quarta-feira, janeiro 22, 2014

Quanto foi o défice em 2013? Se foi superior a 3%, então todo o empobrecimento a que temos sido sujeitos e todas as afrontas que temos sofrido, terão sido em vão. Confiram, por favor, qual o objectivo Nº1 do memorando de Entendimento assinado com a Troika.


Ouvi uns zunzuns de que há por aí uns palermas (daqueles que gostam de tomar os outros por parvos) a prepararem-se para cantar de galo com uma grande vitória, um valor para o défice de 2013 que é melhor do que estava previsto, qualquer coisa à volta de 5 ou abaixo de 5.5%, nem sei bem.

Pois bem, para os esquecidos, repesco o primeiro objectivo estabelecido no Acordo com a Troika. 

Tudo isto se destinava a equilibrar as contas públicas, de modo a que se chegasse a 3% em 2013.


Para tanto, o Governo teria que fazer resmas de coisas tendo o cuidado de o fazer minimizando o  impacto da  consolidação orçamental nos grupos  vulneráveis. 

Quase a terminar o prazo de intervenção, onde estamos?

As principais medidas não foram tomadas
(reformar o Estado e acabar com disparidades e ineficiências, etc, etc), 
outras foram feitas para além da dose
(sempre que foi para carregar em cima dos indefesos, esbulhar os trabalhadores, fustigar os reformados e pensionistas), 
os devedores externos já vieram cá 'sacar' e com altos juros quase toda a dívida
(e daí os ratings estarem a melhorar pois, para esses credores, já quase não há risco em Portugal). 


Grande parte da dívida que, entretanto, subiu e bem
(porque o défice se manteve alto, porque foram tantos os desequilíbrios gerados com as políticas criminosas, porque tão elevados foram os juros), 
foi tomada por entidades nacionais
(de modo que, se isto der para o outro, já não são os bancos e fundos estrangeiros que se 'lixam' mas sim os credores nacionais, nomeadamente aforradores, fundos de pensões, etc).


E portanto 

- com a dívida maior do que antes deste pesadelo começar (e classificada como lixo), com mais centenas de milhares de desempregados do que antes, com a saúde pública quase em ruptura, o ensino, os professores, a ciência e a investigação a serem acossados como se de inimigos se tratassem, com a grande maioria da população mais pobre, com os reformados, pensionistas, viúvos a serem tratados como objectos descartáveis, com cerca de duas centenas de milhares de pessoas já fora do país, entre elas os jovens mais qualificados - 

o que temos é um défice não de 3% mas a um nível que demonstra o falhanço e o logro de tudo isto.


Uma farsa tudo isto. Uma farsa ignóbil.


Transcrevo o princípio do memorando assinado em 2011 com a troika:


1. Política Orçamental

Objectivos: 


Reduzir o défice das Administrações Públicas para menos de 10.068 milhões de euros (equivalente a 5,9% o PIB baseado nas projecções actuais) em 2011, para 7.645 milhões de euros (4,5% do PIB) em 2012  e para 5.224 milhões de  euros (3,0% do PIB)  em 2013, através de medidas estruturais de elevada qualidade e minimizando o  impacto da  consolidação orçamental nos grupos  vulneráveis; trazer  o rácio dívida  pública/PIB  para  uma trajectória descendente  a  partir  de  2013; manter  a consolidação orçamental a médio prazo até se obter uma posição de equilíbrio orçamental, nomeadamente através da contenção do crescimento da despesa; apoiar a competitividade através de um ajustamento da estrutura de impostos que seja neutral do ponto de vista orçamental. 

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O que me admira é porque é que a Oposição, nomeadamente o Toto-zé (=Tó-zero), não esfregam isto na cara da pinókia, do vice-irrevogável e do láparo mentiroso. Isto deveria estar estampado em todos os cartazes, em todas as paredes, por todo o lado.


(PS: jrd, gostei desta do láparo, vou passar a usá-la de vez em quando).

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A imagem do porco da troika provém do blogue We Have Kaos in the Garden. As outras foram obtidas na net sem que eu tivesse conseguido perceber qual a sua proveniência original

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