sexta-feira, janeiro 12, 2018

Lagostas devem fumar canábis antes de serem metidas no tacho.
É uma sugestão extensível a amêijoas, caracóis e outros bichos móis.


Atenção. Sou contra o sofrimento dos animais. E que ninguém venha tresler o que estou a dizer porque a leitura é única: sou contra.

Mas tenho alguns pecadilhos na consciência, confesso. Por exemplo, tenho mixed feelings em relação a touradas porque gosto do ambiente da festa, gosto da destreza e elegância dos cavalos no toureio, gosto (e assusto-me) da coragem algo tresloucada dos forcados, percebo o apelo do confronto entre o homem e a fera. No entanto, custa-me ver o atordoamento do touro, custa-me ver o dorso sangrando, custa-me ver, em Espanha, o touro vergado, exibindo uma morte humilhante mas que é vivida de forma apoteótica pelos aficcionados. Não vou a touradas ao vivo mas, na televisão, volta e meia vejo -- e gosto -- e os sentimentos contraditórios são os de sempre. 

E cães e gatos. Não concebo que alguém os maltrate. E aquilo de que já falei: galinhas e patos. Gostava de ter animais lá no campo. Mas seria incapaz de os matar ou, sequer, de ver matá-los. 
E ainda me lembro com um misto de horror e divertimento da vez em que, tendo na altura galinhas numa capoeira que o meu pai tinha feito no quintal e tendo ele que ficar a trabalhar até tarde, incumbiu a minha mãe de matar uma galinha. Foi um festival. Eu deveria ajudá-la mas mal a galinha esbracejava ou gania, eu largava a fugir em vez de ficar com a tigela a aparar o sangue. E a minha mãe gritava e deixava a galinha a cada guincho que a galinha dava. A pobre galinha toda ensanguentada, a querer fugir de nós, a cabeça já meio off, e  nós, cheias de medo, aos gritos, a querermos fugir dela.
Portanto, que não se pense que sou uma alma empedernida. Nada disso. Um coração de manteiga, o meu.

Mas há maus tratos nos quais nunca tinha pensado. Isto das lagostas na Suiça deixou-me banzada. Atordoar as lagostas antes de as transportar em gelo ou de as cozinhar...? Caneco.

Transcrevo uns excertos da notícia:
O Governo suíço proibiu a prática de cozer lagostas frescas e também vai deixar de ser permitido fazer o transporte destes animais vivos sobre gelo ou em água gelada.
Os defensores dos direitos dos animais e alguns cientistas argumentam que as lagostas e outros crustáceos possuem sistemas nervosos sofisticados e, provavelmente, sentem dor significativa quando são cozidos vivos.
De acordo com a emissora pública suíça RTS, "as lagostas terão de ser atordoadas antes de serem mortas" e apenas o choque elétrico ou a "destruição mecânica" do cérebro da lagosta serão considerados métodos aceites de atordoar os animais antes de serem cozinhados.
Em Itália, o Supremo Tribunal também decretou, em junho do ano passado, que as lagostas não podem ser mantidas vivas sobre gelo nos restaurantes, antes de serem cozidas.
Juro. Sem ironias. Perplexa. Nunca me tinha ocorrido. Volta e meia a minha mãe fazia caracóis em casa. Eu própria já o fiz. E assisti aos pobres a tentarem fugir do tacho. Desatenta, mais do que insensível, não me ocorreu vê-los como animais de verdade, em sofrimento. Pensava, isso sim, em comê-los.

Por isso, mais uma vez estou com mixed feelings a propósito agora disto. Por um lado parece-me um exagero. Por outro, porque não poupar os bichos à dor? Contudo, é tema que não quero aprofundar demais não vá, às tantas, perder a vontade de os comer e isso, caraças, é que não.

Quanto ao método, face à notícia da liberalização do canábis para fins terapêuticos, lembrei-me que uma boa seria fazer uma little queimada de erva na cuisine e pôr os pobres indefesos a inalarem. Quando estivessem bem felizes e com uma bela duma moca, então, ala para o tacho. 

Mas, enfim, com isto não quero chocar aquela deputada Galriça. Portanto, se a preocupação do sofrimento das amêijoas ou das lagostas vier para Portugal e se a decisão for de lhes dar choques eléctricos e a deputada galriça lhe parecer melhor, pois que não seja por isso. Ou então, arranjar maneira de os bichos só cheirarem, sem inalar, não vá tomarem-lhe o gosto (o pormenor de irem morrer a seguir, para a deputada Galriça não deve ser atenuante). Por mim, tudo bem. Peace and love, pessoal. E um pratinho de camarões, caracóis ou tremoços para todos.

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