quinta-feira, fevereiro 25, 2016

A todos quantos parecem ter sido afectados pelo Zika-B


Se eu perguntar aos desvairados deputados do PSD e CDS (especialmente aos primeiros), aos desvairados comentadores que pululam entre as rádios e as televisões e aos desvairados moderadores de debates e jornalistas que, todos eles, parecem ter sido afectados pelo Zika-B, se têm um plano alternativo (e que explicitem as respectivas medidas) para o caso de alguma coisa imprevista se passar, o que me responderiam?

Antevejo que grande parte deles nem parava para pensar e, com o voluntarismo imprudente dos néscios, na ânsia de parecerem espertos, dariam, imediatamente, uma resposta do género:
  • O pateta Baldinha diria que sim, que tem, que há que tempos o tem, que já tem Ben-u-Ron para o que der e vier.
  • O pateta Montinho diria que sim, claro que sim, que já está munido de guarda-chuvas.
  • A pateta Matinhos diria que sim, toda a gente deveria também já estar preparada: que já tem escolhida a estação de serviço onde irá encher o depósito de combustível.
  • O pateta Dininha diria que com certeza, já tem consigo o protector solar.
  • O pateta Ferrinha diria que desde o início do ano que tem tudo a postos: já tem preparado um bolso secreto no colchão para esconder o dinheiro.
E imagino-os a dizer, convictos, impantes na sua prosápia: ‘Obviamente!’ como se outra coisa não fosse de esperar.

E, no entanto, o plano do pateta Baldinha poderia não servir de nada se o problema dele viesse a ser o ter furado um pneu, ou o do pateta Ferrinha para nada prestaria se o problema fosse ele ter imprevidentemente temperado o bacalhau com demasiado alho e, a seguir, aparecer-lhe pela frente a mulher dos seus sonhos.

Ou seja, plano B para um problema exactamente de que tipo?
O que é que estão exactamente a querer saber?!

Vem isto a propósito de, tendo sido aprovado o Orçamento pela maioria de esquerda em peso, sob aplauso das respectivas bancadas, logo de seguida, como cães a um osso, toda uma chusma de deputadeiros, comentadeiros e jornaleiros ter desatado, num inusitado frenesim, a discutir:
Qual o plano B? (- by Micaël Reynaud)
Qual o plano B? 
Há ou não há plano B?
Quais as medidas do plano B? 
Quem é que sabe se há plano B? 
Quem é que afinal está a preparar o plano B? 
Quem é que, no meio disto, escolhe as medidas do plano B? 
A deputada do BE? O ministro? Quem?!? Onde é que está o plano B? Digam!
- como se todas as questões do País, neste momento, girasse em torno do famigerado Plano B.

[Claro que a discussão teria mais graça se, em vez disso, se reunissem todos a discutir se há ou não Ponto G. Mas isso é lenha a mais para a camioneta deles, preferem entreter-se com ficções.]
E eu assisto àquele espectáculo e nem sei que pense. Estará tudo doido? Foi o Zika-B, foi? 

Então uma pessoa quando se propõe fazer uma coisa, deve é de imediato concentrar-se em preparar-se para o falhanço daquilo a que se propõe? 

E eles? Será que aquelas pessoas (o Baldinha, a Matinhos, o Batatinha, a Cebolinha, o Parvinho, o Anormalzinho, o Alhinho, a Alfacinha, etc), antes de saírem de casa, preparam-se de acordo com o tempo que faz, com o local para onde vão ou para o que vão fazer, ou, em vez disso, ficam atarantados  a preparar-se, à toa, para tudo o que der e vier e mais um par de botas?

Deixa-me cá levar o chapéu de chuva, deixa-me cá levar o chapéu para a cabeça, deixa-me cá levar o protector solar, deixa-me cá levar o Imodium, deixa-me cá levar pastilhas para a garganta e, já agora, também para a azia, deixa-me cá levar um penso, ou melhor, deixa-me cá levar pensos para vários fins e de várias dimensões, deixa-me cá levar uma bomba de encher pneus, deixa-me cá levar uma fisga para o caso de me cruzar com o Cavaco, deixa-me cá levar champô para cabelos oleosos para o caso de me cruzar com o Nuno Magalhães, deixa-me cá levar meia dúzia de ovos e um quilo de açúcar para o caso de me cruzar com o Láparo e lhe quiser fazer um agrado, não vá ele apetecer-lhe fazer farófias no intervalo do plenário, deixa-me cá levar um depilador para o caso de me cruzar com o Catroga, deixa-me cá levar uma sandes para o caso de me dar a fome, deixa-me cá levar um submarino de brincar para o caso de me cruzar com o ex-irrevogável e me apetecer fazer-lhe pirraça, deixa-me cá levar uma embalagem de Depuralina para o caso de me cruzar com o Amorim e querer ser simpática, deixa-me cá levar um colchão portátil para o caso de precisar de dormir a sesta enquanto a cassandra Medina estiver a antever calamidades, deixa-me cá levar comprimidos para os nervos caso seja obrigada a ouvir o António Costa (comentador), o David Dinis, o José Gomes Ferreira, a Helena Matos, o Baldaia, o Henrique Monteiro, etc, etc, deixa-me cá levar um gorro de pele à russa para o caso de nevar ou de me cruzar com o Putin, deixa-me lá levar um calicida para o caso de me nascerem calos de criar bicho, deixa-me cá levar umas botas para oferecer à Judite Sousa caso me cruze com ela, deixa-me cá levar uma garrafa de azeite e um queijo para o caso de me cruzar com o Fernando Mendes, deixa cá levar uma protecção contra o vírus da gripe para o caso de ouvir alguém espirrar, ….  

E podia continuar entretida com um plano B só para fazer boa figura e nenhum blogger pafiento embirrar comigo, nenhum comentador me apanhar em falso ou para o puto malandreco do PSD e seus coleguinhas não terem por onde me pegar -- porque, em abstracto, tudo pode acontecer e cinquenta mil milhões de medidas podem não ser suficientes para o que, na realidade, vier a ter lugar (especialmente se falarmos de um Act of God).

Por exemplo, o que fariam as viúvas do Láparo se o cão lhes nascer com cabeça de couve-flor?
Sim, o quê?
Qual o plano B?

. & .

Quero com isto dizer que quem traça um plano se deve meter a ele, às cegas, sem querer saber de desgraças? 

Não, claro que não. A questão não é essa.

A questão é que as pessoas competentes, experientes, inteligentes, sabem que têm que monitorizar de perto o que se passa, que existem mecanismos de mitigação para possíveis riscos, que têm que estar preparadas para, em tempo útil, mobilizar recursos para atacar onde for preciso. E sabem também outra coisa: que não se deve perder muito tempo com estes bandos de artolas que não fazem a mínima ideia do que é isto e que, portanto, por aí andam feitos baratas tontas inventando parvoíces e disso fazendo um modo de vida.
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E até já. E, provavelmente, com uma coisa completamente diferente porque, verdadeiramente, nada disto se pode levar a sério -- por exemplo, agora, à hora a que aqui estou, o láparo e as suas viúvas, completamente atarantadas, já andam aos saltos e aos guinchos, tresloucadas, em torno do assunto Novo Banco: nacionaliza? Não nacionaliza? Tão bom que ele era e agora assim? Mas como foi isto? E a credibilidade do sector financeiro português que era tão boa, tudo tão sólido, como fica? Ó céus, ó deuses!

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E, caso tenham aterrado aqui agora, permitam que vos sugira que deslizem por aí abaixo que a conversa que se segue é mais agradável: surrealismo, Cesariny e etc.


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