quinta-feira, março 31, 2016

Depois da Matemática e o Sexo respondo a: Quem sou eu?
A pergunta pode parecer filosófica e, verão, até mete mitologia grega -- mas não se assustem que eu sou uma rapariga simples, é tudo muito básico


Abaixo falei da matemática aplicada ao sexo e, quando se juntam duas coisas boas, já sabem o que é. Epifania ou apoteose? Ou, antes, o desmontar de mitos? Ou, simplesmente, a explicação para muita coisa? Talvez tudo isso. Os consultores falariam de uma situação virtuosa mas eu, que não sou dada a consultorias, apenas convido, quem ainda não conhece, que vá até lá de visita que talvez goste. Digo eu.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, vou de novo pela mão do meu grande amigo, o algoritmo da Google. Um dia destes ainda arranjo uma paixão verdadeiramente virtual. Mas então não é que este meu enigmático amigo põe à minha frente toda a espécie de agradinhos? Faz-me rir, faz-me pensar, intriga-me, provoca-me. E sem me pedir nada em troca. Eu é que sou boazinha e retribuo, divulgando aqui alguns dos presentinhos que ele, melifluamente, me vem deixar nas mãos.

Mas tem mais. Não sei que coisa tenho eu que faz que quem eu deixo que se aproxime mais de mim, às tantas, tenha vontade de me educar. É sempre. Ou isso ou proteger-me. Mesmo os meus colaboradores, volta e meia, se estou a apertar com eles, dizem que eu descanse, que não me preocupe, que eles resolvem tudo. Ainda ontem, a propósito de um problema que me foi colocado, um me disse, todo arreliado, que não percebia porque é que me tinham incomodado com aquilo, que ia saber porque é que não me tinham deixado em paz que ele resolvia a coisa sem eu ter que me preocupar. Enterneço-me. Posso nem sempre o demonstrar mas, a sério, que gosto. E que acho piada. Ainda me lembro de um grande amigo meu dizer que eu dou a ideia de parecer precisar de ser protegida mas que era um grande engano, que quem cai nessa, às tantas já está é sob a minha protecção.

Pois bem. Vem isto a propósito de todos os dias, nas estatísticas do blog, aparecerem como palavras de entrada cá o que as pessoas escrevem no google: 'Quem é a autora do blog Um Jeito Manso?'.


Já fiz vários posts a tentar responder a essa pergunta (por exemplo: aqui, aqui e aqui) mas, pelos vistos, as pessoas não se dão por satisfeitas. Ou são outras pessoas que ainda não leram o que antes já escrevi. E, estava eu a pensar nisto, quando vejo que o Youtube me sugeria o vídeo que abaixo partilho: 'Quem sou eu?'. Nem mais.

Já o vi e fiquei agradada. É mesmo isso. Mas deixo o vídeo para o fim e vou, uma vez mais, tentar satisfazer a curiosidade dos meus leitores. Se não se importam, vamos com música, com uma das minhas soul mates, Melody Gardot. O ano passado via-a numa noite estrelada no jardim do palácio Marquês de Pombal. Será que ela vem este ano a Lisboa?

Bem, adiante.



Gosto de ler salteadamente, gosto muito de ler diários ou entrevistas ou cartas ou apontamentos ou pensamentos à solta ou ensaios ou pequenos contos -- porque isso vai bem com o meu espírito desordeiro, de ler ao acaso. De vez em quando lá leio de cabo a raso mas, cada vez mais, isso é menos frequente.

Gosto de muitas coisas na internet, nomeadamente no youtube: vídeos com números de burlesco, com jazz, com coros religiosos, com pop, com blues, dança de toda a espécie, poesia, gente que não sabe arrumar o carro, perfumes, gente a bordar, escultura em movimento, o que calhar.

Divertem-me (e, no fundo, dão-me pena) as pessoas que elegeram um género ou um autor e dizem que é o melhor do mundo e que tudo o que há para além disso é coisa menor.

Maçam-me as pessoas monocórdicas que só se interessam por um ou dois assuntos e que, para além disso, parecem rodeadas por um estranho vazio.

Quando as pessoas estão a falar muito a sério de um assunto, especialmente se eu achar que a conversa está a entrar num estilo doutoral, e me parece que elas julgam estar perto de atingir o nirvana, se eu achar que são inteligentes, gosto de dizer ou fazer uma parvoíce qualquer para que percebam que isso do céu é muito relativo. Se achar que são burrinhas, poupo-as.


Gosto de ver toda a gente feliz à minha volta. Se vejo alguém tristonho, fico logo com vontade de levar essa pessoa pela mão até ao pé do mar para que sintam que há milhões de possibilidades de que tudo volte a ser bom. Ou gosto de saber o que se passa. Quando as pessoas falam no que as atormenta, no fim da conversa já estão mais aliviadas.

Gosto muito de ouvir dizer poesia. Muito. Gosto de ter prazer e ouvir dizer poesia é um dos muitos prazeres a que gosto de me sujeitar.

Gosto de ser surpreendida. Por exemplo, agora virei a televisão para a RTP 2 e estou a ver uma cena do além, nem sei bem o que é mas que estou surpreendida, lá isso estou. Uma mulher nua e outra armada em castigadora. Agora a beijarem-se na boca. Parece que houve um crime. Agora acabou. O que seria? Falavam português.

Nisto dos blogues também gosto de não saber o que vou ver. Gosto de visitar blogues que eu ache que por ali se escreve muito bem. Cansam-me os que falam elipticamente ou por meias palavras, como se fossem recados encriptados, como se os autores tivessem alguma na manga contra incertos. Acho que isso não acrescenta nada à felicidade de ninguém, são pura perda de tempo. Cansam-me, também, os que se repetem uns aos outros. Aliás, cansam-me as pessoas sem ideias próprias. Aquelas pessoas que, se a gente leva a conversa num sentido, já nos estão a dar razão mas que, se dermos um twist e levarmos, com assertividade, a coisa no rumo oposto, continuam convictamente a dar-nos razão -- dão-me pena. No fundo, involuntariamente desprezo-as. Marias-vão-com-as-outras, uma praga.


Gosto de aprender. Gosto de aprender coisas de que não sei nada. Há pessoas que se interessam por um assunto e estudam tudo, tudo, tudo o que há a saber sobre isso. Respeito-as. Até as admiro. Mas, sem querer, dão-me um bocado de pena. Dá ideia que se se fazem velhas sem conhecerem do mundo nem um bocadinho: afunilam num único tema e por esse tema morrem. Sou o oposto: gosto de saber pouco de quase tudo. Gosto do prazer infantil da descoberta e, de, guardando a afeição, ir em busca de novos tesouros. É como se, para mim, o mundo fosse uma imensa arca cheia de jóias raras, riquezas múltiplas, infinitas, infinitas. E eu a querer descobrir, só pelo prazer de descobrir. Não de possuir, não de saber a origem ou a história de cada uma. Apenas o prazer de descobrir.

Acho que sou, antes de mais, um animal. Um animal irrelevante, frágil. Tento não me esquecer de como vivem os animais: alimentam-se, reproduzem-se, vivem a sua vida, e, quanto muito, preocupam-se com a sua sobrevivência. De resto, é prazer e ir levando. Assim devo fazer eu: sem me achar importante, sabedora, imprescindível, ir vivendo tanto quanto possível na boa, tentando que, à minha volta, se esteja também bem.


Quando erro, corrijo, peço desculpa, tento de novo. O meu orgulho não se manifesta nisso. O meu orgulho manifesta-se noutras coisas. Já estou melhor, já não me importo tanto de dar o braço a torcer mas é verdade: tenho o meu pequeno lado de diva. E também é verdade que, se sinto que as minhas reacções não são indiferentes a alguém e se, por algum motivo, me sinto provocada, então, sim, sinto um prazer que não controlo (melhor: que não quero controlar) de fazer sofrer, um sofrimentozinho que quero que seja bobo, coisa pouca, mas que doa lá onde doem as incertezas. É verdade, gosto de tirar o tapete. Gosto. Às vezes, depois vou lá e dou a mão, digo a verdade, que era mesmo só for the fun of it. Outras não.

Também sou horrível a fechar portas pois, quando as fecho, estão fechadas para todo o sempre. E nunca mais me lembro, nunca, nunca mais -- porta fechada, fica fechada forever.
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E podia continuar por aqui a falar verdades, cada uma mais privada (e, mesmo, íntima) que as anteriores. Muitas são assim desde sempre. Outras foram ganhando corpo com a idade. Fui mudando ao longo do tempo, toda a gente muda. E isto são apenas vertentes de mim.

E, em vez de ter dito isto, poderia ter falado nas cores ou pedras preciosas que prefiro, ou poderia ter-me descrito fisicamente, ou poderia ter falado de autores preferidos, ou poderia ter falado da minha profissão, ou da minha família, ou do quanto gosto de cozinhar ou de fotografar ou de pintar ou de fazer tapetes de arraiolos. E tudo estaria certo.

Portanto, de facto, qual a minha definição? Quem sou eu?

Não sei dizer. Mais: acho que, quando chegasse ao fim, o que tivesse escrito estaria desactualizado. Eu seria, então, já outra.


Por isso, não me alongo mais. Passemos, então, ao vídeo. Lá, explica-se isto da impossível definição.

Who am I? A philosophical inquiry - Amy Adkins


Throughout the history of mankind, the subject of identity has sent poets to the blank page, philosophers to the agora and seekers to the oracles. These murky waters of abstract thinking are tricky to navigate, so it’s probably fitting that to demonstrate the complexity, the Greek historian Plutarch used the story of a ship. Amy Adkins illuminates Plutarch’s Ship of Theseus.



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Usei fotografias de Kate Moss (da autoria da dupla Mert and Marcus) porque a acho versátil e disponível para ser vista segundo os mais diversos ângulos e não é por acaso que os fotógrafos adoram fotografá-la. 
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E agora, se ainda não viram como é que a Matemática se aplica ao Sexo, deixem que vos recomende a visita do post já a seguir.

(NB: Estou cheia de sono, não consigo reler o que escrevi nem garanto que o que saiu faça sentido; se encontrarem erros ou omissões, por favor relevem; ou melhor, se estiverem para isso, avisem-me, está bem? )

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4 comentários:

P. disse...

Caramba, se você escreve assim com sono o que será acordada? Acho que tem razão no que diz aqui. A mim também me falta saco para certos maraus. E também me dá para gozar um pouco com eles/as se a ocasião se proporcionar. Olha que pena não ter visto essa cena das beijocas entre mulheres! E quanto a reabrir portas é complicado. Quando se chega ao ponto de as ter de fechar, para quê voltar abrir?
Vejo entretanto (num Post anterior), que o “Um Jeito Manso” já tem seguidores/admiradores árabes! Muito bem! Boa gente, pena não apreciarem porco.
Vá continuando a divertir-nos!
P.Rufino

Rosa Pinto disse...

Quem é a autora de UJM?
Não interessa o nome, o rosto...é uma pessoa muito "fixe", que escreve "bué" bem e nos deixa a sorrir depois de ler UJM.
AH. Cuidado...é viciante!!!!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Quando estou com sono, geralmente nem sei o que escrevo. Pode ser que saia coisa que se leia. Mas também pode sair um bacalhau com asas.

Uma boa noite!

Um Jeito Manso disse...

Olá Rosa Pinto!

Gostei de ler o que escreveu. Aliás, gosto sempre. Mas hoje gostei de uma maneira diferente. Obrigada!