quinta-feira, maio 02, 2013

Penela, Espinhal, Praia da Louçainha, Rabaçal, Miranda do Corvo, Gondramaz, Ansião - as Terras de Sicó, as Aldeias de Xisto, a boa comida, a simpatia, o verde, e as nascentes, os rios, os riozinhos, as igrejas e igrejinhas. Fazer turismo é bom em Portugal.


No post abaixo falo de dois seres nos antípodas um do outro, Passos Coelho e o Papa Francisco (e até me sinto mal por estar a referir o primeiro-ministro que nos calhou em (má) sorte junto a um homem que, a cada dia que passa, melhor me impressiona): refiro-me às intervenções públicas que, neste 1º de Maio, se eu quiser usar uma linguagem que até não costuma ser a minha, revelam bem o que é um representante do Mal e que, felizmente, ainda há quem represente o Bem.

Mas isso é no post a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

Tal como tinha referido há dois dias atrás, eu e o meu namorado de longa data fomos comemorar o facto de há uns quantos anos atrás termos dado o nó e, sobretudo, o facto de, tanto tempo depois, estarmos ainda juntos, cada vez mais juntos, cada vez mais unidos e românticos (nesta do romântico é melhor explicitar que falo por mim, que ele não é lá muito dado a piroseiras destas). Como já anteriormente o disse, cada vez mais gostamos de passear no nosso país. Sempre o fizemos, de norte a sul, mas parece que cada vez sentimos mais carinho por esta terra tão díspar e tão genuína.


Música, por favor: eu seguro

(faz de conta que vamos de passeio, ouvindo o rádio e esta canção, interpretada pela Márcia e pelo Samuel Úrias, é muito bonita)





Desta vez fomos passar uns diazitos às Terras de Sicó, uma terra de serras e água, muito verde, gente muito simpática, comida fantástica.

Penela, Rabaçal, Espinhal, Louçainha, Miranda do Corvo, Ansião, aldeias serranas: tudo lindo!




A religião sempre muito presente (o que ainda é mais evidente nas terras pequenas), as árvores floridas, as paisagens a perder de vista - assim é esta região. 

Quase não se vê ninguém nas aldeias e nas vilas mas, de vez em quando, alguém que passa a rua olha-nos com curiosidade. Quando isso acontece, penso sempre que não deve ser fácil viver numa terra pequena onde todos se conhecem e vigiam.

Uma outra coisa que vi muito nestas terras e que nunca tinha visto noutro local desta forma tão pública são as folhas de papel, coladas nas paredes, nas portas, até nas árvores, sobre o falecimento de pessoas ou sobre a realização de missa de 7º dia, folhas com uma cruz preta. Talvez isto signifique que as pessoas são todas muito próximas umas das outras.




Nas estradas, nos recantos, de vez em quando há pequenos oratórios. Não sei se terão um nome próprio mas, se têm, desconheço. São uns nichos, umas capelinhas pequeninas, figurinhas religiosas, velinhas acesas, flores, tudo sempre limpo e arranjado. Eu, que não sou dada a idas à missa ou manifestações públicas de religiosidade, fico tocada, gosto de parar, olhar - como se o carinho e cuidado de quem os arranja passasse para mim.




Entro em todas as capelas, igrejinhas. Ninguém, nunca. E eu sinto-me bem assim, sozinha, nestes locais tão frescos, tão recatados. Depois gosto de reparar no lado humano: os panos, as rendas nos altares estão sempre muito brancos, muito arranjados, e há sempre flores frescas e velas acesas. Que mãos cuidadosas se ocupam destes espaços. Muito bonito mesmo. Se eu fosse organizada poderia, um dia, juntar todas as fotografias que tenho feito pelo país fora (pelo país e por outros países) e fazer um roteiro de capelinhas, igrejas, catedrais, simples oratórios. 




Algumas são de grande simplicidade, outras têm aspectos peculiares e eu imagino o que as pessoas gostam das suas igrejas, provavelmente estabelecendo comparações, tendo preferências, quem sabe até rivalidades. Em Ansião, duas igrejas uma frente à outra. Na mais pequena vi algo que nunca tinha visto: o tecto pintado de um azul vibrante, imprevisto. Gostei.




São lindos os locais de culto e recolhimento. Quando há missa não gosto de entrar, aquele ambiente é-me estranho, aqueles rituais, aquele levanta e senta, ajoelha e levanta, não sei as falas, não gosto nada daquela parte em que toda a gente beija o vizinho do lado, nada daquilo me diz nada. 

Mas os momentos em que entro numa igreja vazia e olho à volta e sinto aquele silêncio fresco e sereno são muito bons.

Julgava que podia visitar o imponente Mosteiro de Santa Maria de Semide, rodeado de espaço, as montanhas azuis muito ao longe.

(Quando vi o cedro todo inclinado, não pude deixar de pensar que, num próximo vendaval, corre alguns riscos de tombar. Mas, se calhar, está bem implantado na terra e eu é que ainda estou traumatizada pelas minhas árvores que sucumbiram num dia de ventania)




Mas as portas do mosteiro estavam fechadas. Lá dentro funciona o CEARTE, escola de formação profissional, e um lar de jovens da Cáritas.

E chovia, e fazia muito vento e estava muito frio e o meu companheiro de passeio chamava-me pelo que não ousei tocar à campainha e perguntar se podia visitar.




A própria imagem religiosa parecia dizer-me adeus. Obedeci, molhada e enregelada.

Por isso, lá nos fomos embora. Dali seguimos, então, para uma das aldeias serranas que visitámos, Gondramaz, uma aldeia de xisto. É no alto, junto à estrada, que está a placa com o poema de Miguel Torga que mostrei no outro dia.

O frio que ali estava... nem vos digo nada. Continuava a chover e, se não estou em erro, estavam 4º e um vento... pelo que ainda mais enregelada fiquei. Devia estar-se bem dentro de uma daquelas belas casas, aconchegada junto a uma lareira. Não foi o caso.

Nem vivalma... com excepção para uns pedreiros que trabalhavam no restauro de uma casa.




A aldeia fica numa encosta, de frente para outras encostas, a típica aldeia de montanha, tudo em xisto. Ruas estreitinhas, íngremes, casas pequenas, todas restauradas ou em vias disso, tudo muito, muito bonito.

Não percebi se há também por ali muito sentido de humor ou se é mesmo assim, genuíno e inocente. Seja como for, uma ternura.




Claro que a loijinha do bezitante estava fechada, estava tudo fechado - como disse, só uns dois ou três pedreiros.

(Aliás, aqui como por todo o lado, não há aproveitamento turístico de nada e isso, numa perspectiva económica, é desolador. Claro que, do ponto de vista de quem aprecia a genuinidade, é do melhor que há. Mas seria desejável um compromisso - e não há porque, de todo, não existe qualquer aproveitamento turístico de tanta beleza)




Não sei se a farrusca era uma leoa pois também não vi nem ouvi qualquer cão. Muitas vezes, nas aldeias por onde andamos, não se vê ninguém mas sempre há um ou outro cão que se espanta connosco e começa a ladrar no quintal. Aqui nada, apenas silêncio e pássaros.




Gostava de ter conhecido o Manuel Escultor que, em 2010, avisou 'AO ENTRAR QUIDADO COM A CABEÇA'. Mas também não dei conta que lá estivesse.

Apesar da chuva e do vento gelado por ali andei, entre as casas, descendo pelos campos. O meu namorado é mais racional que eu, diz que já está tudo visto, que vamos embora, que já estamos molhados demais.

Eu teimo, gosto de aqui estar, não quero ir-me já embora, e continuo a deliciar-me com o que vejo. Mas, quando ele, lá em cima, me chama de novo, viro-me, olho para trás e... dou um grito, 'Ai!!! Caraças!'.

Parecia-me alguém ali, no meio do campo, a olhar especado para mim, a rir.




Um espantalho! Há quanto tempo não via eu um espantalho a sério...! Concluo que, por terras de Gondramaz, o pessoal (quando aparece), se diverte mesmo.

E ainda vi mais dois, uma graça.

Mas, depois do susto que apanhei, resolvi mesmo regressar.

No outro dia, haveria mais passeio. E houve. Mais uma bela caminhada por um caminho de montanha, um cheiro forte e bom a terra, a primavera, a liberdade.




Junto ao rio Dueça que salta juvenil e livre sobre as pedras, e perto do hotel onde ficámos, um hotel muito simpático e recente e que tomara que se aguente pois bem o merece, há animais que farão parte da quinta que estão a organizar. 




Tudo muito bonito. 

Mas não vos maço mais que isto já está longo demais, não é? E, além disso, daqui a nada são 3 da manhã. Para além do tempo de escrever, escolher fotografias entre as muitas que fiz, reduzir a sua resolução para que o blogue não fique muito pesado, não leve muito tempo a abrir, toma-me muito tempo... e, agora, já estou mesmo cheia de sono.

Só mais uma coisa: ouvi que decorre este fim de semana uma feira dedicada à promoção das Terras de Sicó, creio que, justamente, em Ansião, a terra onde o Nabão se veste de verde e se enfeita de delicadas florzinhas brancas.

Esta zona está muito bem servida de estradas, está no centro do país, e vão por mim: vale a visita. É uma região linda. Se puderem não deixem de a visitar, agora ou quando vos der jeito.

*

Recordo que, sobre a conversa 'marada' do Passos Coelho sobre os cortes e sobre a dívida e, em contraponto, a conversa humana e lúcida de Jorge Bergoglio, Papa Francisco, é descer um pouco mais, até ao post seguinte.

Convido-vos ainda a virem comigo até ao meu Ginjal onde temos um Operário em Construção ao som da Trova do vento que passa.

*

Não vou rever o que acabei de escrever, já não consigo. Se derem com letras trocadas, vírgulas a mais ou menos ou outros defeitos, relevem, está bem?

Desejo-vos uma boa quinta feira. Saúde e boa disposição é o que vos desejo!


4 comentários:

Alice Alfazema disse...

Olá UJM!
Linda esta sua reportagem, as terras, as gentes, as igrejas das gentes, as paisagens. Também, já andei nelas. Que saudade.

Um abraço.

Tété disse...

Olá turista! Com que então uma passeata? Fizeram muito bem para recarregar as baterias. Parabéns aos noivos pelos anos de comunhão e que continuem por muitos mais com felicidade e carinho.
Abraço ao noivo e beijinho à noiva

Isabel disse...

Muito bonitas as fotos e os locais visitados.
Curiosos letreiros!
É uma pena que estas pequenas aldeias tão bonitas não tenham gente jovem que permaneça por lá todo o ano e não só nas férias do Verão (como acontece na aldeia da minha mãe). Mas não há condições de vida para ali permanecer.

Um beijinho e parabéns pelo aniversário.

Pôr do Sol disse...

Olá Jeitinho,

Os meus dois ultimos comentários não apareceram, não percebi o que aconteceu. Ou foi devido ao adiantado da hora, carreguei na tecla errada ou por me ter excedido, entusiasmei-me com o tema, 25 de Abril, e escrevi demasiado. O outro foi sobre Passos Coelho e aqui a raiva deve-me ter cegado e tambem devo ter trocado os dedos. Vou ver o que se passa com este.

Quero apenas dar-lhe os parabens e desejar-lhe que festeje esta data durante muitos anos sempre com essa vontade de viver a Natureza e a capacidade de se emocionar com a sua beleza.

Mais uma vez obrigada pelo belo documentario, que me fez viajar um pouco por um Portugal tão diferente do que se vive na capital.