sexta-feira, dezembro 29, 2017

Quando uma mulher ama um homem





É um facto. Nisto da igualdade dos géneros convém não generalizar. Uma coisa é o direito à igualdade de oportunidades e outra, muito diferente, é fazer tábua rasa das diferenças evidentes entre homem e mulher. E nem estou a referir-me ao óbvio. Isso cada um sabe de si. As mulheres têm maminhas e os homens não? Bem. Não é sempre verdade. Há mulheres que não las têm e há homens que deviam usar under bra. Assim como pode haver homens que têm pirilau mas não o usam e mulheres que não o têm e munem-se de um. Portanto, adiante que nisto de minudências há excepções para todos os gostos e não pretendo aventurar-me por aí.

Refiro-me aqui apenas a coisas muito mais simples: à maneira de ser tipicamente feminina e à maneira de ser muito macho man.


Claro que também aqui poderia embrenhar-me pelas variantes e excepções: homens sensíveis e fofos e mulheres todas duronas e marialvas -- que pode não ser politicamente correcto falar assim deles e delas pero que los hay, los hay.
Exemplifico. Ontem estava atolada no meio do trânsito. Não mexia. E eu sossegadinha a ouvir música. Nisto, o carro da frente andou dois palmos e eu, em piloto automático, avancei o mesmo. E, nessa altura, ouvi ao meu lado uma barulheira de música aos berros e uma flausona, cara de rapper, cabelo curto platinado, toda machona, a gritar na minha direcção: 'Ó madama, és muita mázona. Atão não me queres deixar meter, ó madama? Já tou cheia de medo de ti!'. Eu atónita, tentando perceber a razão de tal desconchavo. Percebi que a dita vinha de lado e que estava a querer meter-se à minha frente. Tinha um carro pequeno, janela aberta e o braço de fora, a gesticular, e a boca escancarada a berrar sobre uma música igualmente escancarada. Ri-me e fiz-lhe sinal para se meter à vontade. Continuou: 'Tens a mania que és boa, ó madama!'. Quando o carro da frente andou mais meio metro, voltei a fazer-lhe sinal, convidando-a a enfiar-se à má fila à minha frente. Com cara de vingadora, não quis. Passado um bocado, ouvi-a a pôr o motor a fazer aceleradelas e a tentar fazer outra chicuelina a outro pacífico condutor. Aquela, notoriamente tinha a testosterona a fervilhar.
Mas eu estava era a referir-me à maneira que as mulheres (as mulheres em geral, dentro da média) têm de gostar dos homens. É uma maneira cheia de subtilezas. As mulheres gostam de ser adivinhadas, convencidas, surpreendidas. Não gostam de ter que ser explícitas. Quando uma mulher tem que ser explícita para o homem a perceber, aí desinteressa-se dele. É um totó, um destituído. No entanto, também não se aguenta um homem melga ou armado em engraçadinho, sempre a querer fazer surpresas bobinhas ou a dizer piadas secas.

Mais: o homem tem que ser uma boa ajuda em casa, claro que sim!, mas também não pode ser mais arrumadinho que a madrinha rezingona que não suporta um grão de pó no móvel ou que vai aos arames com uma toalha torta no toalheiro. E não deve ser um copinho de leite, que essas mariazinhas são de se fugir delas a sete pés, tal como não deve ser um copofónico que isso, credo, é de terror.  Deve, sim, saber apreciar um bom vinho, tal como deve saber pegar no copo e deve saber ser didáctico a propósito do tema mas só até ao ponto em que não pareça ser um deslumbrado ou um petulante a precisar de uma belinha.

E tem que gostar de ler mas não ser um maçador cheio de citações. Homem que só fala de livros ou que só sabe falar de música, tal como se só souber falar de futebol, é para esquecer. Pode suportar-se durante um hiato mas ponham hiato nisso. Logo, logo receberá ordem de marcha. Homens mono-interesses são uma seca de primeira. Interessezinhos diversificados, tudo bem temperado de erudição, humor e desconstrução, isso sim.

E quem diz isto, diz muito mais que isto.

Por exemplo. Só se for perfeito sem parecer perfeito, ou elegante sem ser uma maria dondoca, e empático sem ser uma amélia lamechas é que a mulher poderá dar-lhe a hipótese de ser escolhido.

E etc, etc, etc.

E ponham mesmo muitos etcs nisso que a lista de to dos e not to dos é extensa. Eu é não pretendo ser exaustiva.

Mas uma coisa tem que ficar clara: quem escolhe é a mulher mesmo que possa parecer que não. E deve ser como e quando ela quiser (mesmo que faça de conta que não quer ou que tanto lhe dá). E o homem deve ter plena consciência disso embora deva disfarçar, tentando conquistá-la como se acreditasse que tem um poder que obviamente não tem.

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E isto tudo para introduzir um poema que me agrada:

When a woman loves a man de David Lehman


Capisce?

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Ok, ok, ok.

Eu sei que muitos leitores (homens, sobretudo) não acham graça nenhuma a poesia. Acharão que poesia é coisa para almas sensíveis e eles, qual quê, são empedernidos, mas empedernidos encartados, de papel passado, com um calhau no meio do peito - um calhau palpitante, é certo, mas isso é só porque tem que bombar o sangue -- e nada de palavrinhas nheco-nheco, só palavras que sirvam para andar à traulitada. 

Por isso, esta agora é para eles: um vídeo que devem ouvir com atenção. Ok?

Poema para pessoas compreensivelmente demasiado ocupadas para lerem poesia

de Stephen Dunn


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Enjoy

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