 'mandar bocas'. Sou civilizada e respeito os outros e, daquilo de que não gosto, faço uma coisa muito simples: afasto-me.

Agora, confesso, faz-me confusão que haja quem viva bem consigo próprio ocupando o seu tempo a ser desagradável para os outros. Mas, enfim, é o que é. Há gente para tudo.

Também por isso é que os resultados das eleições são para mim, por vezes, algo difíceis de perceber. Porque é que há tanta gente que vota em partidos que defendem medidas que lhes vão ser prejudiciais? Ou porque é que, perante a responsabilidade de escolher pessoas que nos representem, haja quem as escolha apenas para desestabilizar e causar ruído? Não percebem o risco?

Tudo um pouco bizarro. Os antropólogos ou os sociólogos -- ou mesmo os filósofos (e, se calhar, também os psicólogos, nomeadamente os especializados em psicologia social) -- que estudem estes fenómenos.

Eu, por mim, limito-me a render-me às evidências.

Agora uma coisa vos conto: gostei imenso de ver este casal aqui abaixo. Fantásticos. O que eles têm escolhido, coisas tão 'fora da caixa', o que eles têm, tantas obras e tão interessantes... E a generosidade deles... E, no entanto, o que não deve faltar deve ser gente que ache que aquelas obras não valem nada... e que os gestos deles pouco valor têm...

Mas é o que é.

Convido-vos a ver. E espero que se maravilhem como eu me maravilhei.

Anderson Art Collection to Open at Stanford

A new Bay Area art museum will open its doors this fall at Stanford University to showcase a who's-who of American post-war greats, including a large sampling of modern California masters. The works are a gift from Bay Area collectors Harry and Mary Anderson. KQED Newsroom visited the Andersons in their home to see what it's like to live in a house full of masterpieces — and why they're sharing their acclaimed collection with the public.


Nota: Lá em cima (*) refiro-me a comentários que me deixam de tal forma estupefacta que nem os publico. Não gosto de ter conversa tóxica aqui a incomodar quem os lê.
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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Paciência. Paz.

sábado, março 16, 2024

Onde se fala das manhas do e-Balcão, de um arroz de salmão com mistura mexicana, das ceninhas que envolvem a Kate e demais realeza e dos desatinos do Marcelo

 

Não tenho muito para dizer nem sobre o que se passa no mundo nem, tão pouco, na minha simples e little vidinha.

Posso talvez dizer que começa a ser um padrão: faço uma exposição via e-Balcão e, no dia seguinte de manhã, ainda estou a acordar, liga-me um funcionário das Finanças. Sério. Uma vez mais. Aquilo da impugnação, que ele me tinha aconselhado, afinal não mereceu aprovação por parte dos colegas, ele acha que impugnação é que deveria ser mas não é ele que manda, e, portanto, arquivaram-na e deram o assunto por concluído. Mas já tinha visto que eu tinha mandado uma coisa via e-Balcão e iam responder, se calhar, indeferir mas que eu depois podia reclamar e aí a coisa já ia para um patamar acima e até pode ser que lá mais acima arranjem uma solução. Disse-me ele. Quando, mais tarde, vi a caixa do correio, lá estava um mail da AT dizendo que o assunto tinha sido concluído e que poderia saber como no Portal. Fui ao Portal. Lá estava: concluído. Abri para ver o pormenor: vão examinar e depois logo respondem. 

Espertos, eles. Em vez de colocarem em análise, que é o que, de facto, aparentemente está, até para alguém, lá do serviço, monitorizar quanto tempo os assuntos estão em análise, não senhor, ligam para a pessoa a dizer que vão ler o que mandaram e, mais rápidos que a própria sombra, dão o assunto por concluído. Não me parece lá muito bem.

Houve uma outra coisa que também não correu lá muito bem. Pensei que o tempo estava a levantar e insisti para que estendêssemos a roupa lá fora, no estendal a céu aberto. O meu marido achava que não, que ainda nos arriscávamos a que ficasse mais molhada do que estava ao sair da máquina. Não fui nisso, achei que com aquela pontinha de vento, quando chegássemos a casa, estaria ela seca.

E fomos caminhar. Como se costuma dizer: fui de corpinho bem feito. Nem chapéu de chuva nem impermeável. À fresca e na base da confiança. O meu marido foi mais prevenido. 

Ora bem. Quando estávamos no ponto mais longínquo do passeio desata a chover. Mas a chover... Cheguei a casa toda molhada. Eu e o cão. O meu marido tinha um impermeável, nem por isso. Mas a roupa, no estendal, pingava. Felizmente, o meu marido não me atirou com o tema à cara.

E todo o resto do santo dia foi assim, uma chuvinha contínua não tão forte mas maçadora, molha tolos.

Como não me apetece falar dos assuntos do dia, conto apenas como é que, à falta de melhor alternativa, fiz um arroz de salmão que calhou sair tão bom que comemos ambos mais do que devíamos.

Num tacho coloquei azeite. Cortei grosseiramente duas cebolas que lá coloquei, deixando fritar um pouco, não muito. Juntei salsa e coentros e fui envolvendo e frigindo. Depois juntei umas quatro cenouras médias às rodelas grossitas. Agora não descasco as cenouras, só lavo. Como não tinha tomates frescos, coloquei uma latinha das pequeninas de tomate inteiro. Envolvi, deixei que os sabores se misturassem. Juntei um bocado de água e um pouco de mistura mexicana congelada (tem cenoura, milho, feijões e mais não sei o quê). Misturei ainda quatro bolas de espinafres congeladas. Juntei uma folha de louro e uma haste de alecrim fresco. Juntei um pouco de sal e mais um bocado de água. Depois de levantar fervura, baixei. Ficou ali a cozinhar até perceber que a cenoura estava cozida. Nessa altura juntei água a ferver para, no conjunto ficar com sensivelmente o dobro da quantidade de arroz. E juntei o arroz. Misturei tudo e, por cima, coloquei três lombos de salmão. Juntei também uma maçã, com casca (mas sem o caroçal) aos cubinhos. Depois de levantar fervura, baixei. Quando o arroz ficou cozido, desliguei. Estava feito.

Dá para duas refeições, no mínimo. Se depois de comermos a segunda vez ainda sobrar um bocado de arroz, mexo ovos e, com salada, ficaremos bem.

Tirando isso, que mais?

Só se for para dizer que aquilo lá para os lados da Kate Middleton parece que está complicado. Depois da chatice da cirurgia misteriosa, dizem que aos intestinos, órgão plebeu por natureza, e depois das bocas dos internautas e da population em geral, agora publicou uma fotografia de família que as agências de imprensa mandaram retirar por ter sido mal engenhocada, obrigando a pobrezinha a fazer sair um comunicado a confessar-se amadora na manipulação de imagens, fazendo com que já se pergunte se a monarquia vai aguentar tanto mistério e tanta coisa destas.

O pobre do rei a fazer tratamentos por causa do cancro que se lhe descobriu, a Kate nestas alhadas, o William não se percebe se a tratar da mulher e dos filhos ou a encontrar-se com aquela que dizem ser a sua amante, e Camilla, sem estar para dar mais pão para malucos, foi passar férias a Espanha. Portanto há quem se interrogue se há alguém ao volante. Como se eles, os royals, fizessem alguma coisa para além de aparecerem e serem simpáticos. E eu, republicana até à medula, dou por mim a interrogar-me: é melhor isto ou um Marcelo que só faz o que lhe dá na bolha, aparentemente marimbando-se para a Constituição, para o decoro e para o bom senso?

E, pronto, nada mais tendo a declarar, vou pregar para outra freguesia.

Bom fds, malta.

sexta-feira, março 15, 2024

Por entre os meandros da insaciável máquina

 

Continuo ensarilhada com os meus temas burocráticos. Claro que sarilhos de barriga cheia são como aquilo da pimenta no cu dos outros. Acho eu. Estou com a cabeça desmiolada e já nem sei bem o significado das coisas.

O terreno, o célebre terreno do Algarve, tem-me dado bastante trabalho. Se não estivesse como estou, contava. É que é digno de ser contado. Até às sete e quarenta da noite me ligaram da Câmara de lá para me explicarem o que faltava no pedido que eu tinha feito. Eu que me tinha esmerado, que tinha tido uma trabalheira, afinal não tinha feito o que, para eles, era básico. E nessa noite, ao longo de horas, rabiei até conseguir entender-me com a ferramentaria geocomputacional e parir as plantas do bendito terreno, conforme a simpática senhora me tinha ensinado. Até a carta militar eu conseguir dar à luz.

Conclusão, estava eu hoje ainda na cama e já estavam a ligar-me para saber se a reunião agendada com o arquitecto podia ser com outro e ser já. Reunião? Antecipar a reunião? E eu na cama... Felizmente era por telefone. Ufff. Aceitei.

Isto tem várias peripécias pelo meio mas atalho: não dá para lá construir nada, metade está numa reserva de um certo tipo e a outra metade numa reserva ainda melhor. Portanto, estão a ver. Ao fim de mil anos, um terreno, que ainda se está para ver como pode vir para o nosso nome, e em que não dá para fazer nada... Coisa jeitosa.

Quanto à casa, continua a embrulhada. Na repartição sugeriram que, no portal, eu fizesse uma impugnação administrativa. Assim fiz. Todo um número. Esmerei-me, juntei comprovativos, um brinquinho. Fiquei com comprovativo. 

O tempo passava e nada. Fui lá ver. Pois bem. Arquivaram-na porque eu, ou alguém por mim, não fiz uma coisa qualquer que era suposta. Coisa essa que não faço ideia do que seja e que lá não explica. Arquivaram e bye bye. 

Uma impotência. A gente a querer resolver os imbróglios e nada, cabeça numa parede, cabeça noutra. Isto porque ando eu a querer resolver. Mas estou a começar a convencer-me que não devo conseguir. Provavelmente tem mesmo que ser um advogado ou um solicitador. Mas porquê, caraças?

Com aquilo do imposto de selo para comunicar às Finanças outra tourada. Sistema novo, pouco user friendly. Ligo para lá e cada um, simpatiquíssimos por sinal, diz sua coisa. Todos convergem: ninguém se entende com aquilo, mais vale fazer à antiga, ou pelo e-balcão ou presencial.

Lá me esmerei, lá imprimi impressos, preenchi, fotografei, reduzi a resolução, inseri tudo num único documento cuja dimensão em Mb é limitada, compus aquilo para ficar apresentável. Tudo um bocado trabalhoso. Muito expediente. Muita maçada. Ao menos a ver se resulta. Caraças.

No meio disto, uma pequena vitória. Há muito que imaginava um espelho grande aqui no exterior, mais propriamente no terraço. O meu marido revoltado com estes meus gostos que passam por ter que fazer uma coisa que odeia: furar paredes. Segundo ele, não é furar, é estragar paredes.

Uma luta.

Quando se convenceu, conseguiu ele uma vitória. A parede tem capoto e caixa de ar. Ou seja, a broca primeiro apanhou aquela coisa que parece esferovite, depois apanhou ar. Portanto, decretou: impossível.

Mas, como não sou de desistir, fui tentando arranjar soluções. E ele foi ficando mais calmo. Acertámo-nos: seria pendurado no tecto do telheiro, encostado à parede. Comprámos grandes camarões, comprámos umas correntes. Com uma escada encostada à parede, com uma broca gigante, lá tratou do assunto. Já está. Acho lindo, lindo, lindo. Reflecte o jardim, reflete a luz. 

Só espero que não caia pois é grande e pesado...

E, tirando estas coisas de nada, pouco mais tenho a relatar. Um dia destes logo conto da conversa com aquele amigo com quem estivemos e cuja actual companheira está parecida com a primeira mulher, deixando-me, assim de chofre, um bocado baralhada. Depois, já só eu e o meu marido, ao comentarmos, pensava o meu marido que esta era aquela por quem ele tinha deixado a mulher. Tinha-se esquecido que, a seguir a essa, ele tinha-a trocado por outra. Mas foi uma conversa animadíssima pois esse amigo continua como sempre foi, um divertido bon vivant que nada derruba, nem o cancro que teve lhe causou mossa. Joie de vivre é com ele. 

E, pronto, hoje fico-me por aqui que isto já não são horas. Lá está, como um Leitor ou Leitora ou Leitor@ me lembrou, isto da PDI é uma coisa tramada, uma pessoa chega a esta hora e já não atina.

Beijinhos e abraços para todos e o que eu estimo é o que eu desejo.

quinta-feira, março 14, 2024

Tempo para os deixar poisar


Há coisas que a gente pode ser levada a pensar que são objectivas, inequívocas. Mas não. Do mais subjectivas e flexíveis que há. 

Para começar, a saúde. Perante a mesma situação, cada médico diz a sua coisa. Uma pessoa pode ficar sem saber para que lado se há-de virar. Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo. Já fiz artroscopia porque, segundo o ortopedista, era imprescindível, e já ouvi vários médicos dizerem que tinha sido uma estupidez, que não havia qualquer critério para isso. Sobre a conclusão que se retirou da observação lá dentro, as conclusões foram igualmente díspares, contraditórias. E as recomendações para a prevenção de crises são igualmente para todos os gostos. Parece mentira mas é verdade.

Outra coisa que é que tal e qual é a legislação. Dir-se-ia que deveria ser fraseologia destinada a regular a existência, sem desvio, sem equívocos. Mas não. Por cada frase é preciso ouvir um monte de juristas e cada um fará a sua interpretação. 

Perante a questão do dia, se o que vale é a coligação ou se é cada partido que a compõe, já ouvi de tudo. E confesso que não sei quem tem razão pois os constitucionalistas opinam como tendo conhecimento de causa, mesmo para defenderem posições contrárias e eu, pobre de mim, sou leiga na matéria.

Também há aquilo de ainda faltarem os votos dos emigrantes que, face à escassa diferença existente, poderem vir a alterar os resultados, em especial se o que valer for a contagem dos partidos e não a da coligação.

Contudo, entre as opiniões de uns e outros, Marcelo já começou com as audições. Não faço ideia se faz bem se faz mal. Diria que, uma vez mais, está a falar antes de pensar. Mas isso sou eu.

Mas que está aqui um caldinho, está. Marcelo, na ânsia de correr com o PS, fez de tudo para o concretizar. Sempre embrulhou as suas intenções na desculpa da estabilidade. Mas sempre foi ele o principal agente de instabilidade e, como se isso não fosse suficiente, este seu lindo serviço da dissolução da Assembleia da República conduziu ao que se vê, um resultado que é do mais assimétrico e instável que há. 

Tal como tenho aqui dito, face ao ponto a que chegámos, se entramos todos em histeria -- cada um a espingardar para seu lado -- não vamos a lado nenhum.

O PCP, como sempre sem perceber nada do que se passa à sua volta, já nos presenteou com uma rejeição precoce. Ainda a coisa não começou e já eles estão a (não direi a ejacular mas a...) disparar. 

É que, em termos concretos, ainda ninguém sabe a composição do Governo e, muito menos, o seu programa. Mas isso não é coisa que incomode o bom do Raimundo que, por via das dúvidas, já anunciou que vai avançar com uma moção de rejeição. Por causa das tosses, diz ele (ou se não é por causa das tosses é por causa de outra coisa qualquer).

A Mortágua, bem longe da imagem de sombria cruella, parecendo querer que a gente se esqueça dela armada em vingadora e dominatrix, aparece-nos agora toda sorrisos e vestuário colorido, patética, a bandear-se, armada em chefe das cheerleaders da esquerda. É vê-la por aí a lançar desafios aos que ela acha que podem, com ela à frente, animar os saudosos da geringonça. Caso para dizer que já o carapau tem tosse. Não percebe que, o mais que faz, é estatelar-se ainda mais perante o eleitorado que, em tempos, lhes deu algum crédito. 

O PS parece que lhe disse que sim mas espero que tenha sido só por uma questão de boa educação e, sobretudo, por inexperiência. É que não sei se o PNS já aprendeu a mandar banho ao cão por outras palavras ou se ainda tem que comer muito pão com broa. Mas o Raimundo, um fofo, tão naïf, parece que a levou a sério e disse que sim. Sim... mas calma aí. Sim mas só se a Mortágua não estiver a pensar passar-lhe a perna, dilui-lo. Essa é que era boa, diz o Raimundo a fazer biquinho de valentão. Ora. Aprendam com ele.

Atilado, como tem sido seu apanágio, o Livre. Valha-nos isso.

Do outro lado, a IL já saltou fora do que poderia ser uma aliança alargada, AD+IL. Palpita-lhes que a coisa pode não ir longe e não querem ficar conotados.

E o Ventura, por seu lado, desdobra-se em entrevistas em que, perante a opinião pública, se mostra como o santo pronto a sacrificar tudo para o deixarem sentar-se à mesa dos grandes. Diz que, se for preciso, cede em tudo. Na prática, pretende encostar a AD à parede: ou a AD aceita negociar com eles ou chumbam-lhes os Orçamentos. Mas, claro, tudo a bem da estabilidade.

Felizmente o PS tem estado sereno, a ver no que isto vai dar. Só espero que aproveitem o compasso de espera para reflectir, para se reorientarem. 

Portanto, resumindo e repetindo-me. Moral da história: é deixá-los poisar. Isso é que é inteligente. 

Entretanto, partilho um vídeo que me parece interessante.

It doesn’t matter if you fail. It matters *how* you fail. 
| Amy Edmondson for Big Think +


Desejo-vos um dia bom

Saúde. Inteligência. Paz.