quinta-feira, dezembro 07, 2017

É o Steve Cutts e sou eu:
este é o nosso mundo



Teimo em não ter facebook nem twitter nem tretas dessas que causam dependência e nada acrescentam ao nosso conhecimento ou felicidade.

Comecei a fazer fisioterapia e, desde as fisioterapeutas aos clientes, aquilo lá parece tudo gente de sangue azul. Finos, finos, finérrimos. Quando me perguntaram como tinha eu dado cabo do ombro, disse que achava que tinha sido a podar árvores. Pois bem. Parecia eu que estava a dizer que tinha sido a andar de braço esticado a apanhar borboletas em Marte. Não percebiam. Mas... árvores? Árvores... de quê? De fruto? Mas como? E eu: pinheiros, azinheiras, aroeiras. De podão ou serrote. E elas estupefactas. Mas também bastaria olhar para as minhas mãos. Nada de nails artísticas, nada de gel, gelinho ou corte em bailarinas. Com as minhas mãos, ou campónia ou sopeira. Por mim, qualquer das duas. Com muito orgulho.


Mas mil vezes isso do que ser daquelas malucas que estejam onde estiverem tiram selfies, tiram fotografias à comida ou às paredes e logo as postam, passando depois o resto do tempo a rir, supostamente em estado de derretimento a ver os comentários dos 'amigos'. Não há pachorra.

Pior ainda é estar-se numa reunião em que cada um dos presentes (excepto eu!) está de tablet, entretido a ver as notícias, a mandar mails ou o escambau. Onde eles se acham uns moderninhos, eu acho-os uns palermas encartados. Uma vez calei-me e disse que me fazia impressão falar para quem não estava a prestar qualquer atenção. Ficaram todos ofendidos. Que estavam a prestar ultra atenção, ora essa, apenas tinham que ver algum mail em particular ou alguma cotação, coisa muito útil e muito breve. Sim, sim. Mostrei que não acreditava patavina e volta e meia repito a graça: perante uma pausa silenciosa, levantam logo todos os olhos dos computadores não vá eu fazer mais algum remoque.

O mundo tem coisas de gente burra. A espécie, quando vista em geral, parece tender para a anulação. O que se lê é maioritariamente lixo -- e é quem lê alguma coisa para além dos faces desta vida. O pessoal vai desertificando das ideias e baixando o nível de exigência. Aceita-se tudo, convive-se bem com o lixo. Não sei onde é que isto vai parar mas a sítio bom não é, de certeza. Nos Estados Unidos, já os levou ao Trump.

Mas pronto, acho que pouco há a fazer. Massificámos a estupidez e agora chapéu.


Cá para mim, a menos que haja algum dia uma barraca dos diabos e a malta ganhe verdadeira aversão à coisa, este é o inexorável caminho que estamos a trilhar.

Mas ainda há quem do disparate consiga fazer uma coisa boa. Neste caso, um alerta bem parido:

De Steve Cutts (de quem também são as imagens dos gifs): This is our world



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E para aqui estou a tentar acertar o raio de acção dos olhos com o ponto dos óculos em que a coisa se dá. Idem com a posição da cabeça a tentar alinhá-la com a das coisas que quero divisar. Não está fácil. Turvo, desfocado, esbadanado. 
Nem sei se existe esta palavra (esbadanado) mas, olhem, se não existe, passa a existir. 
Recebi mails simpatiquíssimos com palavras de incentivo e/ou conselhos práticos sobre como fazer uma pobre coitada para se adaptar a esta tecnologia avançada dos óculos progressivos. Por isso, embora contrariada, aqui estou a sacrificar-me até que o cérebro se habitue a tanta sevícia. Claro que só os uso à noite, aqui no computador. Para mais do que isso já seria preciso virar-me do avesso e para isso ainda não vejo necessidade.


Mas talvez por causa disso, de estar para aqui, azamboada, às voltas com as focagens, ainda estou com mais sono do que nos outros dias.

Dado o dia de cão que tive, estive a mandar mails de trabalho até há pouco. E era ver-me: toda esperta. Mal acabei a faena, pimba, a cabeça a pendular, os olhos a fecharem-se e eu toda off. Vá lá a gente perceber esta lógica. A pancada devia era ter-me dado quando me ocorreu estar a trabalhar até tão tarde. Santa paciência que até para mim já me falta, caraças. O que vale é que esta quinta vai saber-me a ginjas, pelo menos assim o espero, uma quinta toda prosa, toda sexta.

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E estou tão leve
porque não tenho nenhum segredo
e tão oculto
porque daqui a nada 
já posso dizer tudo.

in Levanto à vista -- Herberto Helder dito por Fernando Alves




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Inté. 
Agora tenho que vos deixar e ir pregar para outra freguesia, ok?

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