terça-feira, outubro 04, 2016

As mãos de ambos
desataram a carícia
que um ao outro prendia






Não me iludo!
Não me iludo!

Não me é permitido mais
do que perdê-lo

- Oh meu anjo amado...

Minha asa de voo
                                   desamparado!




Soletra as ruínas
do próprio peito

a fitar a lonjura
dos tempos
os conflitos do mundo

desse jeito equívoco
e turvo, nesse uivo
ambas as mãos tocando

o absurdo





Ela vai rompendo as trevas
ameias e descaminhos
os atalhos, as entranhas

de florestas e espinhos

Ela vai colhendo as rosas
que lhe mitigam o peito
em torno do coração

Ela vai na desmesura
em busca da razão
que lhe explique a rasura

a devastar-lhe a paixão





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Anunciações, um 'romance' de Maria Teresa Horta
Fotografias de Peter Lindbergh excepto a primeira, de Irving Penn
"Porgi, amor", Mozart, interpretada por Renée Flemming

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3 comentários:

bea disse...

É um romance em verso? Parece-me bem.

P. disse...

Os seios que aqui nos revela, levaram-me até Alexandre O'Neil e o seu poema sobre...os Seios. Como é demasiado extenso para o Post, retiro apenas algumas das estofes (as que me parecem mais belas e adequadas):

"Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!

Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!

Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?

Quantas vezes
Interrogaste, ao espelho, os seios?

……………………..

Quantos seios ficaram por amar?

…………………….

……………………..

……………………..


Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.
…………
(Etc)

(P.Rufino)

Rosa Pinto disse...

Hoje gostei muito.
Uma boa noite para todos.