sexta-feira, junho 27, 2014

Portugal está fora do campeonato de 2014. Out. Desta vez a copa parece não ter passado de um devaneio pueril, digo eu que percebo pouco disto. Para se ganhar é preciso ter garra, ganas. E orgulho a sério.


Hoje de tarde, lá no trabalho, penso que à semelhança do que deve ter acontecido um pouco por todo o país, uma vez mais uma sala foi preparada para quem quisesse assistir ao jogo. Mais uma vez não me senti motivada. Contudo, às tantas, achei que tinha que me deixar de feelings e lá fui. Estive uns 4 ou 5 minutos. Não. Qualquer coisa naquela equipa me parece desfocada, parece que não têm aquela cola que leva um grupo a ser uma equipa que avança como que obedecendo a um só comando. Fracos, desencontrados, pouco engrenados uns nos outros.

Regressei ao gabinete, pus coisas em dia, tratei de uns agendamentos pendentes. Quando, passado um bom bocado, por lá passei, alguém me disse que estava 1 a 1, os dois golos do Gana. Ao princípio nem percebi se era piada. Mas não. Em resumo: estava naquela coisinha pouca da qual não saem vitórias que se vejam.


Saí mais cedo, pensando que deveria sair enquanto durava o jogo para evitar o trânsito. Quando saí das catacumbas do estacionamento, pensei, deixa-me mas é pôr no relato não vá haver algum golo e eu perder o momento. Qual não é o meu espanto quando, ao ligar, ouço o locutor da TSF em crescendo a relatar uma jogada - e golo do Ronaldo. Depois desatou a cantar, um exagero. Improvisava versos enquanto cantava. Não sei se costuma fazer isso ou se ficou tomado por uma estranha euforia. É que, de facto, face à anemia do resultado e face à não verificação da miraculosa conjugação de factores que conduziria ao apuramento, aquele golo era apenas um apimentar da tristeza da derrota que é a eliminação logo nesta primeira fase. Mas, enfim, se calhar tanto esperou este golo que, quando ele aconteceu, se passou e, em vez de gritar simplesmente Gooooolooooo!, desatou naquela cantoria.

Depois aproveitei para ligar à minha mãe. Quando regressei à rádio, estava o jogo a acabar. Mal acabou, liguei à minha filha. Som de choro. Diz-me a minha filha, Dá para acreditar nisto? É surreal... Está a chorar porque queria que o Ronaldo marcasse mais golos.

Explicou que o nosso rapazinho anda desde o início do campeonato a querer ver o Rinaldo (como ele diz, já aqui vos contei) a marcar golos. Debalde.

Quando a minha filha os foi buscar à escola, ouviu que o Ronaldo tinha acabado de marcar um golo e contou-lhe, tendo ele ficado decepcionado por não ter visto. Ela, para o consolar, disse que ainda chegariam a casa a tempo de se ver o resto do jogo e podia ser que ele marcasse mais algum. Azar. Nem mais um. A criança à espera e nada.

Como parece que deu em maluco da bola, teve um desgosto desgraçado por não ver o Ronaldo marcar golos. Além disso, o irmão deve ter-lhe explicado que Portugal foi eliminado e que, portanto, o dito cujo já não vai ter mais hipóteses de lá meter golos.

Pedi para falar com ele, para ver se o consolava, mas nem me deixou falar, apareceu-me ao telefone, num pranto, que não tinha visto o Rinaldo marcar golos, que queria ver 3 e que não tinha visto. E, tendo desabafado, foi carpir para outro lado. Sugeri à minha filha que, para o consolar, lhe mostrasse aquele vídeo do youtube que mostra os melhores momentos do CR7. Ela começou por achar bem mas depois hesitou, era o que mais faltava é que o puto, 3 anos acabados de fazer, se tornasse maluco da bola e com uma idolatria disparatada por um jogador.

Quando acabei este telefonema, outra vez a rádio. 

Estava o Bruno Alves a dizer ao repórter que o apuramento da equipa portuguesa dependia de outras selecções e que o futebol é assim mesmo e mais não sei o quê e rematou dizendo que tinha muito orgulho no que tinha feito e em ser português. 


Pensei que mais valia que estivesse calado. Se foram jogar a achar que dependiam de outros, então está tudo explicado. Quem vai à luta, deve ir a contar apenas consigo mesmo (estando atento aos outros, claro, mas contanto sobretudo com a sua própria força, inteligência, espírito de equipa). Bruno Alves, depois de Portugal ter sido humilhantemente eliminado, pode ter orgulho, é coisa lá dele e ainda bem que tem orgulho em ser português - mas orgulho na participação portuguesa?

Desliguei.

Não sei de futebol para poder opinar. Só me parece que não é normal tantos jogadores lesionados, comportamentos tão díspares, tanta falta de élan, e tanta gente a dizer que não se demite.

Deve ser moda nova: façam a porcaria que fizerem, ninguém se demite e ainda dizem que se sentem orgulhosos do que andam a fazer. É o Passos, é o Seguro, é o Paulo Bento, é o preparador da Selecção. Eu, que sou desapegada, parecer-me-ia mais lógico que dissessem, Não correu bem, as pessoas estão descontentes, vamos sair para dar a vez a quem possa tentar fazer melhor. Mas não. Façam a porcaria que fizerem, ficam agarrados aos lugares: de derrota em derrota até à derrota final e sempre todos contentinhos.


Não há pachorra. 

Entretanto cheguei a casa. Depois fiquei a pensar: afinal devo ter apanhado trânsito mas vinha tão ocupada que nem dei bem por isso.


Nota: Para que não fiquem a pensar que ando em infracção, informo que o carro tem bluetooth, pelo que posso telefonar à vontade.  


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