sexta-feira, dezembro 08, 2017

Meninos feios de morrer a rir





Quem por aqui me acompanha, certamente já me conhece de trás para a frente. Para os meus leitores mais fiéis já não terei avesso, presumo eu. Só para mim o terei, que eu a mim ainda me desconheço. Mas, para quem me lê, imagino que seja como se eu, com olhos de ver, me visse ao espelho. 

Saberão, por exemplo, que sou de riso fácil.
Diz que rir faz bem. Mas não faz bem a tudo. Por exemplo, não é bom para as rugas. Melhor para uma tez sem vincos se olhos e boca não se entregarem muito a exageros emocionais. 
Mas, lá diz o outro, cada um é como cada qual -- e qualquer coisa me faz desatar a rir. 

Também o oposto: se estou de embirração, nem um sorriso me arrancarão, nem saberei disfarçar que quero ver a criatura com que antipatizo pelas costas.
Por exemplo: eu numa reunião. A de ontem, por exemplo. Eu a achar que a reunião está a ser mal conduzida e que está a servir os interesses das bestas quadradas* que se sentam à volta da mesa. Eu a ficar cada vez mais furiosa. Incapaz de mostrar um ar simpático. Mesmo se, por alguma piada, toda a gente ria, eu trombuda, não vendo a hora de me raspar dali para fora. Incapaz de moderar a má disposição. Incapaz. 
E, no entante, já fora dali, pouco depois, já as fúrias para trás das costas, logo com vontade de rir se alguma situação mais maluca se me depara. Primária. 
* E estão a ver porque é que não posso revelar a minha identidade? imaginem que me apresentava aqui de Cartão de Cidadão em punho. Na segunda-feira, tinha um segurança à porta, recrutado aí na night, para me impedir de entrar. Ou isso ou encontrava as paredes do gabinete grafitadas: besta quadrada é a tia, ó anormal!

A história da minha vida está perpassada por situações em que me rio até às lágrimas. Desde pequena. 

A minha mãe, nisso igual, via-se metida em apuros. Eu desatava a rir, ela ia-me atrás e não parávamos de rir. Conta, por exemplo, que havia na cidade duas irmãs pequeninas e rebolinhas, carinhas de meninas velhas, todas muito apertadinhas e bem vestidinhas. Da burguesia local, conhecidas dela, mais velhas que ela. Passeavam-se muito pela Baixa. Iam de braço dado e paravam a cumprimentar os conhecidos ou a ver montras. A minha mãe deveria cumprimentá-las decentemente. Mas, se ia comigo, logo eu vendo o pequeno par de jarras me descontrolava a rir, contagiando-a a ela e já ela numa aflição para não se desmanchar toda a rir na presença delas. 


E na escola. Nas aulas de canto coral, por exemplo. O que eu me ria. A pobre professora levava aquilo a sério. Queria pôr-nos a fazer vozes. Só de me antever a tentar o dó de peito já eu me perdia a rir. Chegada a minha vez, quase rebolava, incapaz de abrir a goela e deixar sair. Ela ameaçava que me punha fora da sala mas não surtia efeito. Tudo aquilo me parecia de um ridículo atroz que culminaria nos meus rachados vocalizos (os quais, felizmente nunca viram a luz do dia) e eu era impotente para controlar as gargalhadas e as lágrimas rebolonas que as acompanhavam.

Mas como essas, tantas outras. Não têm conta as vezes. Ainda agora. Se calha perder-me a rir, não há como me parar.




Aqui, na blogosfera, as pessoas tendem a ser sisudas. Ou solitárias. Ou tristonhas. Ou ensimesmadas e circunspectas. Muito compenetradas das suas razões. Não há muitos blogs em que a gente veja ali uma cara alegre feita à escrita. Não há quem se atire para fora de pé just for the fun of it. Não há muito quem desfie palavras envoltas em puro destempero.
Por acaso havia um. Volta e meia eu desatava a rir com tamanho desconchavo. Mas tanto lhe dava para isso como para o desacerto mais puro. Depois fechou a loja. Sinto falta. 
Tirando esse, para rir, só se forem blogs de cartoons. De palavras, estou a ver se puxo pela cabeça mas, tirando aquele tal, que me lembre, não há muito. Nem muito nem pouco. Não. Há a Imprensa Falsa. Sim, esse tem muita graça. Mas, com excepção desse, na blogosfera, o que mais se vê parecido com vontade de rir são coisas como ahahah, eheheh, :D, lol. Mas isso é algo limitado para o meu gosto. Gosto de piada palavrosa, suculenta, gosto do absurdo, mas absurdo cabeludo, -- e quem diz absurdo cabeludo, diz galinha careca -- gosto de tropeção na lógica, capachinho de pelo ao vento. Coisa macaca nessa base. Mas não há. E eu que gostava tanto que houvesse alguns. Visitá-los-ia nocturnamente, eu aqui sozinha na sala, a ler e a rir à gargalhada com eles. Mas não. Não sei porque será. As pessoas que gostam de rir não são dadas às profundezas de alma onde se geram as palavras? 


A verdade é que, se calha eu dar com algum imprevisto tresloucado, logo me entusiasmo. Foi agora o caso. Não de palavras mas, paciência, contento-me com o que há. 

Capinando eu por aqui sentada, exercitando a progressividade, óculos apenas postos quando o sono já aperta e a capacidade de focagem já se encontra meio desaparafusada, fui dar com os meninos renascentistas que aqui vos mostro: meninos com cara de velhos, meninos com ar de tarados, meninos com ar de ganzados, meninos que parece que nasceram com cinquenta anos, meninos que parece que têm um pescoço disfuncional, meninos que parecem que não atinam com o seu papel divino. 


E o que me tenho rido, senhores, com estes babies. Ca ganda malucos, estes meninos. O post já vai longo mas deixem que abuse ainda um pouco mais.







Mais como estes podem ser vistos em Ugly Renaissance Babies e quem descobrir outros pode enviá-los para lá. Todos os bebés deprimentes, depravadinhos avant la lettre e cinquentões encardidinhos ao colo de mamães serão, certamente, bem acolhidos.

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E aos que chegaram até aqui e ainda têm paciência para mais, permito-me sugerir que desçam até ao post seguinte onde se dá conta de qual a cor 2018.

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