sábado, julho 08, 2017

Bancos públicos










Enquanto na televisão vejo notícias da Cimeira do G-20 -- com especial destaque para o bom entendimento entre Trump e Putin e para as manifestações nas ruas de Hamburgo que, ao que parece, já causaram ferimentos em cerca de 200 polícias --, vou trocando sms com a minha filha e entretendo-me a ver fotografias dos 'bancos públicos' que Guillaume Lassus-Dessus, de 26 anos, captou em Moçambique.




É com ternura que percorro essas imagens. Para aqui partilhar convosco, escolho apena três mas há lá de tudo, incluindo uma caixa de garrafas coca-cola. A penúria gera a criatividade e, quando a isso se junta o humor e o notório amor à vida, o resultado é surpreendente.

Não tem a ver mas agora está a ocorrer-me o casal negro -- ambos jovens e falando um português cerrado com forte sotaque africano quando não numa língua que eu não percebia -- que estava numa mesa perto da minha ao almoço. 
Por razões que não vêm ao caso, almocei numa das ditas catedrais do consumo e os restaurantes estavam cheios, cheios. Peguei num tabuleiro e vim comer numa das mesas da zona que penso que se chama 'esplanada', onde nos sentamos onde há mesa livre (e quase não as havia). 
Motivos de interesse, ali, é o que não falta. 
Estive, pois, a almoçar e, encantada, olhando quem me rodeava. Um outro casal, com ar de ter vindo daquilo do Secret Story ou Love on Top ou Quinta das Celebridades da TVI, estava em grande estilo. Ela loura platinada, grandes (e diria artificiais) seios a soltarem-se debaixo de uma tshirt abaixo do número, grandes pestanas postiças, lábios besuntados com um gloss em pinkíssimo, ele musculadíssimo, cabelo todo rapado excepto um pequeno rabo de cavalo do alto da cabeça, bíceps a estalarem da justa t-shirt de mangas curtas, todos ornamentados com abunsdantes tatuagens. Selfies com fartura, alegria, beijos e espalhafato  --- e tudo ali parecia artificial.
Os negros, pelo contrário, não tinham nada artificial. A olho nu se percebia que estavam contentes como estavam.

Não seriam abastados, longe disso. Diria que estavam de férias e notoriamente tinham orgulhosamente vindo das compras pois estavam com sacos Primark. A forma como estavam arranjados, a felicidade que irradiavam, a fala quase cantada que usavam na sua animada conversa, proporcionavam uma alegria quase instantânea só de vê-los.

É uma coisa que tenho constatado ao longo da minha vida. A felicidade nasce de coisas simples e quem está in the mood for happiness encontra-as em qualquer lugar e em qualquer situação.


Assim estas cadeiras feitas de restos que o jovem Guillaume descobriu ao longo das ruas de Moçambique. E o mais bonito é como o conforto não foi esquecido, com as suas almofadinhas meio improvisadas a servirem de estofo. Tanta gente a carpir por motivos fúteis e, ao lado, tanta gente que teria razões para se encostar à tristeza e que, afinal, encara as dificuldades com altivez e delas faz um motivo de afirmação e criatividade. Bem hajam as pessoas que sabem ser assim, apesar das suas míseras circunstâncias.

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