quarta-feira, agosto 09, 2017

O observador de montanhas
- ou uma maneira encantatória de detectar o início dos incêndios -





Uma pessoa que conheço -- um acelerado como nunca antes vi alguém assim, ansioso, stressado, impaciente, que nunca consegue tirar férias porque sem ele é o caos, exigente até dar com os outros em doidos e habituado a lidar com milhões como quem lida com tostões -- deixou toda a gente de boca aberta ao dizer que ia passar férias, sozinho, para a Índia. Interroguei-o. Já conhecia Goa e mais não sei o quê, e entre esse não sei o quê estava um lugar de que me contou a história, e que ia para um outro lugar, de que me disse o nome, onde ia ficar duas semanas de seguida. Intrigada, perguntei o que tinha esse lugar de especial. Contou-me também a história desse lugar. Perguntei se era um lugar tão especial assim que justificasse a permanência durante duas semanas inteiras. Aí já eu estava a suspeitar Um mosteiro? Meditação? Fez que sim com a cabeça. Sem computador, sem telefone. Sozinho, num mosteiro da Índia, a meditar. Comentei com outro que, também espantadíssimo, me respondeu : 'Vamos lá ver é se volta de lá'. 


Ainda mal tinha digerido tal proeza, estava eu numa reunião quando um dos intervenientes, alguém de alta cilindrada (digamos assim), um que tem génio e genica, saber e saber fazer como poucos, me diz que se eu precisasse de alguma coisa para o contactar até certo dia porque, depois, ia estar incontactável durante duas semanas. Pensei: caraças, mais outro para a Índia? Alguém lhe perguntou para onde ia. Para a Tailândia. Sem computador, sem telefone. Que lá tinha estado no ano passado e que tinha resolvido voltar e que, até, chegou a pensar não voltar. Fiquei banza. Ohando para ele, não se poderia imaginar.

E, no entanto, isto é estritamente verdade e a esta hora cada um, sem se conhecerem e sem terem nada em comum, lá estão, um na Índia e outro na Tailândia. Provavelmente a olharem para o céu, serenos e felizes.


O caso que hoje aqui trago não é bem isso, mas quase. Sobretudo, tem uma utilidade. Eu que tenho a mania de não desperdiçar tempo a fazer coisas inúteis ou a olhar para ontem, vejo com mais admiração Leif Haugen que, nos últimos 24, anos tem passado o verão isolado no alto de uma montanha em Montana (EUA), a olhar em volta, deixando o seu olhar espraiar-se por vales e cumeadas -- mas com um propósito.

Numa altura que, em Portugal, se tem falado da falta que fazem os Guardas Florestais na ajuda à prevenção de incêndios, aqui fica a sugestão. Não sei se o alô!, alô! deve ser para o Capoulas Santos se para a Constança Urbano de Sousa mas alguém do Governo do Costa devia prestar atenção. Aposto que não haveria de faltar quem quisesse ir passar uma temporada num abrigo de montanha, envidraçado, quase uma casinha nas árvores.  



Transcrevo:
For the past 24 years, Leif Haugen has spent his summers living alone atop a mountain in Montana’s pristine wilderness. As a fire lookout for the U.S. Forest Service, Leif is charged with protecting the surrounding landscape, watching for signs of fire from his solitary perch. Spending up to two weeks alone at a time, he spends his days unwinding amid the peace and quiet, watching as the world passes him by.

In Montana, a Solitary Life on Lookout Mountain



Candidato-me já

(desde que abram uma excepção: sozinha é o vais)

___________________

As imagens mostram árvores que resistem apesar de tudo, e vi-as no Bored Panda.

___________________________

A si que aí está e que, dessa forma silenciosa me acompanha, desejouma quarta-feira muito feliz.

______________