segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Santana Lopes e as noitadas em S. Bento regadas a whisky e chá - as inconfidências de Fernando Silva (Reportagem da revista Sábado com 'AS HISTÓRIAS DO MORDOMO DE S.BENTO')


No post já a seguir a este mostro um filme que só se forem muito apressados e muito desligados do lado maravilhoso da vida é que deixarão de ver. Pode ser que tenham outras razões mas não quero saber. Acho que não há desculpa se o não virem. :)

A seguir a esse, há um outro post no qual explico como, não podendo dizer 'a mangueirada foi bem no meio da testa, estes não enganarão mais velhinhos nos caminhos da floresta' em relação a essa cambada que por aí anda, restringi-me ao meu curto raio de acção e, vai daí, varri o look anterior do Um Jeito Manso para o substituir por um mais jungle, mais como me apetece estar neste momento. 

Mas se, por um lado, só me apetece pensar em coisas boas, por outro não consigo virar as costas a uma boa piada.


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Que entre o Menino Guerreiro

(Hino feito para Santana Lopes)




Aqui há tempos um ex-ministro de Santana Lopes contava-me uma das muitas peripécias dos tempos loucos dessa governação. Fartámo-nos de rir. Claro que ele não conta proezas desse tempo em público mas, em privado, a coisa é contada de forma suculenta e eu só não a conto aqui porque, mais do que gostar de contar uma boa laracha, prezo a confiança que os meus amigos depositam em mim.

Por isso, não são inside stories desses tempos que hoje aqui conto mas antes aquelas que o ex-mordomo de S. Bento revela na revista Sábado desta semana.

Fernando silva reformou-se aos 69 anos depois de trabalhar 42 anos em S. Bento. O artigo, da autoria de Vítor Matos, tem graça. Fernando Silva conta pormenores de cada um dos muitos primeiro-ministros com quem trabalhou. Trabalhou com todos desde Marcello Caetano até Passos Coelho. 


Há coisas curiosas de vários mas centro-me no enfant terrible Santana que pintou a manta enquanto foi primeiro ministro.

Transcrevo um excerto do artigo que contém palavras do próprio Sr. Fernando Silva.
'Sempre lidei com o Dr. Santana Lopes e era um homem impecável. Mas quando entrou para primeiro-ministro talvez o mundo lhe tenha subido à cabeça. Aquilo mudou como do dia para a noite. Não sei se as pessoas não tinham conhecimento do que era um gabinete de um primeiro-ministro. Um dia, o chefe de gabinete pediu um cinzeiro a um colega meu, coitadito, que já era velhote, e lhe disse que ali ninguém fumava. 'Sr. Dr. vou ver se arranjo...'. Mas ele pega no charuto que estava a fumar e apaga-o em cima da secretária do contínuo. Andava tudo às aranhas'.
Há nove anos, desde Cavaco, que ninguém morava no palacete, mas Santana Lopes mudou-se e estipulou novos horários. Por norma, os contínuos só trabalhavam até cerca das 21h30 ou 22h, mas apenas no caso de o primeiro-ministro ficar para jantar. Com Santana a hora de saída passou a ser à 1h.
'Aquilo era uma desorganização total. Uma vez fiquei até às 17h à espera que o primeiro-ministro fosse almoçar. A essa hora, vi-o sair no portão com o motorista e tirei a mesa. Mas às 17:30 voltou. Perguntou quem mandara tirar a mesa. E eu disse: 'São cinco e meia da tarde e ainda vai almoçar? Mas em dois minutos ponho a mesa!' Noutro dia, era 0h55 quando me desfardei. À 1h, um assessor ligou-me: 'Não saia, que o sr. primeiro-ministro vai para aí'. Vesti então o casaco azul em cima do pulôver e fui servir-lhe o whisky. No dia seguinte, por ordem da chefe de gabinete, transferiram-me para o gabinete do assessor militar, do outro lado da rua.'
(...)
'Festas não havia (em S. Bento). Mas ele recebia pessoas. Às vezes eram 21h ou 22h, apareciam ministros ou pessoas amigas. Ficavam até às 3h ou 4h. Ou 5h. Era conforme. E a gente tinha de lá estar. Eu ou outro colega. Nessa altura, tinha mais dois colegas que faziam o mesmo: serviam whiskies, cafés e chás. Nessa fase gastava umas duas caixas de whisky JB por mês, de seis garrafas cada uma'.
Embora afirme que nunva viu o primeiro-ministro alcoolizado, Fernando Silva diz que Santana bebia sobretudo whisky e chá. Os hábitos noctívagos divergiam do último residente: se Cavaco descia para o gabinete às 8h30, Santana tinha outros ritmos.
'Só se levantava antes das 8h se tivesse muito que fazer. Levantar-se tarde era normal, podia ser às 11h ou 12h, mesmo em dias de semana'

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Observação minha: ao pé da desgovernação de Passos Coelho esta rebaldaria quase me parece um poço de virtudes. 

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A última imagem provém do blogue We Have Kaos in the Garden. As restantes proliferam na net sem que se consiga apurar a proveniência original.

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Relembro: Em querendo, deixe-se escorregar por aí abaixo que há mais dois posts, um dos quais maravilhoso (e o outro tem uma fotografia que também é uma maravilha - ou não fosse da autoria de Mario Testino).

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E, assim sendo, por agora nada mais a não ser desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.
Que se sintam de boa saúde e felizes é o que vos desejo.


5 comentários:

Unknown disse...

Olá UJM,

Pode ter a certeza de que o Santana é um poço de virtudes comparado com o que temos agora. Os Santanas não destroem um país. Como viu, aquilo durou pouco, pior são os Cavacos, os Passos...
Mas lá que há histórias engraças isso há. Lembro-me de pensar, durante o desgoverno de Santana, que estava tudo louco, quando se tinha um PM que era um playboy festivo, que se dedicava era à boa vida, mas tenho-me vindo a arrepender do mal que pensei do Santana.
Acho que o seu discurso no congresso até foi bastante superior a todos os outros, mostrou dignidade e sentimento social, pena foi a parte final dos elogios e da revisão constitucional. Aliás, ele sempre falou bem. Estes Relvas são bem piores, bem mais manhosos. O Santana até tinha a sua piada, era um bon vivant.

JV

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

Felicito-a duplamente.Primeiro por ter substituído o seu papel de parede oitocentista por uma imagem modernaça toda "écolô" e em segundo por ter feito mais uma desmontagem daquela palhaçada em que o láparo nos apresentou na sua versão oportunista de social-democracia de pacotilha!

Um abraço

jrd disse...

Percebo agora porque é que ele só distinguia um barman de um politico consoante o lado do balcão em que o dito estivesse.

Anónimo disse...

Por muito atoleimado e infantil que o homem seja, Santana prejudicou muito pouco o meu pobre bolso, enquanto PM. Também ouvi contado de amigos e até de gente próxima do seu governo algumas historietas patuscas.
Agora esta canalha que hoje desgoverna e afunda o país, consciente e de má fé, gente abjecta, já me rompeu de tal forma os bolsos que só com “linha de combóio” é que – talvez! – eu consiga suster o buraco!
O Santana ao menos, isto numa perspectiva “anarca-humorista”, tratou a “instituição PM” e da governação sem qualquer respeito, como se estivesse na “sua” Kapital e dali a dirigir o país.
Aquilo (aquelas funções que exerceu) não era para ele levar a sério, tão só para fazer curriculum político. A verdade é que, quer se queira ou não, hoje poder-se-á, com toda a propriedade, referir-se a Santana como “o ex-primeiro ministro” e o tipo fica todo ufano – ou se calhar até nem ligará pevas, quem sabe!
E quem não nos diz que foi com uma enorme sensação de alívio que ele aceitou o “despejo político” de Sampaio (embora tenha feito beicinho na ocasião – não podia ser outra a sua atitude, convenhamos)?
Na altura eu costumava dizer, por graça, que eramos um país de opereta. E hoje o que somos, governados por “bestas políticas”?
P.Rufino


Anónimo disse...

O Santana era um "porreiraço", isto mais e aqueloutro, mas se ele tivesse aquecido mais o lugar o país entrava em carrossel sem freio. Pena foi o Sampaio ter-lhe dado chance, em vez de ter logo convocado eleições antecipadas. Assim, provocou a demissão do Ferro Rodrigues e deu azo a que o ladrão do Sócrates fosse para PM.