sábado, junho 29, 2013

A minha tia boazona


Ontem, de tarde, quando vinha para casa, telefonei à minha mãe como sempre faço. Sabia que uma das minhas tias lá ia e, por isso, perguntei à minha mãe se ela sempre lá tinha ido. Disse-me que sim, toda contente, e disse-me, 'ainda cá está! e está boa! olha quer falar contigo, vou passar' e passou-ma. Apareceu-me ela, então, voz risonha, tratando-me pelo meu diminutivo como faz desde que eu nasci, e disse-me 'olha, sinto-me boa... estou uma boazona!!!' e soltou uma das suas gargalhadas bem dispostas.

Qual o espanto disto tudo e porquê toda esta nossa alegria? Eu conto.





Quando eu era pequenina e ficava em casa da minha avó enquanto a minha mãe estava na escola, quase junto ao quintal da minha avó estava o quintal de um vizinho que tinha muitos filhos, entre eles uma rapariga magrinha e sempre alegre. Na altura, ela namorava um jovem simpático. Com um tom um pouco depreciativo, eu ouvia dizer à minha avó que ele era caixeiro viajante. Não sei. Ela gostava muito de mim e eu dela e, talvez por simpatizar comigo, arranjava maneira dele trazer amostras de shampoo de ovo, mesmo com um cheirinho a ovo. Eu gostava muito desse shampoo e ela aparecia lá em casa sempre com aquelas pequeninas embalagens que me deixavam toda contente. A minha avó dizia com ar um pouco superior, 'onde é que ele arranja tantas amostras de shampoo?', quase dando a entender que, para além de caixeiro viajante, ele ainda devia ser dos fraquinhos, dos que vendem shampoos, e pior, dos que em vez de darem as amostras aos comerciantes, as davam à namorada. Tudo antes de eu ter 4 anos.

Na altura, o irmão mais novo da minha mãe era um rapaz alto, bem constituído, jogava vólei, tinha uma mota grande cheia de cromados. Quando saía e fazia uma curva, acelerava, e a mota, toda ela, tombava e eu achava-o o máximo, um aventureiro cheio de ousadia. A minha mãe ameaçava-o, 'não quero que andes de mota com a menina; ouviste?' mas eu andava, com ele e com o irmão mais novo do meu pai, que tinha uma mota quase igual. O meu tio ria-se e dizia para a irmã estar descansada, enquanto me piscava o olho. Andava sempre na boa-vai-ela, não parava em casa. Quando estava, lia muito e houve uma altura em que pintava. Pintou um retrato meu, sentada num banquinho, eu com um vestido de veludo encarnado, com uma golinha de renda branca.

Até que a filha do vizinho deixou o caixeiro viajante e começou a namorar o meu tio. Era expectável. Eu adorava-os. Eles levavam-me a passear, conversavam comigo.

Depois, quando entrei para a escola infantil, tive a sorte de ela ter começado a trabalhar lá. Era quase o meu anjo da guarda. Como eu, nessa altura, era um bocado niquenta e nunca tinha fome para comer em casa, ela arranjava maneira de, quando chegava o pão ainda quentinho, me arranjar uma fatia com manteiga que se derretia toda. Ainda hoje, quando como pão caseiro com travo a fermento e a forno, me recordo das fatiazinhas que ela me levava quase como se estivesse a fazer uma coisa proibida - o que ainda tornava o pão mais saboroso.

Quando se casaram, claro que fui a menina das alianças. Vejo-me nas escadas da Igreja S. João de Deus na Praça de Londres. O meu tio, enorme e feliz, ela franzina e sorridente, eu de vestidinho de renda, curto, de saia rodada, cabelo apanhado com uma coroazinha de flores brancas, os meus pais também felizes (a minha mãe sempre de sorriso aberto, o meu pai mais sisudo, que nunca foi de riso fácil).

Toda a vida vi estes meus tios na boa, um casal cool, cúmplice. A minha tia, se hoje fosse nova, teria sido comediante, está sempre a dizer piadas que lhe ocorrem com uma graça e espontaneidade que só visto. O meu tio sempre a contar, na maior das naturalidades e felicidades, o que sabia a propósito de cada coisa (e sabia muito de tudo!).

Depois a minha tia engravidou. Uma amiga minha, quando estávamos no recreio da escola, disse-me que tinha sido o meu tio que se tinha posto em cima dela, na cama. Rebati com convicção: impossível, a minha tia não é capaz de o ter em cima, ele é muito grande, o dobro dela. Lembro-me como se esta conversa tivesse sido ontem. Por mais que a outra insistisse, eu concluía sempre que a minha tia seria incapaz de ter o peso do meu tio em cima dela.

Depois nasceu o meu primo. Foi um parto fácil. Ela, que era magrinha, deu à luz um rapagão enorme, sem ter tido dores, quase que o miúdo nascia no átrio do hospital.

Anos depois, com uma diferença de uns oito anos, salvo erro, eu já andava no liceu, a minha tia engravidou de novo e foi uma felicidade para todos. Nasceu uma menina e eu pedi logo para ser a madrinha. Escolhi o nome de que toda a gente gostou e que assenta na minha prima como uma luva.

A minha tia sempre foi minha cúmplice, era como se o seu espírito adolescente se mantivesse íntegro, inocente, jovial. Conhecia os meus namorados, fazia comentários, por vezes brejeiros, sobre eles, e eu gostava sempre de saber qual a sua opinião.

Quando comecei a namorar o que viria a ser meu marido, ela disse 'Eu logo vi que não tinhas deixado o X para ficares sozinha, calculei logo que houvesse outro mouro na costa'. Depois, quando o conheceu, decretou  com ar conhecedor: 'Olha lá, este ainda é mais giro que o outro. É muita giro...' e eu, depois dela o sancionar, fiquei ainda mais apaixonada pelo meu Cristo de olhos cor de mel.

O meu tio nem me fez qualquer comentário, falou desde o primeiro dia com esse meu novo namorado como se nunca me tivesse conhecido outro, com familiaridade e simpatia.

Claro que os convidei para meus padrinhos de casamento.

Nunca os vi aborrecidos, nunca lhes ouvi uma palavra desagradável. De vez em quando passavam-se com os meus primos, independentes, pouco convencionais, e contavam-me as suas preocupações mas tudo saudável, natural. Sítio onde estes meus tios estivessem, era sempre, por causa dela, um sítio de paródia. E ele ria-se, deliciado, das graças da mulher. Outras vezes, era ele que desfiava as suas erudições e ela ria, bem disposta, 'eu já podia ter aprendido alguma coisa com ele, mas não, continuo uma burra...'. 

Quando o meu pai teve o último e mais grave AVC, já lá vão mais de 3 anos, eles foram incansáveis a ir ao hospital e depois a casa dos meus pais. Como a capacidade locomotora do meu pai ficou seriamente condicionada, era este meu tio que os ajudava sempre que era preciso ir a algum médico. Respirava saúde. Muito alto, bem constituído, sempre bronzeado pelos passeios que dava, sempre a falar muito alto, um falador bem disposto, com uma memória prodigiosa.

No casamento do meu filho, o meu pai muito limitado, ele foi uma ajuda preciosa. Estavam tão felizes os dois, esse meu tio e essa minha tia. Ali estão na mesa, todos bonitos, bem encarados, sorridentes. Ou ao lado dos noivos, todos risonhos, e tanto que eles gostam dos meus filhos, como se fosse uma coisa do além, eu, a sua sobrinha ainda pouco mais que pequenina, e já com filhos tão grandes.

Frequentemente, quando à tarde eu ligava para a minha mãe, ouvia vozes a falar alto, risos, e já sabia que eram eles que lá estavam.

Mas um dia, inesperadamente, a minha mãe desatou num pranto. Quase não conseguia falar. Depois lá ganhou coragem. 'Estou tão triste. O meu irmão está muito doente'. Fiquei perplexa. O meu tio tão saudável... Ainda dias antes estava tão bem. Mas a minha mãe continuou 'tinha uma tossezita de vez em quando, pensava que era da sinusite, nada de especial, sempre teve. Depois às vezes sentia como que um leve sabor a sangue na boca, coisa de nada, pensava que era das gengivas, foi ao dentista, tratou-se. Mas no outro dia, achou que tinha mesmo um bocado de sangue na boca e a tua tia assustou-se, convenceu-o a ir ao hospital. É nos pulmões, está avançado'. A minha mãe contou-me isto a chorar e eu fiquei branca. O meu tio nunca fumou. Nunca o ouvi com tosses, falta de ar, sempre foi um homem possante, forte, dizíamos que ele era um poço de saúde. 

Mas o meu tio encarou as coisas com grande serenidade, dizia que já tinha vivido muito e muito bem, que estava satisfeito com a vida que tinha tido, que há quem viva vidas chatas e que ele não, sempre se tinha divertido e sido feliz e que, daí para a frente, cada dia seria uma vitória. E assim foi. 

Fez quimioterpaia e a quimioterapia não lhe provocou abalo nenhum. Continuou sem tosse, a respirar bem, bem disposto, como se estivesse saudável. A minha tia e a minha mãe, vendo-o assim, tão descontraído, aceitaram também bem e toda a gente andava optimista. Quando eu ligava à tarde, continuava, de vez em quando, a ouvi-los em conversa alta, animada, como sempre.

De facto, ao fazer exames, o mal parecia que tinha regredido. Parou os tratamentos e tudo voltou ao normal (de que, de facto, parecia nunca ter saído, tão bem os tratamentos tinham corrido e tão descontraidamente que todos estavam a encarar a situação).

Até que, por essa altura, a minha tia se queixou de uma incómoda dorzita no abdómen mas dizia não tinha paciência para ir a médicos, que com isto do meu tio estava farta deles. A minha mãe, dizia, é melhor ires, que é que te custa? Lá acabou por ir a uma médica amiga dela. A médica mal apalpou, sentiu logo que havia ali um volume estranho. Mandou-a ir rapidamente a um cirurgião (por coincidência, a um ligado à nossa família). Para surpresa de toda a gente, quando fez exames, teve que ser operada de urgência. Tinha um enorme tumor nos intestinos que já estava quase a causar obstrução. Pelo tamanho, admitiram que já devia estar em formação há uns 10 anos. Uma coisa incrível. Durante esse tempo tinha feito exames ginecológicos de rotina, e inclusivamente uns dois anos antes tinha feito uma intervenção cirúrgica ao útero. E nenhum dos médicos tinha dado por aquela massa que se estava a formar um pouco acima.

Quando foi operada, não apenas lhe tiraram o tumor como uma parte dos intestinos pois já havia metástases, as quais já tinham chegado ao fígado. 

Quando isto aconteceu, o meu tio, que andava feliz, foi-se completamente abaixo. Saber a minha tia doente, internada, com uma coisa destas, derrubou-o. Ainda me disse, tentando fingir o seu habitual bom humor: 'tu já viste uma destas? pensávamos que éramos os dois tão saudáveis e afinal uma destas... Olha, é para não nos ficarmos a rir um do outro' e riu-se. Mas já era um riso triste. 

A minha tia passou mal depois da operação. Tinha perdido muito sangue, estava anémica, a intervenção tinha sido profunda. O meu tio, que tinha encarado tão bem a sua doença, foi-se completamente abaixo ao ver a minha tia assim, fraca, com dores. E sabia que tinha ficado com o mal no fígado, para tratar depois de se recuperar da intervenção e depois de fazer quimioterapia. 

A partir daí o meu tio começou a piorar, acho que andava apavorado com isto da minha tia. Tinha que ir fazer um exame e não foi logo, deixou passar algum tempo, sempre muito preocupado com ela. Depois começou a ficar cansado. Entretanto, começou a minha tia a fazer a quimioterapia e ela tão preocupada também com a mudança que se estava a operar nele. Estavam os dois psicologicamente fragilizados. Quando ele fez o exame dele, o mal tinha avançado. 

Lembrei-me, então, daquele tratamento que há em Cuba e que parece estar a ter sucesso no tratamento do cancro do pulmão. Falei para a Embaixada. Depois da Embaixada, fui encaminhada para um médico. Depois passei  a informação ao meu primo para que ele falasse com o médico do meu tio. O médico não sabia de que se tratava, disse que se ia informar. Voltei a recolher informações. O estado do meu tio deteriorava-se de dia para dia. Cansado, não queria saber disso de Cuba. Como poderei ir, com a tua tia a fazer quimioterapia? E eu dizia-lhes que ela ia também, que ficavam lá a tratar-se. Mas ele não via como, e dizia que achava que não valia a pena. Mas eu não desistia, insistia com os meus primos, que falassem com o médico de cá, que o convencessem a ele. A minha mãe também apreensiva, 'mas como pode ir ele para Cuba, quando ela está naquele estado?' Eu insistia: 'vão os dois'. E a minha mãe, derrotada: 'mas como? uma viagem tão longa...' e eu irritava-se com eles a quererem desistir.

O meu primo ligou-me num domingo, estava muito preocupado, que os pés do meu tio estavam a inchar, que ele parecia que estava com pouca força, que já não queria ler, que já não se interessava pelas notícias, que a voz parecia já um pouco apanhada, que tinha estado a ver no google e que estava com medo que já estivesse na cabeça. Mas eu insisti: 'os tratamentos em Cuba estão a revelar uma taxa de sucesso muito grande'. Ia com o pai ao médico na terça feira de manhã porque o meu tio já lhe custava a ir sozinho já que a minha tia também estava fraca, e que iria, então, falar ao médico nos novos dados que eu tinha sobre o tratamento em Cuba, e eu já tinha elementos também sobre como tratar da viagem e estadia. Senti o meu primo mesmo preocupado, falava pouco. Insisti, uma vez mais, que encarassem seriamente a hipótese de tentarem ir. E pedi que me ligasse, depois da consulta.

Ligou-me nesse dia, à hora de almoço, a chorar. Pensei que o médico tivesse dito que não valia  a pena. Senti-me vencida. Mal percebia o que ele dizia. Depois percebi: 'o meu pai acabou de morrer'. Morreu no hospital, à entrada, quando ia à consulta: uma embolia encurtou-lhe o caminho. Fiquei sem fala. Meti-me no carro a chorar, pedi ao meu marido que avisasse os nossos filhos.




Saí dali para ir dar a notícia à minha mãe. Ficou desfeita, não queria acreditar. Depois foi, a chorar, dizer ao meu pai. O meu pai também começou a chorar. 

A minha filha foi também logo lá ter. Enquanto ela ficou com a minha mãe, fui ao hospital ter com a minha tia que já lá estava. Quando eu ia a entrar, passaram uns empregados com um caixão de metal. Iam para a capela mortuária que era ali quase ao lado. Não comentei com ninguém até hoje. Não sei se era o meu tio que ali ia. Senti uma aflição e um desgosto imensos. Fui ao encontro da minha tia. De repente, tinha envelhecido. Estava sem reacção. 

Foi um dia terrível. Nessa noite fomos velar o meu tio. A minha tia dizia 'acreditavas que ele ainda se podia curar, mas ele já não acreditava, tinha-se desinteressado da vida, foi-se abaixo com o que me aconteceu, dizia que não valia a pena andares a tratar daquilo tudo'. 

Nessa noite não fui capaz de escrever nada aqui. Aparece um texto escrito mas foi porque foi publicado à primeira hora da manhã, escrevo sempre à noite, as coisas aparecem geralmente já com a data do dia seguinte.

O dia depois foi ainda pior, a minha tia já estava a reagir, chorava, num desconsolo que dava pena. O meu tio foi cremado e as suas cinzas foram atiradas na Arrábida, serra que ele amava demais e onde gostavam de ir passear os dois. Lá no crematório, a minha tia dizia, como se ele ainda a ouvisse, "porque é que não esperaste por mim? o que é que eu vou fazer agora sem ti?". Nunca tinha visto a minha tia triste. As suas lágrimas ainda me fizeram sentir mais a súbita morte do meu tio. Os meus primos estavam devastados, tanta a tristeza. Estavam também lá vários sobrinhos dele, alguns por afinidade, do lado da minha tia. Todos estavam muito tristes, todos gostavam muito dele. Um chorava muito, afastado. Conheci-o pequeno, quando eu era também pequena, um pouco mais velha que ele. É agora director de uma grande empresa, chegou num grande carro, executivo. E abraçou-se à minha tia a fazer-lhe festas e depois foi para longe e chorava convulsivamente. Fez-me muita impressão.

Depois o meu primo levou a mãe para casa e eu levei a minha prima para casa da minha mãe, pois ela não tinha sido capaz de saber o seu irmão querido transformado em pó e tinha ficado em casa com a filha da minha prima.

Nesse dia, à noite, despedi-me aqui do meu querido tio. 

Custou-me muito. Ainda me custa. Ainda me custa acreditar. Tanta saúde que ele tinha, tão cheio de vida.

Mas a vida continua. A minha prima, quando o pai morreu, estava grávida, acabada de saber. Não quis dizer nada na altura. Chorava muito, por tudo, e por o pai não ter sabido que vinha outro bebé a caminho. 

Entretanto, a minha tia teve que voltar a ser operada, agora ao fígado. Foi há uns meses. Estava no hospital quando nasceu a bebé da minha prima. Teve um grande desgosto por não poder estar ao pé da filha num momento tão especial. Tiraram-lhe uma parte do fígado. Sem o meu tio, de quem era inseparável, sozinha, sem estar habituada a tratar de uma série de coisas, a ter que andar a tratar-se, a minha prima a viver longe, o meu primo a trabalhar e com duas crianças pequenas, não podendo ocupar-se da mãe a tempo inteiro, não tem sido nada fácil. Mas a sua natureza é de optimista, de lutadora. Diz que gostava de viver ainda um bocadinho mais para poder ver um pouco mais o crescimento dos quatro netos.

Quando foi operada, longe de casa, longe dos amigos, tentei suprir as ausências, indo visitá-la todos os dias. Embora combalida, estava animada, é forte, conversávamos imenso ali na sua cama de hospital. Ao fim de poucos dias teve alta e foi para casa sozinha. Não sei como teve força para isso. Mas teve. 

A seguir veio o calvário de nova série de quimioterapia. Desta vez foi-se muito abaixo, muito fragilizada, vinha de lá agoniada, sem força, a sentir-se doente, tonta, mal, mal, mal. A minha mãe sem quase poder sair de casa por causa do meu pai não lhe pode valer, eu também estou longe. Tem uma amiga viúva que a ajuda, que vai lá a casa todos os dias. Mas, enfim, a vizinha também tem a sua vida. Então eu telefonava-lhe e, ao princípio, aparecia-me ao telefone quase sem força, a voz débil. Depois animava-se e, para o fim, já estávamos as duas na palheta, como sempre, já o bom humor a despontar.

Agora parou a quimioterapia, o organismo já não aguentava. Chegava estar lá quase um dia inteiro, tanta a dificuldade. E com anemia. Parou. Vai fazer exames em breve mas diz que voltou a ter apetite, que come que se farta, que já engordou dois quilos, esteve toda a tarde na conversa e na paródia com a minha mãe e diz que já está boa, uma boazona. E eu fico tão feliz por ela.

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Tenham, meus Caros Leitores, um belo fim de semana. 
Desejo-vos muita saúde e que tentem ser felizes. A vida é curta. Mas pode ser boa.


6 comentários:

Isabel disse...

A vida é curta e nós às vezes esquecemos isso.
As doenças são terríveis, porque não conseguimos controlá-las. E a morte um dia chega.

Temos que viver a vida com responsabilidade, mas com alegria, aproveitando bem tudo aquilo que nos vai dando de bom.
Para quê desgastarmo-nos com o que não vale a pena! Só nos faz mal!

Desejo uma vida longa para essa sua tia que parece uma pessoa admirável. Lutar contra as doenças é muito duro. Cada dia é uma vitória que não tem preço.

Um beijinho e bom fim-de-semana

MCP disse...

Hoje não me fez rir...fez-me chorar...
Sabe, às vezes a vida não é curta mas também não é boa...
Temos que aceitar todas as situações!!
Desejo-lhe um óptimo fim de semana.
Um Grande Abraço.
MCP

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara UJM
Passei algo parecido com esta sua descrição. Só que o parentesco era maior:mãe e filho adorados. Depois, o meu amor.
Nunca estamos preparados. E nunca mais se fica a mesma pessoa!
Muito do que hoje me custa, faço-o por eles. Em sua memória. Ao menos isso.

Maria Eduardo disse...

Comecei a ler as suas memórias de infância com um sorriso feliz nos lábios por poder partilhar daqueles momentos vividos por si em menininha, e pensei que fosse falar de uma tia 'boazona', muito feliz, com uma saúde de ferro, com muito boa disposição e alegria de viver e que fizesse parte do seu imaginário e inspiração!...mas os meus olhos foram ficando comovidos pela sua história de vida que nos foi desvendando. A sua tia é mesmo uma verdadeira heroína, e com a força interior que parece ter vai superar mais esse problema de saúde! Um bom médico pode também fazer a diferença! A vida é curta sim, por isso temos que agarrar todas as âncoras ao nosso alcance e tentar viver o dia a dia o melhor possível, como se fosse o último das nossas vidas!
Espero que a sua tia recupere rapidamente, que veja os netinhos crescer saudáveis, com muita alegria!
Um beijinho para si extensivo a sua tia.

Um Jeito Manso disse...

Helena, eu usava o exemplo do seu Miguel para tentar animar todos, dizia que ele estava bem, bem encarado, via-o a dar entrevistas e tão bem, e animava a minha mãe, que lhe custava tanto saber o problema do irmão, e dizia, que a medicina já sabia lidar de outra forma com isto, que ela visse como o seu Miguel estava tão forte, ninguém diria.

O meu tio também estava bem, ninguém diria também. Foi quando se descobriu que a minha tia também tinha a mesma doença e foi operada e sofreu muito, que ele se foi completamente abaixo. Parece que a doença sentiu que, por estar fragilizado, tinha deixado de dar luta. A partir daí foi tudo muito rápido. Eu não queria conformar-me mas se calhar não havia mesmo nada a fazer.

Mas sabe-se lá. Quando o seu Miguel partiu eu senti o mesmo espanto: parece impossível que pessoas cheias de vitalidade, que gostam tanto da vida, tão naturalmente felizes, possam ver a sua vida tão injustamente atalhada. Mas que sabemos nós? Talvez seja mais justo afinal que partam mais cedo para não terem que sofrer mais, ou para não assistirem a factos que ainda desconhecemos, sabemos lá.

Não sei se leu a entrevista do Luís Portela da Bial, médico, (também escreveu um livro mas não li), que acredita que a vida é alguma coisa de espiritual que existe sempre e que vai encontrando corpos em que se aloja. Ou seja, que o corpo é o invólucro. Por isso, a ser isso verdade (e sabemos lá nós o que é ou não verdade) pode acontecer que os corpos por vezes deixem de ter condições de alojar mais aquele espírito e que ele vai entrar num outro corpo.

Quem sabe o meu tio não esteja agora no corpo de alguma das gaivotas que voa sobre mim quando ando à beira Tejo? Isto pode ser um pensamento de conforto ou pode ser uma aproximação a uma verdade que desconheço.

Talvez o seu amor volte a entrar no corpo de alguém que um dia destes se aproxime de si. Talvez o seu Miguel esteja, afinal, ainda a olhar por si, a sorrir para si - algures.

Temos que continuar a viver enquanto o nosso corpo assim o permitir e temos que estar disponíveis para o que nos vai acontecendo. Acho eu.

Um abraço, Helena, a Bárbara!

Um Jeito Manso disse...

Isabel e MCP,

A vida pode ser boa, apesar de tudo. Temos que querer descobrir os pequenos momentos em que ela é boa. Um instante, depois outro instante, e ir sempre à procura deles. Temos que sair de dentro de nós, estar disponíveis para descobrir e aceitar.

Beijinhos!