quarta-feira, fevereiro 27, 2013

As minhas longas e inocentes tardes com aquele que agora é um homem muito triste


Música, por favor



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O avô dele tinha feito no fundo do quintal, depois da horta, uma pequena cabana. Penso que seria feita de madeira, tábuas. Não tenho ideia que pudesse ser de troncos mas não garanto. Sei que tinha, lá dentro, de cada um dos lados, uma tábua corrida a fazer de banco e era aí que nos sentávamos, ao lado um do outro. A parede do fundo tinha várias tábuas a fazer de prateleiras e aí havia vasos pequenos com flores. Se calhar a ideia do avô era que aquilo fosse uma estufa e nós é que a transformámos na nossa casa. Não sei. 




Havia uma flor de que eu gostava muito, sempre muito viçosa, muito verde, com umas pontas que descaíam. Ele, então, cortava umas pontas para eu levar para dispor no jardim de minha casa. Durante muitos anos essa flor reproduziu-se de vaso em vaso, de canteiro em canteiro. Não sei  como se chama, era uma flor de folhas miúdas, carnudas, e não dava flor, reproduzia-se por propagação. Era conhecida na minha casa como a flor do Tó Manuel. Não sei se ainda existe no jardim da minha mãe, hei-de ver. Há muitos anos levei de casa da minha mãe para a dispor in heaven mas não resistiu lá, as amplitudes térmicas são elevadas, o solo é pedregoso, não era planta para estar ali.

Penso que já uma vez aqui falei destes tempos. Depois da escola e depois de almoçar em casa da minha avó (que era perto da casa dele), eu ia a correr para essa pequena cabana e ele também. Mas ele não ia a correr, ia a andar porque era muito calmo. Sempre foi.

Tinha mais um ano que eu. Era bonito, pele clara e cabelo muito escuro, liso. Era alto, sóbrio, a tender para o tímido. Ou talvez nem fosse muito tímido, se calhar era sobretudo discreto, reservado. Também não me lembro de o ver a rir à gargalhada, acho que apenas sorria.

Eu era o oposto dele, muito faladora, muito alegre, ria muito, facilmente chorava a rir (e, no que se refere a rir, ainda sou assim). Provocava-o muito, desafiava-o. Mas ele nunca se aborrecia comigo. Quanto muito, eu notava que ele ficava sentido.




Andávamos em salas diferentes mas o recreio era conjunto. Se no recreio havia jogos que envolviam quase todos os alunos, como o jardim da celeste, e era chegada a minha vez de escolher um rapaz, eu olhava para ele, olhava, olhava, fazia de conta que o ia escolher e depois, à última hora, escolhia sempre outro.  E via que ele ficava triste, notava que às vezes até corava. Depois, quando íamos para casa, ele ia andando devagarinho e ia olhando para trás a ver se eu vinha, mas não me chamava, não me perguntava se eu ia, nada, apenas ia andando cada vez mais devagar, e eu, de propósito, ficava na conversa, ou parava a apanhar flores ou fazia qualquer outra coisa para me atrasar, fazia-o sofrer, e ele andando cada vez mais devagarinho. Por fim, já a meio caminho, eu dava uma corrida e apanhava-o e zangava-me com ele por não ter esperado por mim, fazia-me de amuada por ele ir andando, deixando-me para trás, sozinha. E ele desculpava-se, envergonhado, queria zangar-se comigo mas não tinha coragem. E íamos naquilo, eu a fazer de conta que estava zangada, ele sentido pela minha injustiça.




Mas depois, quando nos sentávamos tardes inteiras na pequena cabana, todos esses meus jogos desapareciam porque era só ele que ali estava, só eu e ele, e o momento era especial, eu tinha a percepção de que não fazia sentido estragar aqueles instantes tão perfeitos. E ele também não tocava no assunto, sabia que eu era assim, volúvel, provocadora, coquette. Aí conversávamos muito, de tudo.

Eu tinha sempre muitas dúvidas, muita curiosidade, e ele respondia-me como sabia, raciocinávamos ambos em voz alta. Às vezes a minha avó aparecia lá com um prato grande com duas sandes e dois copos de leite. Outras vezes era o avô dele que nos ia levar fruta. A minha avó perguntava ao avô dele, Mas que é que estas almas tanto têm para conversar…?! Horas e horas de conversa…! E riam-se.

Depois do lanche eu tinha que voltar à escola para ir com a professora e os outros meninos apanhar o autocarro. Os meus pais estavam na paragem à minha espera, depois do percurso. Geralmente, para ficar com ele o máximo tempo possível, atrasava-me e tinha que ir a correr, aflita, com medo de não chegar a tempo. A professora zangava-se ‘qual será o dia em que ficas em terra?’ e eu pensava que um dia isso podia mesmo acontecer porque, todos os dias, eu queria estar com ele até ao último instante.




Nunca falávamos nada sobre a escola, a minha curiosidade situava-se sempre para lá dos assuntos que tratávamos na escola. Mas muitas vezes ele sabia mais do que eu ou, quando arbitrava respostas às minhas questões eu sentia que o conhecimento dele estava para lá do meu. Como era mais velho que eu um ano, andava um ano mais adiantado e isso fazia toda a diferença. Eu confiava totalmente no seu saber, nunca senti que ele estivesse a inventar para me impressionar. Quando não sabia, dizia que não sabia mas, passado alguns dias, aparecia já com alguns conhecimentos sobre ao assunto. Talvez perguntasse aos pais ou ao avô ou lesse, não sei. Eu ficava a admirá-lo ainda mais.




Ele tinha um irmão mais pequeno, talvez tivessem uns seis anos de diferença e ambos gostávamos muito dele mas, nessas nossas tardes, o irmão não tinha lugar. Lembro-me de uma vez, num fim de semana, eu estar com os meus pais ao pé dos pais dele, eram amigos desde crianças. E ele vinha ao longe com o irmão pela mão, ele muito alto, muito responsável. E a mãe disse para a minha ‘parece um homenzinho, posso descansar que ele toma muito bem conta do irmão, olhem lá, um homenzinho’. E eu, ao ouvir isso e ao vê-lo, senti muito orgulho nele. 

O meu pai e o dele eram colegas de emprego. A minha mãe era professora e a mãe dele estava em casa. Quando a minha mãe ia a casa da minha avó, ia geralmente visitá-la e sentavam-se as duas à conversa numa espécie de marquise cheia de sol, mulheres jovens e bonitas,  a minha mãe muito loura, cabelo pelo ombro, em ondas largas, com vestidos claros, saia rodada, corpo justo, sempre alegre, e a mãe dele com cabelo escuro, levemente ondulado, pouco abaixo da nuca, menos vistosa que a minha, mais silenciosa e discreta. 

Quando miúdas, ambas tinham aprendido costura nas férias com a vizinha modista de quem um dia já aqui falei. Como estava em casa, ela mandava vir revistas, a Burda talvez, e viam os modelos,  e lembro-me que algumas vezes ela fez vestidos para mim e para a minha mãe. Quando eram as provas íamos lá para cima, para a zona dos quartos. Ela tinha o andar de cima sempre na penumbra, as portadas de madeira pintadas de azul muito claro sempre fechadas. Abria-as para nos vermos ao espelho. Nessas alturas eu separava-me do Tó Manuel. Ele não era autorizado a subir e, como era obediente, não subia. Se fosse ao contrário eu questionaria a ordem, regatearia, tentaria desobedecer, treparia pelo lado de fora, qualquer coisa. Ele não. Ficava sossegado cá em baixo à espera que eu me despachasse. Se calhar ficava a tomar conta do irmão.




Quando eu entrei para o liceu, separámo-nos pois, nessa altura, deixei de ir para casa da minha avó. Ele andava um ano à minha frente e, nessa altura, o liceu tinha edifícios separados para rapazes e para raparigas. Nunca o via. Nessa altura caí de amores por um outro rapaz, um que era filho de uns colegas da minha mãe.

Quando cheguei ao segundo ano, os meus pais receberam um convite para irem comigo receber uns prémios e diplomas. Eu tinha sido a melhor aluna (rapariga) do 1º ano (actual 5º) e também a melhor aluna em termos gerais e não sei se também do 1º ciclo (como se chamava ao conjunto dos dois primeiros anos, actuais 5º e 6º). Não me lembro bem pois aquilo foi muito inesperado para mim, não tinha nada a ideia de que fosse uma aluna por aí além. No entanto, até concluir o liceu, viria a receber vários outros prémios.




Alguns dias depois, a minha mãe veio dar-me uma notícia que, essa sim, me encheu de alegria. O Tó Manuel tinha recebido o prémio Sagres, o prémio para o melhor aluno a nível nacional. E nunca me tinha dito nada, eu nunca tinha percebido que ele fosse tão bom aluno. Nem ele também tinha percebido que eu também fosse boa aluna. Mas ele, pelos vistos, era melhor aluno que eu e isso encheu-me de um orgulho muito grande.

Encontrei-o um dia, num fim de semana, logo a seguir. Falei-lhe nisso, toda contente e toda zangada por ele nunca ter sido capaz de me dizer o que quer que fosse. Ficou corado, que também não sabia antes de receber, que não era nada demais. E eu quis saber pormenores sobre as notas, sobre o que os professores tinham dito mas ele não quis dizer nada, dizia que não havia mais nada para dizer. Sempre reservado e humilde.

Foi sempre bom aluno. Teve notas muito altas até ao fim. Mas nunca teve qualquer ambição a nível profissional, parece que lhe faltava um estímulo, não sei. Foi gerente de um banco numa grande agência quando podia ter sido muito, muito mais. Casou tarde. A mãe dele dizia à minha avó que aquela de quem ele gostava não queria saber dele.

Conheci há tempo a mulher dele. Fiquei muito admirada pois pareceu-me uma mulher de meia idade, ar pesado. (Eu também devo poder ser considerada de meia idade mas parece que não encaixo nisso, sinto-me sempre nova, se calhar é porque não tenho noção da realidade). 




Quando me conheceu, a senhora disse-me ‘Até que enfim que a conheço, sempre ouvi falar muito de si’. Fiquei sem saber o que dizer porque ele, ao lado, tímido, parecia-me um homem com muita idade, parecia o pai dele, parecia que o rapazinho inteligente e carinhoso tinha desaparecido, que apenas tinham sobrado os olhos tímidos.

Disse-me a minha mãe no outro dia que tem estado de baixa, com uma depressão, que se calhar se vai reformar. Fez-me muita impressão isso. 

Só espero é que ele se lembre também ainda das nossas tardes de imensas horas, onde éramos inocentes, curiosos, e em que o tempo corria devagar, feliz. 


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As fotografias foram feitas no fim de semana in heaven com excepção da fotografia dos pássaros na beira de um rio, que foi feita pelo caminho.

A música do início é "You Are The Shepherd" que é cantada por crianças Nkomazi.

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Se ainda vos apetecer continuar um pouco mais na minha companhia, convido-vos a que me visitem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras passam por corredores que parecem labirintos, descem a poços cheios de sustos, sobrem quase até ao céu, e tudo para esperar aquele que o meu coração ama. Quem me inspirou foi Catarina Nunes de Almeida. A música continua nas mãos de Rostropovich, hoje tocando Camille Saint- Saëns.

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E quero ainda desejar-vos, meus Caros leitores, uma quarta feira muito feliz!

9 comentários:

Anónimo disse...

Olá UJM,

Tenho estado 'caladinha' mas tenho lido tudo o que escreve.
Sempre!
Também já sabe que o meu 'sofisticado equipamento informático' não me permite ver os vídeos.
Não sei se e quando terei oportunidade de os ver...

Nestes poucos dias de sol tenho tentado reparar os estragos que a chuva, vento e humidade deixaram na casa, e também pôr a "roupa em dia".

No dia 25 a minha mãe fez 90 anos e passamos o dia fora de casa.
Tudo muito simples: cabeleireiro, almoço, pequeno passeio de carro pois estava um vento frio, depois apagar as velas no centro de convívio aqui da aldeia onde ela costuma passar as tardes de 2a a 6a com as outras 'meninas' da mesma geração.

Eu nem acredito que ela chegou aos 90 assim activa e lúcida.
Imagine que acabou agora de ler o livro dos reis da HSC que eu lhe ofereci pelo Natal!
E isto apesar do glaucoma que lhe retirou a visão do olho direito.

Fiquei triste com a história do seu amigo, parece que há pessoas que nasceram para nunca conseguirem ser felizes, não é?
Aposto que as linhas do pulso dele são daquelas 'não paralelas'!
Nunca comentou esse mail, se calhar achou uma patetice... (mas olhe que não, olhe que não...) LOL

As fotos estão belíssimas, adorei a dos pássaros brancos e também a sua silhueta (?).

Fique bem, com muita saúde!

Antonieta

José Rodrigues Dias disse...

Cara UJM:

Lendo o seu texto, surgiu o meu de hoje, no meu blog "Traçados sobre nós". Aqui o partilho. Obrigado.

J. Rodrigues Dias

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Medo de ousar

Menino triste que foste
Medo de ousar
Perdido de amar
Em sorriso escondido
Que nunca te riste…

Como e para quê outro voar
Se preso àquele primeiro lugar
De onde nunca partiste
Menino triste envelhecido
Perdido
Sem caminho…

Évora, 2013-02-27

José Rodrigues Dias

Pôr do Sol disse...

Mais uma das suas bonitas historias, contudo um pouco triste.

Sua menina traquinas, vaidosa, provocante,pareceu-me sentir aí um ligeiro sentimento de culpa.

Porque não dar-lhe um final menos triste, pelo que se adivinha?

Recriar uma daquelas tardes de longas conversas na casinha de madeira? Eu própria estou a pensar que não é facil.A ausencia, o tempo cria fossos profundos.Mas quem não cede a recordações de infancia? Não tem fotografias da epoca?

Lembro-me de uma frase existente na sala de espera do centro de saude A DEPRESSÃO MATA.

Um beijinho e boa saude.



Maria Eduardo disse...

Olá UJM,
Tenho vindo aqui todos os dias ler os seus escritos maravilhosos e as suas histórias mas não tenho dado conta da minha passagem por aqui, pois tenho andado envolvida com assuntos familiares.
Adorei esta sua história cheia de recordações da sua infância, tão bem descrita e sentida por si. Pena que o seu amigo não tenha conseguido encontrar noutra pessoa, a felicidade que lhe fugiu, e que agora se sinta mergulhado nas malhas da depressão. E uma mão amiga, em nome da amizade dessa infância feliz, não ajudaria?
As fotos são maravilhosas, se me desse a escolher, escolhias todas!
Um beijinho e obrigada por esta partilha.

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

e, no entanto, já chove outra vez. pelo menos, agora, enquanto escrevo, estou a ouvi-la. Que tempos frios e chuvosos estes...

Fico muito contente com os 90 anos da sua mãe. Que alegria e aconchego tão grande, não é? A presença da nossa mãe é um amparo. E o que eu desejo é que conte muitos mais, boa, saudável, uma amiga junto a si.

O meu amigo de infância talvez tenha tido a vida que quis. Não sei. Nunca percebi a sua falta de motivação. lembro-me dele tão inteligente, tão bom amigo.

Eu corria muito e, por isso, caía muito e, por isso, andava sempre com os joelhos esfolados. Uma vez receou-se que tivesse tétano e levaram-me de urgência para o hospital para levar uma injecção na barriga. Andaram a correr atrás de mim. Mas lá a levei. Mas odiei.

Uns dias depois voltei a cair e esfolei a ferida ainda mal curada e fiquei com areia na ferida. Com medo que me levassem ao hospital outra vez, pedi para ele me ajudar para eu não mostrar à minha avó. Então ele, levou-me pela mão, porque me doía muito e estava com medo, a casa de um vizinho que já tinha 17 anos, que estava a acabar o liceu. E então foi esse rapaz que, com a ajuda do meu amigo, me fizeram o curativo, com algodão à volta de um fósforo tiraram a areia, puseram água oxigenada e tintura de iodo. E ele sempre muito aflito pelo que a mim me custava. Lembro-me tão bem do carinho discreto dele.

Custou-me muito saber que entrou em depressão, que está de baixa, que não sai de casa. O que se terá passado na vida dele, não é?

Quanto às paralelas nas minhas mãos: não sei se isso é fiável, não sou muito de ligar a isso, acho que tenho medo de que me descubram coisas más e que não tenha como fugir a elas, já que estão impressas no corpo. Se calhar, por isso, nunca quis saber. mas, claro, ainda bem que ter linhas paralelas são boas notícias. Tomara...

E as suas como são, Antonieta?

Beijinhos e um beijinho muito especial para a menina de 90 anos!

Um Jeito Manso disse...

Caro José Rodrigues Dias,

Já lhe agradeci, tocada, lá no seu cantinho tão especial. As suas palavras retratam um homem bom que desde pequeno foi, talvez, bom demais para este mundo.

Muito obrigada pela sua sensibilidade e delicadeza.

Saudações cordiais!

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol,

Desta vez as minhas palavras retratam uma história verdadeira, absolutamente verdadeira.

Acho que o que sugere não é viável. A vida afastou-nos. Encontrei-o no dia em que referi, que foi o do enterro de um tio meu. ele dirigiu-se a mim a perguntar se eu não o conhecia. E eu não fui capaz de responder porque me parecia o pai dele e pensava que não podia ser. Ele disse que mal entrou na igreja me reconheceu logo e olhava para mim a sorrir mas eu custou-me tanto em aceitar que aquele era ele.

A minha mãe é que estava muito com ele, lá no Banco. Diz que era sempre o mesmo, simples, triste mas muito atencioso. Perguntava por mim, pelos meus filhos. A minha mãe sempre gostou muito dele, era e ainda é o filho da sua amiga, um menino muito educado, muito inteligente e simpático.

Aqui na minha casa tenho poucas fotografias minhas da minha infância, está quase tudo em casa dos meus pais. Estou quase sempre a rir, muito bem disposta, em todas as fotografias. Ele, tal como o lembro, pouco ria. Não me lembro de o ver a rir à gargalhada.

A depressão, se calhar, é uma coisa que nasce logo com algumas pessoas, não sei. Mas mata, sim, é uma tristeza que se apodera das pessoas. felizmente nunca me senti assim mas conheço muito bem que já padeceu desse mal de viver.

Um beijinho, Sol Nascente!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

Não sei se a mulher dele não é a mulher que ele escolheu e que é a mulher certa. Não sei. Pareceu-me que não tornaria mais leve a vida mas não sei. Pareceu-me simpática mas talvez não o faça voar. Não sei. Penso agora, pensando nele, que sempre houve uma falta de ousadia dentro dele (como o Poeta José Rodrigues Dias refere acima), uma falta de motivação, uma qualquer sombra de tristeza.

Era sempre eu que o ia buscar para brincar, era sempre eu que o levava a ir ver as árvores, os pássaros, a correr. Ele depois ia e ia contente e era um grande amigo, ágil, muito simpático. Mas faltava-lhe iniciativa. Ou melhor, deixava que fosse eu a tê-la. Fazia-me as vontades. Se ele queria uma coisa eu, para o picar, queria o contrário. E ele fazia-me a vontade. Acho que foi por isso que nunca me apaixonei por ele. Gosto de quem me dá luta.

As nossas vidas afastaram-se muito. Dá ideia que ele ficou preso no tempo, achei-o envelhecido, pesado. Fez-me impressão. A minha mãe também tem muita pena pois ele, segundo me diz, é muito competente e toda a gente gosta dele. aparentemente não há razões para esta depressão. Mas sabemos lá nós o que se passa na vida e na cabeça das pessoas, não é?

Beijinhos, Maria Eduardo!

Isabel disse...

Gostei de ler a sua história que, sem nostalgia, me lembrou uma menina que há décadas atrás durante muitos anos amou assim, timidamente e em silêncio, não sem sofrimento. Mas tudo passa e não podemos ficar agarrados ao que não tivemos. Para quê? A vida é para a frente.
Gostei muito das suas fotos. O seu Heaven deve ser um sítio muito bonito!

Um beijinho e bom domingo