quarta-feira, junho 29, 2016

Como é que o que comemos afecta o nosso cérebro?
- e outras derivações
(o mal e os desafios da razão, o terrorismo no aeroporto de Istambul e, no extremo oposto, os pássaros que voam em V, a definição de amor, etc.)





Estive a ouvir poesia. Como quando uma pessoa parece que precisa de açúcar, assim estava eu, a precisar de uma voz junto a mim a dizer poesia.

Parece que me sinto nostálgica mas isto é capaz de não ser nostalgia. O mais certo é ser sono. A esta hora não distingo bem, já se confundem saudades, calor, vontade de ir de férias. Será que toda a gente sabe escalpelizar o que sente? Eu não. Verdade seja dita que também não me dá para perder tempo com isso. Há bocado fui abrir a janela para entrar a frialdade da noite e tive vontade de puxar uma cadeira e deixar-me ficar ali a olhar a negrura. Talvez me pusesse a pensar no passeio que anda aqui a forjar-se dentro de mim. Volta e meia, a meio do dia, penso que, se tivesse dez minutos sossegada, ia ao google maps e olhava para os percursos possíveis para chegar lá. Mas não consigo e, por isso, a vontade de pensar no assunto anda aqui ao meu lado. Será que o receio de não poder ir é que parece ser nostalgia?

Não sei. Ou uma vontade de sair pela noite, juntar-me às paredes gastas junto ao rio, ficar a ouvir o ranger das correntes, sentir a maresia limpa, imaginar o sono dos gatos.

Estou a ouvir música, a cabeça vazia. Escrever assim sem fazer a mínima ideia do que vai sair, descansa-me. Deve haver explicação para isto.


Em vez de escrever sentada à mesa onde costumava entricheirar-me entre livros, agora arranjei o hábito de me pôr no canto do sofá, reclinada, os pés em cima do assento de uma cadeira e o computador ao colo. Deve-se isto ao sono com que ando: estes meus dias são assim a modos que muito preenchidos de coisas diversas, surpreendentes e desafiantes. No outro dia, uma pessoa dizia-me que era desafioso. Sorri. Desafioso? Nunca tinha ouvido mas muito bem, seja. 

Mas, ao fim de um ano já de si bem cheio, e agora este sprint em pleno verão, e o calor dão nisto -- chego à noite já quase em modo off. 

Também não tenho oportunidade para beber os chás que costumava beber ao longo do dia, chás e infusões. Careço disso e agora nem sempre posso. Provavelmente, a água que bebo não produz o mesmo efeito que o chá verde e as infusões de camomila, erva cidreira, lúcia-lima que agora pouco consumo.

Digo que careço mas não sei se é correcto: pode não ser carência, pode ser apenas um hábito.

No regresso, já o céu de um dourado quase nocturno, vim ao telefone e a ouvir música. Gosto de conduzir assim.

Cheguei, estacionei, calcei os ténis e fui andar. Passava já bem das nove quando entrei em casa. Vale-me o ter já a comida feita, sopa e, hoje, lombinho estufado e, portanto, é apenas aquecer, juntar salada. Acompanhei com vinho branco bem gelado, coisa pouca, acho que nem um copo inteiro, e um copo de sumo de beterraba e maçã bem gelado. No fim, comi um damasco e comi um bocado de queijo de cabra. Adoro queijo, e gosto de o misturar com fruta ou de lhe pôr um pingo de mel de urze em cima.

Depois ainda algumas arrumações e, quando aqui chego ao sofá, a primeira meia hora é para adormecer de cinco em cinco minutos. Há mails ou comentários, alguns a que tenho mesmo vontade de responder, leio-os com gosto, mas penso: se me ponho a responder, chego ao fim boa para encostar de vez e escrever no blog, está quieto, zero. Mil desculpas, meus amigos.

Amanhã, irei levantar-me cedo, como sempre, e hoje já escolhi a roupa. Prefiro fazê-lo de véspera porque, quando desatino, perco imenso tempo, parece que nada combina com nada, parece que nada é adequado ao ar do tempo, ponho-me a vestir e a despir, com vontade de me embalar numa porcaria qualquer, esperar que um shopping qualquer abra, e ir escolher uma toilette brand new que faça pendant com o meu estado de espírito Tolices, claro. Mas perco tempo. E, assim, essa etapa de duração imprevisível não fica para de manhã, já que, de manhã, é sempre a abrir, tempos espremidos.

O pequeno-almoço é tomado sentada, gosto de estar tranquilamente a comer, por vezes enquanto ouço as primeiras notícias da manhã. Agora o meu pequeno-almoço é composto por uma banana e um pêssego, depois iogurte ou kefir com cereais, muesli. Por vezes junto frutos secos. Segue-se um café.

Ao almoço, sempre que posso como peixe e legumes. Quando vou, depois de almoço, para o meu gabinete, se não me esquecer de manter o reaprovionamento (coisa que desgraçadamente acontece com frequência) como dois quadrados de chocolate preto. Gosto muito de chocolate preto, forte, quase puro.

Muitas vezes, também se estou no gabinete habitual, a meio da tarde como duas bolachas recheadas de fruta ou, então, uma maçã.

Acho que não como muito mas a verdade é que não sou magra. Aliás, nunca fui. Acho que não se pode dizer que seja gorda mas gostaria de, no mínimo, ter uns três ou quatro quilos a menos. 

Ao longo do dia, quando estou a trabalhar, não tenho sono e a maior parte das pessoas até se surpreende com a minha energia. Não me vêem aqui, como estou agora, só a bocejar... já mais a sonhar com voos, brancas cavalgadas e noites de luar do que com energia para o que quer que seja.

Os cavalos foram fotografados por  Carina Maiwald

E vem grande parte desta conversa a propósito de um vídeo que o meu amigo google seleccionou para mim. Conhece-me melhor, este algoritmo, do que grande parte dos meus melhores amigos.

Seleccionou a música lá de cima, a Halie Loren a interpretar In a Sentimental Mood, seleccionou o vídeo da Nature que vou colocar mesmo no fim, Come fly with me, e este já aqui abaixo. Juro que fico perplexa com a simpatia deste meu compagnon de route. Adivinhou que eu estava in a sentimental mood, adivinhou que me apetecia que me levassem a voar e adivinhou que eu adoraria saber um pouco mais sobre o meu cérebro.

Partilho convosco porque acho que este vídeo é serviço público. Sugiro que o vejam também porque é bastante interessante e útil.

How the food you eat affects your brain


When it comes to what you bite, chew and swallow, your choices have a direct and long-lasting effect on the most powerful organ in your body: your brain. So which foods cause you to feel so tired after lunch? Or so restless at night? Mia Nacamulli takes you into the brain to find out. 


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Há bocado, na minha tentativa frustrada de deambulação, perdida de sono, passei os olhos pelo título: O mal: um desafio aos limites da razão. Espreitei. Não li. Fujo do mal como se, fugindo, ele não me apanhasse.


Mas, de uma maneira ou de outra, sempre acaba por tocar-me. Ouço agora a tragédia do aeroporto de Istambul. iam em turismo ou em trabalho, não interessa, e viram-se a meio do inferno. Mais de trinta mortos, muitos feridos. Uma coisa diabólica esta. Chacinas levadas a cabo por gente doida.


Mas não quero falar nisto. Dizer o quê? Que o mal anda à solta? Sempre andou. Parece que o género humano, de vez em quando, em certas zonas do globo, passa pela compulsão da destruição.

Prefiro não olhar, quase ignorar -- como acima disse, quase como se, evitando olhar ou pensar nisso, ajudasse a que o mal se mantenha, para sempre, bem longe de mim e dos meus: não me contagie, não me salpique.

Alguns dos meus Leitores, talvez os mais cínicos, são capazes de achar que tanta ingenuidade minha é sinal de estupidez. Eu penso que nem será (apenas) isso: será talvez um instinto de sobrevivência ainda muito animal, ainda não maculado pelo meu lado racional. Quero tentar viver feliz, longe de angústias e de medos - só isso.

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Prefiro, antes, partilhar convosco o vídeo dos pássaros que voam alto, livres, sem conhecerem os tormentos em que se afogam alguns estúpidos humanos

Come fly with me


In this Nature Video, we see how researchers at the UK's Royal Veterinary College put data loggers on ibises to record their position, speed and wing flaps when they migrated. The ibises position themselves within the V so that they benefit from the flow of air created by the bird in front. They carefully time their wing flaps with their flock mates', to get an extra lift when flying high.


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E, por agora, mais nada. Estava com vontade de partilhar convosco a voz que há pouco me trouxe a poesia de que eu estava precisada mas, agora quando a fui procurar, apareceu-me o próprio poeta, não a dizer um poema mas numa das suas cínicas tiradas: ironia, provocação, talvez apenas o prazer de usar palavras.

Bukowski define o amor



Não concordo. O amor não desaparece assim tão facilmente. Disparate.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.

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