segunda-feira, julho 29, 2013

O susto que hoje apanhei quando cheguei a casa: portas da estante abertas, livros pelo chão... Mas, enfim, devem ter sido eles que resolveram brincar uns com os outros na minha ausência. Nada que afectasse a gorda. Continuou a fazer tricot como se não fosse nada com ela. Mas, por via das dúvidas, já está um Sto. António lá ao pé a ver se estes endiabrados não aprontam outra.


Hoje à noite, quando chegámos a casa, depois de termos estado nos meus pais, tínhamos uma surpresa. E não era das boas. Aliás, à primeira vista, ainda nos assustámos. Livros pelo chão, as portas da estante abertas, uma coisa estranha. 




Depois lá percebemos que tinha sido 'causa natural': deve ter sido a prateleira de cima que se inclinou, uns espigões de madeira onde se apoiava à frente parece que cederam. E, com a força, abriram-se as portas e, na queda dos livros e com a inclinação sobre a prateleira de baixo, caíram também livros das outras prateleiras.

Se tem sido de noite, que susto do caraças que apanhávamos...

Agora a prateleira já está no sítio, mas a ver se amanhã arranjamos uma solução mais estável antes de lá voltarmos a pôr os livros.




Uma vez descobri esta estante na cave, que funcionava como armazém, da casa de móveis que havia junto à minha casa e onde eu me abastecia. Fiquei encantada, é toda de nogueira, com as portas em raiz de nogueira. Mas era cara e aquelas portas de vidro redondo metiam medo. Se se partissem, onde as substituiríamos? A senhora da loja de móveis contou-nos que o dono gostava muito dela e por isso não a mostrava, nunca a tinha posto em exposição na loja, tinha pena de a vender. 


Mede cerca de três metros de comprido o que, vezes três, daria quase nove metros de livros, nada mau, e, além disso, as portas em baixo também dariam um algum jeito. Durante muito tempo, de vez em quando, ia namorá-la. Até que não lhe resisti (guardado estava o bocado...). 

A estante das ondas tornou-se um ex-líbris aqui em casa, toda a gente que aqui vem pela primeira vez encanta-se com ela. 

Um dia um dos vidros rachou. A loja dos móveis já tinha fechado, eram móveis que hoje já se vendem pouco. Abasteciam sobretudo embaixadas mas, mesmo essas, parece que já não precisavam de mais móveis. Falámos, então, com vários vidreiros. Difícil. Vidros em redondo só para a indústria automóvel e com moldes. Lá houve um que se afoitou mas limitou-se a pôr-lhe uma cola transparente para vidros. Mas, vá lá, tem-se aguentado. 

Mas a estante é frágil. Deve ter sido concebida mais para expôr objectos do que livros. A prateleira de baixo também já está presa por umas madeiras (mal jeitosas) que o meu marido lá colocou (mas que ficam disfarçadas no meio dos livros) mas, por via das dúvidas, pus uns livros por cima dos outros, a ver se a sustêm. É que as prateleiras não têm apoios intermédios.

Em tempos comprei uma pequena estatueta de uma mulher gorda, sentada numa cadeira, a fazer tricot. Nessa altura ainda tínhamos connosco a nossa querida cadelinha, uma amiga de que nunca nos vamos esquecer.


Um dia acordámos com ela a ladrar freneticamente, daquele ladrar que ela fazia quando cercava um gato. Levantámo-nos. Estava ela, naquela posição de ataque e desafio, patas da frente abertas, cabeça baixa, a ladrar furiosa, a 'enquadrar' a pobre gorda.

Lá lhe explicámos que era amiga, fiz festinhas à inofensiva e paciente tricotadeira para a nossa fera ver que não era uma inimiga que ali tinha aterrado durante a noite. Mas custou-lhe a suportar aquela intrusa. Durante algum tempo, quando passava perto, olhava-a de lado, chegava a saltar, rosnava, ladrava, desafiava. Mas a gorda manteve-se na dela, a fazer tricot, e resistiu.

Agora, com os meus pimentinhas à solta, a coisa fia mais fino. Por via das dúvidas, pu-la num recanto, a ver se escapa incólume. Está entre a estante das ondas e um sofá, mesmo encostada à parede do fundo.




Pois bem, ali estava hoje, de lado, rodopiou com o impacto, no meio dos livros mas inteira e ainda a tricotar. As mulheres de trabalho são umas resistentes.

Gosto muito de artesanato. Tenho algumas peças deste género. A ver se um dia destes me lembro de vos mostrar.

Agora, ao fotografar esta, lembrei-me de fotografar também uma acabadinha de instalar. 

Esta nova peça está numa estante ao lado da acidentada e trouxe-a do Algarve. Foi feita pelo artesão João Gonçalves Ferreira, tem um certificado passado pela adereminho e enquadra-se no chamado Figurado de Barcelos. É um Santo António.




Santo António e menino, de João Gonçalves Ferreira, descansando junto ao Eça de Queirós

- e estou a dizer a origem com este pormenor, não por mim
mas para divulgar o artesanato português,
especialmente aquele que começa a organizar-se e comercializar-se de forma estruturada -




Penso que já uma vez vos tinha mostrado um outro Santo António, a que também acho muita graça. Já se sabe: sempre pouco convencionais. 


(Santinhos bem comportadinhos não é comigo. Aliás, basta ver o que acho do Tozé Seguro.)





E com esta conversa toda, até parece que sou devota de Sto António, não é? Se calhar sou. Sei lá. Sou devota de tantas coisas: de árvores, de rios, da luz, do cheiro a terra molhada e morna como estava este domingo, um cheiro íntimo como o cheiro do corpo de uma mulher, e sou devota de palavras e de quem as escreve e diz e canta, e sou devota de música, e de sorrisos, de mãos que fazem nascer figuras ou cores, e devota de crianças e de quem as faz, tanta coisa.


E, para terminar, música por favor.

Maria Bethânia interpreta Santo Antônio.





Pensando melhor, será que eu encararia melhor algumas coisas, alguns indigentes infra-pensamentos de estado,  se, tal como Bethânia, eu tivesse fé em Antônio? Vou pensar nisso.


***

Antes de me ir, informo que, se quiserem ter uma ideia do que pode fazer uma mulher feliz no local de trabalho (e um homem também...!) é descerem até ao post abaixo. 

***

E, por agora, nada mais - quero apenas desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira!

7 comentários:

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

Mesmo a boa literatura também pesa
mas o Dan Brown mesmo no Inferno pesa muito mais e nem o Santo António lhe vale!!!

Um abraço sesimbrense|

Anónimo disse...

só por curiosidade, essa biblioteca está catalogada?. Pois penso que ainda não existe um site com catálogos online de bibliotecas privadas.Ás vezes penso nisso.

Isabel disse...

O móvel é um espectáculo!
Já me aconteceu o mesmo com uma prateleira de uma estante que também tem portas de vidro. Soltou-se a tabuinha de lado, que suportava a prateleira, por causa do excesso de peso. Mas os livros não caíram para o chão, porque as portas estavam fechadas à chave.
Vamos enchendo, enchendo, mais um livro e mais outro...e depois acontece...

Adorei os Santo Antónios. Muito bonitos os dois.

Estive a espiolhar os títulos dos livros...

Um beijinho e uma boa semana!

Anónimo disse...

Bela móvel! O que eu gosto demóveis com "personalidade" (e história)!
P.Rufino

jrd disse...

Crianças a desarrumar livros é um óptimo sinal para o futuro.
O meu neto já iniciou a "actividade".

Mar Arável disse...

Equilíbrio na assimetria

Maria Eduardo disse...


Também me assustei quando começou a mostrar os livros caídos no chão, mas felizmente que não aconteceu nada de grave!
É uma estante lindíssima e é pena que se parta alguma prateleira ou vidro, pois é muito difícil a sua substituição. Aqui em casa há uma estante que tem as prateleiras apoiadas numas patilhas de metal, que se encaixam nuns orifícios existentes nas paredes da estante e revestidos também a metal. Estas patilhas são amovíveis caso se queira levantar ou baixar qualquer prateleira e são muito seguras!...caso não conheça posso-lhe enviar uma foto.
Um beijinho e boa semana.