domingo, maio 20, 2018

Ai flores, ai flores da bela praia, sabedes porque é que eu tanto peco?






Então vá, não há muito para contar, mas conto. Fomos à praia. Boa. Uma maresia perfumada e um ar bem temperado. Muita gente no areal, alguns corajosos na água, muita gente a surfar as tranquilas ondas.

Ainda não estreei o fato de banho. Ficámo-nos pelo passeio à beira-mar. Fotografo, encanto-me, contemplo. Como habitualmente o meu marido arrelia-se. No outro dia falei nisto e a L., leitora simpática com muita coisa em comum comigo, escreveu-me e disse dele: 'É um santo'. Não é. Felizmente não é. E tenho como comprová-lo. Conto. Estava eu, extasiada perante a perfeição das florzinhas que despontam na areia, e ele: 'Nao dá. Não consigo andar assim. Para que é que estás sempre a parar, pá?!' e eu, desvalorizando a sua arrelia, ironizei 'To capture the beauty of life' e vai ele, alma insensível perante a beleza da vida, ripostou: 'The beauty of life, os tomates'. 

Ora, não vejo que um santo fale assim. Um santo entoaria uma canção celestial louvando the beauty of life em vez de desviar a conversa para um fruto com tão dúbias conotações.


Mas lá continuámos, caminhando ao sol, eu aspirando aquele oxigénio limpo e azul, ele protestando e chamando por mim.

Depois juntámo-nos à minha filha e aos meninos, grandes, grandes, sem medo da água fria, felizes da vida, brincalhões, sempre cheios de sentido de humor e de fome.

O lanche foi em casa dos meus pais. 
Tinha umas calças minhas e uma blusinha de um tempo em que, não sei como, cabia lá dentro. Agora, apesar de estar mais leve do que há uns idos, já assimilei que não mais voltarei a ter corpinho número trinta e oito e, portanto, levei-as para a minha filha. Gostou mas as calças estão-lhe bem nas ancas e nas pernas mas largas na cintura. É uma beldade elegante, a minha filha, com cinturinha fina. Ficaram lá, para a minha mãe apertar que, para além de outros dotes, tem este de costurar às mil maravilhas.

Mas, como dizia, os meninos são uns lobos. O mais novo, quando abriu a porta da casa de jantar, veio a correr alertar-me: 'Há menos comida do que nas outras vezes...!'. A minha mãe sossegou-o: 'Estão ainda coisas na cozinha e no frigorífico'. O menino e o mano respiraram de alívio.

E eu acrescentei: 'Mas hoje também somos menos'. De facto, do lado do meu filho havia casamento, um casamento também muito mediático -- mas, claro, mediático à nossa escala. Entretanto, já me enviaram fotografias dos noivos, da noiva com o seu belo sorriso e um bouquet mesmo bonito, outra com o meu mais crescido, cinco anos, dançando com a noiva, e um vídeo da minha linda menina dançando freneticamente, e fotografias de convidados super mediáticos. Mas não posso revelar aqui nada porque cumpro religiosamente com todos os preceitos do RGPD.


Mas, então, comeram que nem uns lambões: fofinhas com queijo e fiambre, crepes com chocolate e morangos, bolo de agrião coberto de chocolate (novidade a partir de receita que a fisioterapeuta que lá vai a casa tratar do meu pai deu à minha mãe), palitos de bolacha crocante.

Eu tentei moderar a gula mas acabei por ceder. São as muitas excepções que, sem querer, vou abrindo que não me deixam voltar ao 38. Mas vida sem a gente ceder às tentações tem alguma graça? Eu acho que não. Nasci para pecar.