sexta-feira, outubro 13, 2017

Heresia, provocação, brincadeira, um bocadinho de arte...? What?
[E, a propósito de Louis Vuitton, memória das pechinchas da Nelinha]


Não sou naturalmente reverente. Mesmo que me esforce, a reverência não me assenta bem. Também não idolatro coisa alguma. Não sou de deuses, de santos, de ídolos, de gurus. 

Mas sou de amores, de paixões, de devoções. A arte exerce fascínio em mim. Pintura, escultura, música, dança, fotografia. Fascínio.


Contudo, não acredito que a arte deva viver numa redoma mental nem que tenhamos que pôr um joelho mental em terra sempre que se o tema é uma obra de arte das mais sagradas e consagradas.

Gosto até de ver brincadeiras ou exercícios de desconstrução e de subversão sobre obras de grandes mestres.


Por isso, foi com expectativa que quis logo ver o vídeo relativo à colaboração entre Jeff Koons e Louis Vuitton

Louis Vuitton - Masters, a collaboration with Jeff Koons


A collaboration between Louis Vuitton and artist Jeff Koons, the ‘Masters’ Collection remixes the iconic artworks of the Old Masters and presents them in a way that encourages new interpretations.





E, já agora, que venham as celebridades.

Uma noite no Louvre com Louis Vuitton e Jeff Koons



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Disclaimer: 

Não gosto de valises de mão Louis Vuitton -- e não gosto nem daquelas letras ali estampadas nem do preço que elas custam. Nem as da candonga, por 10 euros, me atraem.

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E, agora que estou a escrever, até me lembrei de uma colega que em tempos tive. Uma vez, em conversa, ouço dizer que à quarta-feira a Nelinha (chamemos-lhe assim) limpava a carteira ao pessoal. Fiquei estarrecida. Ladra? A Nelinha...!? Exlicaram-me: não! Traz material para vender. E, espantados, decretaram que eu era, com certeza, a única pessoa que não sabia. Mas não sabia. Contaram-me: sapatos de marca, carteiras, roupa diversa. Fiquei parva. E que se podia pagar a prestações. E que todas as semanas ela vendia tudo o que levava. E que era variável. Ou a pedido ou o que calhava. Perguntei: mas onde arranja ela isso tudo? É que a Nelinha era a funcionária administrativa mais low profile que se possa imaginar. Disseram-me: Isso não se sabe. Nem se pergunta.

A minha secretária foi buscar um saco espampanante. Louis Vuitton. Embevecida: não é um sonho...? E eu, estupefacta, incapaz de dizer que não fazia o meu estilo mas sem querer desiludi-la.

Contaram-me. Era na copa que, às quartas-feiras à tarde, se juntavam mas, para clientes especiais, a Nelinha ia aos gabinetes ou, junto dos mais discretos, a coisa era intermediada pelas secretárias. Pedi à minha para saber o que traria ela na próxima semana. Veio dizer-me que ela tinha devolvido a pergunta: que é que quer?

Perplexa. Perplexa. A Nelinha toda orientada para o serviço ao cliente. Quem diria uma coisa destas?

À noite contei em casa. Estava quase em choque com esta actividade subterrânea lá na empresa, pelos vistos às escâncaras. Pois bem. Comecei logo a receber pedidos. Uns Timberland para o meu filho. O meu marido também uma coisa qualquer. Acho que, por essa altura, a minha filha já vivia com o namorado, não me lembro de requisições dela.

E assim foi que uma semana depois a encomenda chegou. Acho que os do meu marido eram Gant. Aparentemente genuínos, em caixa que parecia de origem, e, claro está, a preço de chu-chu.

Em casa ainda formulei a dúvida que me assaltava: serão coisas roubadas? O meu marido disse que era melhor não aprofundar. Pensei: estamos a compactuar para com alguma actividade marginal. Mas, caraças, não ia denunciar a Nelinha. Além disso, todo aquele mulherame que se vestia como se vivesse na 7ª Avenida e todos os homens que se vestiam e calçavam como betinhos jamais me perdoariam.

Para mim não trouxe nada. Mas, na volta, devia ter pedido uns sapatos, uma carteira, um cinto -- tudo Chanel.  Mas não o fiz. Mais tarde, um colega disse: isso é malta que rouba contentores e que tem uns capangas na revenda. Não faço ideia. O que sei é que desperdicei a oportunidade de poder andar por aí a armar-me ao pingarelho.


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