sábado, julho 01, 2017

Pois eu, com vossa licença, a propósito do roubo de munições do paiol de Tancos,
se fosse ao Costa, demitia o Ministro da Defesa Azeredo Lopes.
E, naturalmente, se eu fosse o Ministro, antes que fosse preciso chegar a esse ponto, demitia-me eu.
[A menos, claro, que queira suceder ao Solnado nas suas rábulas da guerra]

E o Presidente Marcelo, Comandante Supremo das Forças Armadas, agora não tem nada a dizer...?


Não sou de reacções emocionais que se sobreponham à racionalidade -- ou, pelo menos, acho que não sou. Acho que se devem perceber as razões, avaliar as responsabilidades, perceber se há ou não negligência ou culpa antes de desatar a clamar pelo pescoço de alguém. Até prova em contrário, toda a gente é inocente e há causas naturais de tal intensidade ou extensão que os meios dimensionados para situações dentro da média não podem dar resposta -- por exemplo. Ou seja, não é o primeiro que caíu em desgraça junto de alguns jornalistas ou que se chegou à frente numa situação de tragédia que deve arcar com culpas que, se calhar, não são de ninguém em particular.

Por isso, não condeno na praça pública José Sócrates já que ainda nem acusado foi (quanto mais condenado) e, também por isso, não ando para aqui a pedir a demissão da ministra Constança Urbano de Sousa.



Contudo, há situações e situações. Por exemplo, acho que o que se passou nisto do roubo de material de guerra do paiol de Tancos é de tal forma grave, aberrante, incompreensível e perigoso que acho que o responsável pela área deve assumir as suas responsabilidades. Deve. Não digo que 'tem que', digo que 'deve'. É uma questão moral face à gravidade e ao risco potencial do que está em causa.

Numa altura em que se sabe bem da difusa ameaça terrorista, não posso entender nem aceitar que armazéns carregados de munições de toda a espécie e feitio estejam sem videovigilância nem, tão pouco, equipados com um banal alarme. Os meliantes entraram, circularam, roubaram tanta e tanta coisa e não tocou uma campainha, não disparou uma buzina, não há um vídeo, não há nada. Um paiol com uma protecção à Pai Adão. Surreal. Ridículo. Indesculpável.


Se não tinham dinheiro para montar um sistema capaz, fizessem um contrato com a Prosegur ou com a Securitas. E pode parecer que estou a ironizar mas não estou. Proteger uma casa, um armazém ou o que for não é nenhuma fortuna. Não é, mesmo. E que fosse. Os riscos de haver granadas, lança-morteiros, munições de calibre não sei quantos e sei lá que mais nas mãos sabe-se lá de quem são imensos. E imensamente graves.

Pode ser que a culpa seja dos militares. E os responsáveis bem podiam pôr as barbas de molho. O chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, deveria ser o primeiro a aparecer perante o País a assumir as responsabilidades, batendo em retirada para que alguém mais confiável viesse ocupar o seu lugar. Mas, independentemente disso, a responsabilidade primeira por tão absurdo e grave roubo é política -- e é do Minsitro.

Tenho pena mas é isto. Não confio num ministro em cujas barbas é cometida tal coisa. E pode ele nem ter barbas ou não ter estado lá dentro a facilitar as movimentações dos ladrões: não interessa. Com uma coisa destas não se brinca e os paóis têm que estar bem guardados, à prova de bala --  e não vulneráveis e desprotegidos como provaram estar. Que se ande em convénios internacionais a debater a segurança, em encontros com os congéneres europeus a traçar planos contra o terrorismo e que, afinal, não se cuide de garantir que todo o material sensível à guarda das Forças Armadas está seguro parece-me de uma gravidade extrema. Ou seja, e uma vez mais, lamento dizer isto mas não tenho como não dizê-lo: o ministro Azeredo Lopes deveria sair pelo seu pé ou, se não, então, o Costa deveria indicar-lhe o caminho da porta. 


(E, de carrinho, idem com o responsável pelo paiol, o responsável pelo quartel... e todos os que estão na linha hierárquica até chegar ao general Rovisco Duarte).


E, Marcelo, sempre tão lesto a comentar tudo, agora fica caladinho...? 

Não é ele o Comandante Supremo das Forças Armadas?


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Isto, claro, porque, não fazendo isto, ficar-se-á em risco de as Forças Armadas passarem a ser alvo de chacota e de o pessoal civil passar a ter um medo danado dos militares que guardam as armas e armamentos e da gandulagem que lá vai aviar-se nas calminhas.

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Nem digo quem é que estou a ver a fazer figuras destas.



Só que agora o caso não é para rir.

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