quarta-feira, junho 26, 2013

Levem-me para Gliese 667Cc, por favor. Que os seus habitantes me venham buscar ou visitar. Quero estar bem longe do incompetente Vítor Gaspar e do seu colossal défice de 10%, do seu ataque sistemático a quem trabalha ou trabalhou para entregar o fruto do seu roubo ao sistema financeiro, a quem venera; quero estar bem longe do cínico e mau Nuno Crato que atenta contra a dignidade dos professores e enfraquece a posição dos sindicatos. Quero acreditar que, perto de nós, no sistema estelar onde se admite haver vida, habitam seres puros, normais. E, para me animar, vou buscar o João Vasco Coelho para me falar d' O amor de agora.




Gliese 667Cc


Tomara que, algures, em Gliese 667Cc, só haja seres civilizados, vivendo em harmonia, vivendo felizes, entre rios frescos que corram entre árvores frondosas, que os jardins tenham flores magníficas, sombras macias, e que digam entre si palavras muito belas. Tomara que a vida lá seja tão acolhedora, tão repleta de afabilidade que ninguém tenha que se afastar da realidade para se sentir em casa. Tomara que todos vejam a alegria e a bondade no olhar uns dos outros, que genuinamente estendam a mão a quem percebam que sentirá prazer num gesto assim tão simples. 


Send us a quiet night, por favor




Tomara que por lá o ar seja ainda muito puro, a água muito límpida, a luz seja doce, clara às vezes, coada outras. Ou que as noites sejam secretas, mágicas, habitadas por doces ilusões, desejos ardentes. Tomara que haja um dia inteiro cheio de luz para os que gostam de viver de dia e um dia inteiro cheio de noite para os que gostam de se mover entre as sombras. Ou que seja fácil deslocarem-se de um lugar para o outro, talvez bastando o pensamento.

Tomara que os habitantes de Gliese 667Cc estejam perto de mim, que me vejam, que me conheçam, que sorriam com compaixão quando me excedo, que me olhem com ternura quando deixo que a imaginação me leve. Tomara que um dia me venham visitar. Tomara que estejam, até, aqui do lado de fora da minha janela, dançando sobre o rio. 

Tomara que desconheçam a mesquinhez, a mediocridade. Que sejam artistas, uns pintando, outros compondo, outros tocando, outros escrevendo, outros dizendo poesia. Ou cientistas que construam caminhos de amor, caminhos de palavras e de luz. Tomara que um dia eu acorde rodeada por eles como se estivesse dentro de um sonho.



This artist’s impression shows a sunset seen from the super-Earth Gliese 667 Cc.
The brightest star in the sky is the red dwarf Gliese 667 C, which is part of a triple star system.
The other two more distant stars, Gliese 667 A and B appear in the sky to the right.
Astronomers have estimated that there are tens of billions of such rocky worlds orbiting faint red dwarf stars in the Milky Way alone.


(Caption and image courtesy of the ESO/L), daqui


Não é impossível. Hoje soube uma coisa que me encheu de sonho: Astrónomos identificaram um sistema estelar, muito próximo da Terra, com pelo menos sete planetas, três dos quais a orbitar uma estrela numa região onde a água pode existir em estado líquido, informou, esta terça-feira, o Observatório Europeu do Sul.





Segundo uma nota do OES, organização da qual Portugal é um dos países-membros, trata-se do "primeiro sistema que se descobre onde a zona habitável se encontra repleta de planetas", o que os torna "bons candidatos à presença de vida". 

A estrela tem cerca de um terço da massa do Sol e faz parte do sistema estelar triplo Gliese 667, localizado a 22 anos-luz de distância na constelação de Escorpião, encontrando-se, por isso, muito próximo da Terra, na "vizinhança solar", adianta o Observatório Europeu do Sul. 






Três dos sete planetas revelados são super-Terras, planetas com mais massa do que a Terra, mas com menos massa do que Urano ou Neptuno. Estão na zona habitável da Gliese 667C, "uma fina concha em torno da estrela onde a água líquida pode estar presente", se estiverem reunidas as condições adequadas. 

De acordo com o Observatório, os três planetas situados na zona habitável e dois outros que se encontram mais próximo da estrela "apresentam sempre a mesma face virada à estrela", o que quer dizer que "o seu dia e o seu ano têm a mesma duração, e num lado do planeta é sempre de dia, enquanto no outro é sempre de noite". 



Tudo nisto me parece do domínio do encantamento, uma fina concha em torno da estrela, planetas que têm uma das faces sempre virada à estrela, na vizinhança solar, bons candidatos à presença de vida. Que belas palavras. Que boas notícias. Que bom.

Sempre acreditei que não estamos sozinhos neste infinito caldo estelar, neste imenso espaço no qual rodamos sobre nós próprios. Mas saber que os outros podem estar muito próximos enche-me o coração de alegria, de esperança, de expectativa. Que venham buscar-me, quero ver como é.


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Sei que, depois disto, não faz sentido falar aqui da mediocridade que tomou de assalto o meu País. Não faz sentido falar de criaturas mesquinhas, eu sei; não faz sentido falar, por exemplo, do mau perder de Nuno Crato, sujeitinho mau, muito mau, criatura execrável que, nem no momento em que chega ao acordo possível, sabe estender a mão. Não. Teve que rebaixar os sindicatos, enfraquecê-los, dizer que a greve era escusada. Para salvar a sua pele conspurcada, não se ensaia nada em denegrir a imagem dos professores.

Num planeta em que a água ainda corresse límpida, um Ministro da Educação honraria os professores, zelaria por que todo o País sentisse orgulho neles, por que as famílias se sentissem solidárias para com as suas dificuldades e reivindicações, por que os alunos os olhassem com muito respeito. Aqui, desgraçadamente, acontece o contrário.




Criatura desprezível a que fala como ele falou depois dos Sindicatos terem levantado a greve - quando devia dizer palavras de apaziguamento, vem atiçar os professores contra os sindicatos, a população contra os professores. Criatura desprezível a que, por pura maldade, atenta contra a dignidade de toda uma classe. 


Por aqui, no planeta Terra, a natureza por vezes degenerou e a algumas criaturas já lhes corre nas veias  fel, um fel gelado, em vez de sangue puro e quente.


Nem faz sentido falar do psicopata social Gaspar que - comprovando-se que o dinheiro está a ser roubado a quem trabalha para o entregar aos especuladores financeiros (as receitas com o IRS subiram vergonhosamente, quase tanto como subiu a despesa, nomeadamente a que se refere a juros da dívida), que sobe a verba gasta com os que se viram espoliados do seu trabalho (sobe a despesa com o subsídio de desemprego) - vem, amoralmente, gabar-se de vitória, dizer que está tudo a correr muito bem. Desprezível. Muito, muito desprezível.





E nem faz sentido salientar a falta de vergonha dessa desprezível criatura (que tem tranquilamente destruído o País) ao dizer que um défice trimestral da ordem dos 10% não tem problema nenhum, que isso se deve à capitalização do Banif (coisa de somenos, na sua boca infecta). 


10%?!?! 10%?!?!?! É de loucura. E ainda goza. Dizendo alarvidades sempre no mesmo tom árido, Vítor Gaspar há muito tempo que anda a gozar connosco.


Para fazer tudo o que as instituições financeiras querem, há sempre dinheiro. Aquilo do 'Não há dinheiro. Que parte é que não percebeu?' não se aplica quando há que limpar swaps que poderiam ser resolvidos na justiça, pagar como despesa certa o que o não era, salvar bancos que andaram a brincar com ratoeiras, pagar juros agiotas a quem deles gosta de viver. Só se aplica quando deita a mão aos ordenados de quem trabalha, às pensões de quem trabalhou uma vida inteira e fez descontos, quando aumenta impostos sem qualquer pudor, quando resolve não pagar subsídios, quando atira para o desemprego centenas de milhares de pessoas e entrega ao estrangeiro os nossos melhores jovens. 


No planeta Terra a natureza por vezes degenerou e produz criaturas assim, desavergonhadas, perigosas, cruéis, sem moral.

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Por isso, porque não faz sentido falar mais destas insignificantes criaturas, mesquinhas, medíocres, pérfidas, volto-me de novo para Gliese 667Cc. 

Abri agora a janela, tentei adivinhar onde está. Onde estão os seres transparentes, suaves, bondosos, que a habitam? Não sei. Olho em volta sem saber onde focar o meu olhar.

Mas, no imenso céu, a lua irradia uma luz branca que se reflecte no rio. Estive à janela. Está uma noite branca, quente, boa para afogar tristezas, para incendiar os corpos, para esconder todos os segredos.



Não me apurei muito, a fotografia ficou desfocada. É pena.
O luar sobre o rio numa noite quente como a de hoje é de uma beleza imensa.
Transmite bem estar, vontade de sonhar.



                                                                           Não sabemos
                                                                           se o amor de agora
                                                                           implica juros
                                                                           ou sentença de pagamento
                                                                           retroactivo,

                                                                           seja como for,
                                                                           respiramos melhor
                                                                           com um amor, agora,
                                                                           nas vezes em que anoitece devagar.


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O poema acima chama-se 'O amor de agora' e consta do belo livro 'Na ordem do Dia' de João Vasco Coelho. A música lá em cima é 'Send us a quiet night' e é de June Tabor, a quem muito admiro.

Os cartoons do Crato e do Gaspar, esses tristes exemplares do desGoverno de Passos Coelho, provêm, uma vez mais, do profícuo blogue We Have Kaos in the Garden.


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Gostaria ainda de vos convidar a uma passeata pelo meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje, por lá, um homem espera uma mulher que lhe enviou uma mensagem dizendo que ia aparecer. Fui levada pelo João Vasco, poeta de quem estou a gostar muito (acho que já o disse no outro dia). A seguir o Maestro Gustavo Dudamel enche o Tejo de uma intensa musicalidade.


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Desejo-vos, meus Caros leitores, um dia muito feliz. 
Está muito calor mas existe sempre uma sombra para nos acolher.

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