domingo, junho 18, 2017

Horror



A minha mãe ligou de manhã. Achava melhor nós virmo-nos já embora, viu na meteorologia o calor que aqui faz, tem medo das árvores perto da casa. Depois, embalada pelo medo, já receava o mato no fim da rua dela e interrogava-se sobre o que fazer numa aflição assim, com o meu pai sem andar. Nestas ocasiões assusta-se, tudo se transforma em drama e riscos aterradores. Perguntei-lhe se também não tinha medo de tornados, inundações, e toda a espécie de acts of god. Diz que sim, também.  Insiste: 'Mas numa situação assim, com o teu pai, o que faria eu?'. Digo-lhe que a única maneira seria arranjar bombeiros que o transportassem. Volta a insistir: 'Mas a terem que apagar o fogo, tinham lá tempo para ir buscar uma pessoa a casa, transportá-lo de maca?'. Interrompo-a: 'Se não aconteceu nada convosco, para quê isso de estar a querer immaginar toda a espécie de desgraças?' Digo-lhe que uma pessoa pôr-se a ter medo de coisas que não controla é pura perda de tempo. Reconhece que talvez seja. 

Ontem à noitinha, quando falei com ela, queixava-se que o tempo estava estranho, muito calor, um vendaval, as árvores do quintal quase a quererem voar e os relâmpagos assustadores. Dizia que estava com medo, que tinha medo das trovoadas secas. Que ia cedo para a cama, que o tempo assim estava a assustá-la.

E, de facto, também aqui, ontem, ao cair da noite, o tempo quase metia medo. Um calor insuportável e, de um lado, o céu que parecia em chamas (conforme se vê nas fotografias) e, do outro, um céu carregado, anunciando tempestade.


Hoje, por aqui, o céu está meio encoberto, uma névoa cinzenta que sabemos ser fumo e cinza e há um leve cheiro ao incêndio que lavra ao longe. 


Estamos a ver na televisão a situação na zona dos incêndios e a tragédia é de uma dimensão assustadora.


Dizem as notícias que os mortos contados já são 61 e os feridos, alguns em estado grave, são muitos. Se os números assustam, o que se sabe sobre as circunstâncias da morte assusta ainda mais.


O que viveram as pessoas daqueles sítios, o sofrimento e o terror dos que sobreviveram e dos que perderam a vida é qualquer coisa de inimaginável. Face a essa desmesura, todas as conjecturas e todos os medos pessoais me parecem frívolos. 

A consciência da fragilidade da vida em todas as suas dimensões deveria ser permanente em nós. Não há vitórias, sucessos, não há certezas absolutas, não há nada que não pereça perante um golpe de pouca sorte ou perante uma imprevista conjugação de factores aleatórios e descontrolados.

Perante uma tal calamidade e tragédia não consigo apontar o dedo a quem quer que seja. A única coisa que consigo é admirar a força e coragem dos que enfrentam as chamas e o terror, tentando vencer a indomável besta. E sentir uma pena sem palavras pelas pessoas que perderam familiares, casas, animais. Uma pena condoída pelos que viram devoradas pelas inclementes línguas de fogo as próprias vidas ou parte da sua vida.