sexta-feira, setembro 28, 2012

Sobre o parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, sobre o Orçamento para 2013, sobre a ainda maior austeridade que aí vem, sobre os modelos usados pelo Governo, sobre os modelos em geral - os limites éticos, a vida, o futuro. E a estupidez. E a dignidade de que não podemos abdicar. E os limites que teremos, nós próprios, cidadãos portugueses, que impor.




Deixá-los sofrer? Deixá-los morrer mais depressa?



Uns senhores de um tal Conselho com bom nome, Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida emitiram um parecer, que li e que contém matéria com algum interesse, do qual se infere que existe fundamento ético para que o Serviço Nacional de Saúde promova medidas para conter custos com medicamentos, tentando assegurar uma "justa e equilibrada distribuição dos recursos". À hora de almoço, no carro, ouvi que perante a possibilidade de uma pessoa ter apenas mais alguns meses de vida, à luz deste parecer, seria legítimo ponderar-se sobre a justificação económica de se gastarem uns 50.000 ou mais em tratamentos em doentes com escassos meses de vida. Aparecem referidos como doentes que poderiam ser abrangidos pela racionalização de tratamentos os doentes com cancro, com sida ou com artrite reumatóide. Contudo, o verbo usado e que choca não é racionalizar, é racionar, racionar o tratamento quando o rácio custo/benefício assim o indique.

Felizmente ainda há quem os tenha no sítio – e refiro-me também aos neurónios – e já tenha vindo a terreno a dizer que não contem com os médicos para este racionamento que, na prática, é o racionamento do tempo ou da qualidade de vida das pessoas (pessoas essas nas quais poderemos, nós, estar incluídos). José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, tem sido um exemplo de cidadania e rigor ético e hoje, uma vez mais, o foi. Maria de Belém foi outra voz que, com a sensibilidade e o bom senso que se lhe reconhece, se levantou.

Não fiquemos indiferentes perante isto: já aqui chegámos, já estamos a falar quase como se fosse uma coisa normal, da análise custo/benefício da vida humana. Devemos olhar para isto com pasmo, com vergonha.



A tristeza de termos chegado a este ponto
 e de vermos que o caminho que temos pela frente é igualmente triste


Que uma discussão ética, moral, racional, deve ser levada a cabo sobre a forma como se gerem os recursos públicos, estou de acordo. É uma discussão que deveria envolver várias disciplinas (medicina, economia, psicologia, filosofia, sociologia, etc) e que deveria ser feita numa óptica integrada, que deveria abranger custos dos sistemas públicos e custos dos sistemas privados, pois o que interessa analisar é a forma como se alocam os recursos do país para a saúde (e porque quem paga parte dos sistemas privados é também o Estado, através, por exemplo, da ADSE). Mas este deveria ser um estudo conduzido com pinças, com elevado sentido de humanismo e de respeito e compreensão pela condição humana. Agora, nos tempos que correm, com o poder entregue a um grupo de ignorantes e incompetentes, conclusões como as do acima referido parecer são um perigo. Um perigo muito grande.

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É aqui que queremos chegar, senhor Passos Coelho? 


Nem de propósito hoje Pedro Santos Guerreiro escrevia no Jornal de Negócios um interessante artigo com o título 'O Orçamento que não queremos querer'. Transcrevo esse lúcido artigo, com o qual concordo, quase na totalidade:

Saberemos todos o que pedimos, quando pedimos que cortem a despesa?

O pedido é justo. A troika diz que é obrigatório. E nós acrescentamos que o Governo falhou nisso. Quando acordou do sonho das gorduras, encontrou músculos e ossos. Quais deles vai rasgar e amputar agora?

Os impostos estão a matar a economia. Nem é necessário explicar porquê. Basta ver que um terço da austeridade prevista para o próximo ano decorre da recessão que a própria austeridade provoca ou agrava. E isto é admitindo que o PIB só cai 1% em 2013, o que já parece optimista. Não é preciso esperar por relatório nenhum para adivinhar que a actividade económica travou em Setembro, imediatamente após o anúncio de novas medidas de austeridade. 

A redução do défice prevista para os próximos dois anos é tão dramática que exige cortes como nunca se fez. Cortes que se somarão à redução de pensões e de salários da função pública. Como vai o Governo cortar quatro mil milhões de euros nos próximos dois anos? Como vai o Governo fazer o que não fez, baixar de modo permanente o custo do Estado? Só assim será possível baixar impostos. E sem baixar impostos a economia não cresce, consome-se - some-se.

Baixar a despesa do Estado tem de ser mais do que cortar salários à Função Pública e pensões. Se a troika nos baixasse os juros, como aqui se tem defendido, seria mais fácil. Mas mesmo assim, é preciso reduzir a despesa primária. Por muito moralizador e importante que seja eliminar meia dúzia de fundações do Estado, isso pesa pouco na conta final. 

"Cortar despesa" é desmamar muitas clientelas políticas. Reformar a administração local a sério é muito mais do que fundir freguesias, é desempregar muitos políticos. Baixar os custos do Estado é fechar institutos que não servem para nada senão para pagar os salários de quem lá anda. 

Reestruturar empresas públicas a sério é muito mais que antecipar as reformas a duas mil pessoas e aumentar brutalmente as tarifas. Mesmo assim, esta é a parte fácil de exigir.

A parte difícil é outra. É perceber que "cortar despesa" além das reduções temporárias de salários significa fazer reduções brutais como provavelmente só o Ministério da Saúde fez este ano. E com esse custo social. Nem despedir todos os políticos parasitas bastaria. "Cortar despesa" é reduzir serviços nos hospitais, nas escolas, nos tribunais, sítios onde já há falta de meios. "Cortar despesa" é tirar dinheiro a muita gente, médicos, professores, militares ou polícias. "Cortar despesa" é fechar partes de empresas públicas e organismos do Estado. "Cortar despesa" é abrir um programa de rescisões entre os funcionários públicos, o que nunca foi feito - e que numa economia em recessão é dramático.

É isso que o próximo Orçamento do Estado vai trazer. Mais impostos. Cortes na despesa. E isso é, em qualquer caso, fazer das tripas de outros o coração da reestruturação do Estado. É obrigatório mudar a equação do Estado, tornando-o suportável e deixando os agentes económicos respirar dos impostos que agora os asfixiam. O que poucos assumem é o odioso do que quer dizer "cortar despesa". É amputar corpos. É isso que andamos a querer. É nisso que não queremos crer.


É aqui que queremos chegar, Ministro Paulo Portas?

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O Governo, com o Orçamento de 2013, prepara-se para ir ao osso dos portugueses, para amputar corpos, para lançar a miséria indiscriminadamente, para lançar a indignidade sobre a nossa vida, para nos roubar o futuro de forma irreversível. 

Não há alternativas, dizem. Ora não há nada de mais errado. Há sempre alternativas.



É este o modelo que queremos, Presidente Cavaco Silva?


Sei o que são fazer modelos. Posso até dizer que comecei a minha vida profissional a fazê-los e, justamente, a fazer modelos sob orientação do Banco Mundial. A minha formação académica andou à volta de números. Mas, felizmente, porque não sou estúpida, sei que os números são uma abstracção para representar a realidade, sei que os modelos são a forma analítica de representar a realidade, de a encenar, de a manipular. Tenho dito aqui, por vezes, que não fui grande estudante. Mas quando o digo, digo no sentido de nunca ter feito uma directa para estudar para um exame, de não perder muito tempo a 'marrar', de privilegiar o tempo de namoro ao de estudo. Mas o facto de não precisar de estudar, não significa que não tenha sido uma boa aluna. Acabei o meu curso com média de 16 numa escola a sério em que a exigência era grande. Depois da licenciatura fiz pós-graduações e vários outros cursos de formação profissional. Tenho tantos anos de vida profissional que nem me atrevo aqui a dizer. Não estou a falar nisto para me gabar do que quer que seja. Digo-o apenas para vos dizer que sei do que falo quando opino sobre algumas matérias. Não falo de cor, não papagueio, não falo do que não sei.

Quando digo que há alternativas não o digo apenas por convicção pessoal ou referindo-me a aspectos do ponto de vista social, político ou, até, filosófico: digo-o também do ponto de vista da elaboração de modelos, os célebres modelos que neste Governo são a bíblia.

Quando se fazem modelos estabelece-se qual o objectivo a atingir e definem-se as condições, as restrições, definem-se as constantes e as variáveis e quais as ligações entre elas. 

Ora, se um estúpido qualquer se puser a brincar com modelos que mexem com a vida das pessoas e não tiver estabelecido que há limites que não podem ser ultrapassados, que há 'objectos' que não são constantes mas sim variáveis e outros que, pelo contrário, são constantes que não podem ser questionadas, o que vai acontecer é que o resultado é um aborto ou uma arma de destruição em massa.

É o que está a acontecer com este governo. Não percebem nada de nada de coisa nenhuma. E o drama é que a nossa vida, a qualidade da nossa vida, para estas ignorantes criaturas, são meras variáveis em geometria variável. E, em contrapartida, recusam-se a mexer naquilo em que o deveriam fazer. São ignorantes. É que isto de fazer modelos complexos não é para aprendizes, para ignorantes.



É este o modelo para que queremos para Portugal, senhores Deputados?



A dívida para eles é uma constante, a dívida e o serviço da dívida (isto é os encargos a ela inerentes), são uma 'coisa' na qual não se pode mexer. Em contrapartida retirar rendimento das pessoas para pagar essa dívida é uma variável. Ou seja, não equacionam que se pode e deve renegociar a dívida, pagá-la em mais anos, dizer que não se paga como forma de pressão para que se aliviem os juros. Mas parece-lhes normal roubar os rendimentos dos trabalhadores e reformados, parece-lhes normal deixar doentes sem tratamento, crianças sem vacinas (ouvi ontem na televisão que já há muitas pais que não conseguem vacinar as crianças contra a meningite), parece-lhes normal atirar as pessoas para o desemprego e para a miséria.

É que a porcaria dos modelos que andam a fazer padece de um erro fatal.

Imaginem os meus Caros, o seguinte. Imaginem que estão a gerir uma empresa e que querem geri-la o melhor possível. Então, para verem onde mexer, fazem um modelo que represente a empresa. E imaginem que por um azar dos távoras, têm um totó, ignorante e estúpido, a fazer esse modelo. E o que é que ele faz? Faz um modelo que tem por objectivo minimizar os custos da empresa.

Acham razoável? À primeira vista pode parecer mas alguém mais experiente ou com dois dedos de cabeça verá logo que isso é errado pois, de redução em redução, o melhor é fechar a empresa que assim terá custos zero.

O que se deverá fazer é o oposto, ou seja, um modelo que maximize os resultados. Ou seja, um modelo que permita encontrar o justo equilíbrio entre as vendas e os respectivos custos. Geralmente, o melhor para a empresa é atingido pelo aumento de vendas, ou seja, conseguindo o crescimento da empresa, e ajustando os recursos a esse crescimento.

Pois o que está a acontecer em Portugal é que os 'espertos' do Governo (Braga de Macedo, Carlos Moedas, Gaspar, Passos Coelho, etc) acham que o resultado se vai atingir com cortes, cortes, austeridade e mais austeridade quando deveriam estar a fazer tudo ao contrário, olhar para o resultado, apostar no crescimento da economia, ir buscar os fundos não aproveitados do QREN, alocá-los ao crescimento, unirmo-nos aos italianos, aos gregos, aos espanhóis, aos irlandeses, para fazer pressão sobre a Alemanha, para que não imponha o seu jugo absolutista. O objectivo tem que ser o de se fazer de tudo para potenciar o crescimento do País - porque, crescendo a economia, crescem naturalmente os impostos, amortiza-se a dívida, reduz-se o défice. Mas primeiro tem que crescer a economia porque aqui a ordem dos factores não é arbitrária.

O que está a acontecer é que Passos Coelho está a conduzir o país para a catástrofe. E Paulo Portas está a ser conivente. E Cavaco Silva está a assobiar para o lado.


Vamos aceitar estas condições para as crianças de Portugal?
Vamos tolerar esta tristeza nos olhos das nossas crianças?


O País não pode aceitar a sua destruição, não pode. Eu não aceito. Eu não aceito!


**

Bom... isto saíu longo, longo... e pesado. Se alguma coisa posso fazer para aligeirar o ambiente, é convidar-vos a virem comigo até ao meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Ao som de Boccherini, poderão ler as minhas palavras que recordam tempos de amores sem casa em volta de mais um poema de Rui Caeiro.

**

E é isto, meus Caros Leitores. E tenham um belo dia. 
Está uma chuvinha fresca que ajuda a limpar o ar. 
E no sábado vamos todos para a rua?

29 comentários:

Anónimo disse...

Minha Cara,
Tocou em todos os pontos e analisou todas as mazelas. Concordo em absoluto. Tudo isto é vergonhoso. Acabo de ler um texto dum primo meu, médico, cirurgião, oncologista,pessoa habitualmente comedida nas palavras, que perdeu completamente a paciência e chama a este governo o que ele merece de ser chamado. Quem é que estes miseráveis pensam que são? Deus? Decidem, quem vive ou morre? Vive e estará na calha para o investimento da salvação, quem for considerado capaz de ser esbulhado com impostos?
Esta gente indigna, é de facto, do mais vil e miserável que podia acontecer a uma legislatura em Portugal. Não tenho memória de ver ou sentir nada tão odioso acontecer no meu país. Esta revolta que sinto, apenas tem semelhança com o ódio, que muito pequena e depois em jovem,votei à Guerra de Àfrica, e à solução que Salazar e os militares oportunistas e ansiosos por carreiras, e gente de outros obscuros interesses económicos, escolheram,quando havia uma melhor e mais sensata alternativa. Guerra, que resultou inútil,e devorou tantas vidas e cujo desfecho e consequente evolução, tanto prejudicou Portugal.Ainda prejudica. E se não fosse ela e o que aconteceu posteriormente, não teriamos de ter levado com Relvas, Passos Coelho, Cristas, e a outra da Justiça e uns tantos mais que andam lá pelos gabinetes. Talvez ficassem por aquelas terras, cuja imensidão é enorme, e jamais se tivessem conhecido e juntado, para dar cabo do país que os acolheu. Sinto nojo e repulsa por estes governantes. "desmamar clientelas", como diz o director do Negócios" é coisa que esta gente jamais fará. Nessas clientelas, reside a pedra de toque em que assenta o poder com que se investem. E quando exercem o poder,"podem" tudo, até acabar com a vida de milhões. Têm de ser travados de imediato porque já tarda e o mal que fizeram é irreversível. Esta troupe de ignorantes e de incompetentes já havia provado que era constituida por bestas que fariam de tudo para "ir ao pote", empobrecendo o país e as gentes,mas depois dos "assaltos" permanentes ao nosso dinheiro, provaram igualmente,que também estão dispostos a cometer assassínio.
A nossa situação é intolerável.
E agora vou ler sobre a "Lídia". Pode ser ficção, mas para muita gente, uma realidade penosa, todos os dias, a acrescentar à desgraça deste governo de imbecis.
Um abraço,
TBM

Jorge Carreira Maia disse...

"É este o modelo para que queremos para Portugal, senhores Deputados?" Resposta: É este modelo que muitos deputados querem para Portugal. É este o modelo que muita gente ambiciona mesmo para a Europa, primeiro para a Europa do Sul, de extracção latina e católica, misturada com os gregos ortodoxos. Mas quando ele triunfar por completo nesses lugares, a sua mão avançará pela Europa do centro e do norte. Oculta está a convicção de que a Europa só poderá competir com a China e outros países asiáticos se o modelo for idêntico. Isto começou com Thatcher e Reagan. A partir daí foi como uma bola de neve, e esta ainda não chegou, nem de perto, ao sopé da montanha.

Olinda Melo disse...


Bom dia, UJM

Se há coisa que leva um país para o abismo é a obsessão aliada ao fanatismo. Isto é o que acontece com a dívida pública. Não é renegociada porque sim, não são pedidos mais anos para a sua liquidação ou amortecimento porque sim. Tudo sem uma explicação lógica porque realmente não há. O Governo teima em onerar os mais fracos porque é mais fácil, porque somos o elo mais fraco. Estamos aqui presos, estamos sujeitos a cortes nos salários até à exaustão. Não há coragem para cortar onde há para cortar, nas tais 'gorduras' que emperram a máquina do Estado. E o relançamento da economia é uma coisa que parece não fazer parte das congeminações daquelas cabeças pequeninas.

UJM, a história dos Modelos é deveras diabólica. Nunca gostei de Modelos, talvez por causa da minha formação. Eles tornam-nos cegos, desviam-nos dos casos particulares e da complexidade que é a vida humana.

Não há dúvida que é necessário haver em todas as esferas da vida nacional uma contenção nas despesas, mas que não se pense em avaliar e pôr em prática o parâmetro custo/benefício, quando estão em jogo doentes com cancro, com sida, todos os doentes em fase terminal, e mais, que se deixe morrer à mingua de tratamento e de cuidados paliativos seres humanos por causa da sua idade avançada.A esperança de vida desta faixa etária há já algum tempo que causa engulho aos 'especialistas' que fazem estas análises, quanto ao muito que custam e ao nada ou quase que dão à sociedade. Esta questão merece da Comissão de Ética esta interpelação (a si própria):'Como devemos pensar os critérios de equidade intergeracional?'- e responde-se a si própria da forma que já sabemos, mas eu digo:
Uma sociedade que não valoriza os seus anciãos está destinada ao fracasso.

O Parecer do tal Conselho prevê,entre muitas coisas e socorrendo-se de variadíssimos conceitos e teorias, que:
'Na impossibilidade de conseguir consensos ou compromissos no que se refere aos princípios da justiça distributiva, não resta outra alternativa senão deixar para os órgãos governativos a resolução justa e legítima do desacordo moral.' É a decisão de quem deve viver ou morrer no recesso dos gabinetes.

Ao que chegaremos se, realmente, não se impuserem limites a este desarrazoado?

Obrigada, minha amiga, por este post,por tudo o que nos transmitiu e ensinou.

Beijinhos

Olinda

Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MCP disse...

Amiga,
Muito boa a sua análise à situação catastrófica em que os incompetentes que nos (des)governam estão a levar o país.
É bem esclarecedora do que poderia ser feito e não é.
Mas eles não têm os seus conhecimentos e a sua cultura, muito acima da média.
Era bom que conhecessem aqui o seu "cantinho", talvez aprendessem a seguir o caminho que não nos levasse ao abismo, para onde estamos a caminhar.
Não tenho mais palavras para lhe dizer que o seu post de hoje é a dura realidade ( era bom que fosse ficção!!!) do que estão a fazer aos portugueses, principalmente aos mais desfavorecidos.
Como vamos vencer tudo isto?
Um forte abraço.
MCP

Anónimo disse...

Excelente Post. Inteiramente de acordo com o que aqui diz. E concordo igualmente com a aobservação de TBM.
Outro dia, um conhecido comentador político clasificava – e muito bem – esta cambada de “governo de extrema direita”, tendo em conta os desmandos fiscais, sociais, económicos, políticos, etc que vem praticando. Concordo plenamente com esta designação.
Nunca fomos antes governados por gente politicamente tão abjecta!
Não têm um pingo de pudor social! São obscenos! Os cortes na Saúde são aviltantes da dignidade humana. Na Educação são escandalosos. O que se passa na Justiça é lamentável. A Agricultura está entregue a uma impreparada menina da Linha. A Economia na mão de um pobre diabo vindo do planeta dos macacos. As Finanças sob o mando “diafano” de um incompetente, que nada sabe do mundo real e mesmo de finanças, basta ver o resultado calamitoso das medidas que tem tomado (não há crescimento económico, a receita fiscal caiu a pique, o desemprego aumentou, as falências sucedem-se, o Pib foi-se, o consumo baixou, etc, etc), a Segurança social está nas mãos de um tolo que “metodicamente” a vai destruindo. E por aí!
E a tudo isto Passos e Portas, que subscreve inteiramente todo este criminoso abismo para que caminhamos, não só assistem impávidos, como procuram agora agudizar ainda mais (com o novo pacote de austeridde que aí vem). Como se não bastasse o que já existe e foi feito. E tudo, com o silencioso consentimento de Belém!
E não há vozes, por mais lúcidas (como por exemplo a do Bastonário da Ordem dos Médicos e diversos comentadores de economia) que consigam travar o desastre em que nos encontramos. Este governo é repelente! Mete asco!
Tem uma ausência de sentido social que choca! E a sua gritante incapacidade de ver que as medidas que defendem não recuperam a economia, que sem consumo não há economia, que sem empresas não há riqueza e emprego, impressiona! Além de incompetentes, são estúpidos! E são gente má, porque quem espolia os mais debilitados economicamente, priveligia os mais ricos, não se compadece com quem é doente (terminal e outros), com quem tem fome, com quem não tem dinheiro para comprar medicamentos, livros escolares, pagar a casa, a alimentação, até os transportes (!), etc, é gente que merece desprezo, merece asco.
Sinto uma revolta imensa, como nunca antes senti!
P.Rufino
PS: que belos textos esses sobre Lídia!

Anónimo disse...

Mais uma vez excelente analise, como sempre.Inteligente e incisiva.
Beijinho Ana

Maria disse...

Amiga
O comentário eliminado é meu. Só agora dei com o "gato" que escrevi.
Aqui vai, corrigido:
Amiga:
Não vou comentar o incomentável. Concordo em absoluto com tudo o que diz.
Estas medidas são tão estúpidas, tão despidas de sensibilidade, que até custa a crer, que alguém concorde com elas.
Abraço
Mary
Setembro 28, 2012

jrd disse...

Um Jeito Manso,
Fico perplexo com a posição do CNECV, especialmente do seu presidente que aquando da polémica sobre a IVG,teve uma atitude extremamente equilibrada.

Quanto ao Governo, a este governo, acho que é mesmo o "melhor" porque, nos tempos actuais, o melhor governo é aquele que entra em agonia e vai ceder o lugar a outro.
Um bom fim-de-semana para si.

Um Jeito Manso disse...

Grande TBM! Brava TBM!

É um prazer ler as suas inflamadas e eloquentes palavras. E se a gente formasse um partido? Não sei se alguém ia votar em nós mas nós haveríamos de mostrar a nossa natureza, haveríamos de dizer alto e bom som o que nos vai na alma e no coração... e, de caminho, acho que nos haveríamos de rir desta piroseira toda que por aí vai. Ele há com cada um, senhores! é que nem apresentação têm... Podiam ser só incompetentes e ignorantes. Mas não, são desqualificados em toda a linha.

Há bocado estava a ver na televisão um Secretário de Estado que é o Rosalino e ai senhores...

Quanto ao que diz, claro que estou de acordo e a única coisa que me anima é pensar que já não pode durar muito mais tempo. É que nem o 'esposo' da D. Laura tem estaleca para isto. Ao fim de um ano, ali anda todo rodeado de seguranças, todos com um mau perder que não se aguenta. Está por um fio.

E olhe, TBM, muito obrigada pelas suas bravas palavras! Muitas palavras assim vão ajudar a resolver isto.

Um abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá JCM,

Quando leio o que diz a minha primeira reacção é que pensar que não acredito. Para ser como diz teria que haver nos agentes do que se passa uma ideologia, um raciocínio estruturado, um plano.

Mas eu não consigo ver gente como Passos Coelho ou Reagan como uns pensadores. Não pensam. Não sabem o que isso é. É gente influenciável, sem conhecimentos, não fazem ideia de coisa nenhuma, são ignorantes.

Pode haver algures, oculta e difusa, uma agenda (e poderia agora ocorrer-me a Trilateral a que António Borges e Borges de Macedo, os dois gurus e ideólogos e decisores deste governo, estão ligados). Mas seres bizarros como estes dois não teriam influência se tivessem pela frente gente capaz. E se têm pela frente anjinhos obtusos como o que nos governa, é porque os portugueses lá os põem. Ou seja, somos nós, portugueses, eleitores ou abstencionistas, que nos fomos demitindo das nossas responsabilidades, deixando que esta gente desqualificada chegasse onde chegou.

O que me anima é que os mesmos que lá os puseram serão os mesmos que de lá os vão tirar e, portanto, em última análise, o que se vê é que, em situações limites, a alma acorda e a cidadania surge vigorosa.

Não sei como vamos sair desta, não sei se vamos sair bem, em democracia e pacificamente, mas com certeza que iremos reerguer-nos. temos todos que fazer por isso - sem pessimismo ou, pelo menos, sem um pessimismo que iniba os movimentos.

Quanto ao que escreveu sobre Sócrates lá no seu Kyrie Eleison, acho que vou ter que escrever qualquer coisa sobre isso...

Maria Eduardo disse...

Depois de ler esta excelente análise económica sobre a situação em que o nosso País se encontra,
fiquei rendida à sua sensibilidade, inteligência, sabedoria e aos seus conhecimentos profundos de macro economia. Esta análise devia de ser reencaminhada de maneira a dar a volta ao mundo como um "Modelo" de Salvação Nacional, uma grande lição de economia para todos e em especial para os medíocres que estão a governar (desgovernar) o nosso País. Podia mesmo intitular-se: "Modelo económico de Salvação Nacional para governar o nosso
País, desgovernado, à beira do abismo"!...
Agradeço por ter partilhado (comigo e todos os seus leitores) esta brilhantíssima análise à economia do nosso País, mostrando o que está errado e focando o que ainda pode ser corrigido...Haja cabeças inteligentes a governar este País e seremos um Povo
"Modelo de invejar"!... Obrigada pelas suas lições de economia e de cidadania, que me enriquecem imenso...

Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

Eu adora as palavras mas toda a minha vida académica e profissional tem girado em torno dos números. Gosto de matemática como gosto de poesia. Fascinam-me os modelos, consegue acreditar...? Gosto de 'modelar' a realidade, gosto de a simular, de a projectar, de fazer uma coisa que tem um nome fantástico, 'análises de sensibilidade'. Mas, talvez por gostar tanto, sei o preigo que são quando estão incompletos, desfocados, mal feitos. Os leigos olharão para os resultados e, não sabendo que o que de lá sai é função do que lá se faz, acharão que são inquestionáveis. Não sabem que o que se diz na gíria é que 'shit in, shit out'. E é o que está a acontecer com os modelos que este governo: shit in, shit out.

Só que um ser medianamente inteligente ao ver um mau resultado, vai perceber que tinha o modelo mal feito. O drama é que estes não: ficam espantados. Depois concluem que a realidade está mal. E continuam com os mesmos modelos à espera que a realidade fique parecida com o que inventaram nos modelos.

Quanto ao Conselho da Ética para as Ciências da Vida, não percebo ainda bem o que aconteceu. Cá para mim pediram um trabalho a uns consultorzecos e assinaram de cruz, sem ler com atenção. Acontece muito.

A vida não pode ficar sujeita a análises de custo/benefício e é isto, de forma clara e inequívoca, que deve ser dito, repetido à saciedade. A vida é um bem maravilhoso que nunca ninguém pode pôr no prato de uma balança como se fosse um prato de lentilhas.

Agradeço as suas palavras, Olinda. São, em si, um belo manifesto.

Um beijinho e um bom fds!

Um Jeito Manso disse...

Olá MCP,

Não se iluda a meu respeito... sou uma pessoa normal, do mais normal que há (enfim... descontando aquela pancada na cabeça que me leva a escrever umas maluquices de vez em quando). E, sem falsas modéstias, lhe digo que quanto mais o tempo passa mais eu sinto que sei muito pouco e mais vontade tenho de aprender. O que gosto muito é de partilhar o que sei e, por isso, o que aqui vê é fruto da minha vontade em trocar impressões, conhecimentos, opiniões.

Mas como vamos sair disto?

Não sei exactamente mas sei que manifestando-nos de todas as maneiras que sabemos e podemos, conseguiremos mais facilmente empurrar de S. Bento o bando que lá se alapou para ver como mais facilmente hão-de destruir o país. A força do 'povo unido' é muita. Eu confio muito nisso.

Um beijinho MCP e muito obrigada pelas suas palavras!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Valentes e revoltadas palavras as suas. O seu sentimento é o de todo o País. Não me lembro de uma tal unanimidade. Independentemente de todas as simpatias politicas assistimos a esta coisa extraordinária: ao fim de pouco mais de um ano, já não há quem defenda e compreenda este Governo (bem... talvez haja um ou outro ministro e um ou outro deputado do PSD... mas muito poucos).

Este Governo, de tão invulgar incompetência, acabou cercado e não consegue sair do seu reduto sem ser violentamente apupado. Já não têm condições, estão isolados e sem saída. Cada vez que se conhece algum resultado, é só desastres! Não acertam uma e o país caminha para o abismo.

Mas acredito que isto vai levar uma volta muito em breve, até porque isto está insustentável.

Muito obrigada pelo seu manifesto. Desejo que sinta esperança e, sobretudo, desejo-lhe felicidades, a si e aos seus.

Um bom fds, P. Rufino!

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Muito obrigada. Preferia que me dissesse que estou errada, que estou a ver tudo ao contrário e que o País está a caminhar à força toda no sentido do progresso, a sério que preferia. Assim, vejo, com preocupação, que estou certa e que este País é um lugar cada vez mais perigoso, especialmente para os que pouco têm (até, sabemos agora, para os que pouca saúde têm).

Mas, todos juntos, mostraremos que não permitimos isto.

Obrigada, Ana, pelas suas palavras. Um beijinho e um bom fds!

Um Jeito Manso disse...

Olá Mary,

Vi o gato e percebi que era um gato e percebi o que queria dizer. Publiquei pois pensei que, vendo-o, poderia, se quisesse, corrigir mas, mesmo que não o fizesse, percebia-se perfeitamente o sentido.

Imagine as pessoas com sida, cancro ou artrite reumatóide, como devem ter ficado com uma destas... Sentindo-se descartáveis para dar a vez a alguém com mais saúde. Isto é tão chocante que até dói.

Mas estas coisas vão servindo para despertar as consciências. Tudo isto já é do foro da caricatura e as caricaturas, por vezes, chama mais a atenção que as coisas muito maneirinhas.

Penso (ou desejo) que isto já esteja quase a ter uma solução a contento do povo.

Um beijinho, Mary, e um bom fim de semana!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Olhe que essa de querer que um governo caia apenas para dar lugar a outro, não tem dado grande coisa. Há aquilo de 'atrás de mim virá quem de mim bom fará', não se esqueça. No entanto, dado que com este governo já estamos no fundo do poço, acho que ficaremos melhor pois qualquer coisa é melhor que este governo de infra-dogs.

Quanto ao parecer da CNECV, já o disse aí mais acima. Cá para mim aquilo é coisa de consultores, daqueles putos que saem das universidades sem um mínimo de tarimba. E os senhores doutores assinaram de cruz, sentados nas suas belas poltronas em salas cheias de certezas. Cá para mim só pode ter sido uma coisa assim. Só que isto vai servindo para, aos poucos, estes raciocínios aberrantes se irem banalizando.

Um bom fim de semana para si e um abraço, jrd!

Causa Vossa disse...

Não só faço minhas cada uma das suas palavras, como as peço emprestadas!
Há que lutar contra esta gente indigna, impreparada, medíocre e falha de carácter.


Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

Muito obrigada pelas suas palavras mas, se me permite, eu mais diria que as minhas palavras não são brilhantes mas sim revoltadas. Custa-me muito ver que, por ignorância ou má fé, temos o país entregue a quem faz tudo ao contrário do que devia, estragando a vida a tanta gente.

A quantidade de jovens qualificados que tanto poderiam fazer por Portugal que eu conheço que já teve que emigrar deixando as famílias para trás é uma coisa que me revira as entranhas; depois a quantidade de desempregados que começa a haver em todas as classes sociais, deixando famílias desamparadas; depois há uma outra situação que me deixa angustiada, os desempregados que deixam de receber subsídio de desemprego (cada vez se recebe subsídio durante menos tempo e, além disso, não há trabalho. O que podem as pessoas fazer se não há trabalho?). Como subsistem estas pessoas?

E o estúpido é que toda esta desgraça não diminui défice nenhum, pelo contrário, só agrava.

Por isso me revolto tanto e por isso as palavras me saem assim, emocionadas e enfurecidas.

Mas agradeço a generosidade do que me diz.

Um beijinho, Maria Eduardo e desejo-lhe um bom fim de semana.

Um Jeito Manso disse...

Muito bom dia Autor de Causa Vossa,

Agradeço as suas palavras e muito lhe agradeço o ter levado algumas palavras daqui, é uma forma de nos indignarmos em conjunto.

E, neste momento, toda a indignação é pouca para exprimirmos a nossa preocupação perante o desnorte em que o governo se encontra, levando, com a sua impreparação, incompetência e tudo o mais que lhes possa atribuir, o País para a desgraça continuada. Temos todos que dizer de forma muito audível: BASTA!

Muito obrigada e desejo-lhe que tenha um bom dia!

Anónimo disse...

Minha cara,
Formar partido não, obrigada, não tenho competência para tal. Outros, está provado que também não, e chegaram através dos paridos a Presidentes e Primeiros Ministros, com resultado fatal e visível para Portugal. Mas lutarei ao lado dos movimentos de cidadania que estão a surgir e que me parecem mais adequados e justos,nesta fase da vida nacional, desde que não se transformem em "clientelismos" e negociatas ou em promiscuidade entre a economia e o Estado. E mais uma vez, venho dizer que tem de ser feito JÁ! Remover esta gente, nem que seja à bengalada, ao pontapé, à chapada. As afirmações do verme António Borges, são de se lhe bater. Não estavam empresários em Vilamoura? Ninguém lhe saltou para cima? Pelos vistos, não. E ainda se deslocou de helicóptero para ir insultar os portugueses. Porque aquela besta, insultou toda a gente, dado que não foram apenas os empresários que se opuseram à medida. A ele, o que o espanta, e daí chamar burros aos empresários, é que estes não tenham esfregado as mãos de contentes, quando lhes era dada a oportunidade da "escravatura" e não tenham percebido que a mesma é muito mais competitiva que o capitalismo. Mas até os empresários entendem que, desaparecido o poder de compra, acabarão as empresas. Isto Borges, não entende. Nunca criou uma empresa ou qualquer posto de trabalho. Aliás, ninguém lhe conhece a actividade ou a utilidade, e até pela Lagarde foi despedido. Apenas, deve servir para os negros intentos de Passos Coelho, Gaspar e Relvas. E pago, ironia máxima, pelos portugueses a quem quer confiscar, vender o património, matar à fome, e agora pelos vistos, deixar, também, morrer por doença. Para nem mencionar a forma arrogante das afirmações de Borges, a pose, a linguagem gestual... Se me encontrasse ali, saltava da plateia e cuspia-lhe. Mas, ontem estava a trabalhar, e hoje e apesar de ser Domingo, também o farei. Penso que tudo isto explodirá em breve. Acredito até, que vamos sair do €, e aconselho que tomem algumas precauções com o dinheiro e víveres, pois os primeiros tempos serão de enorme confusão. Todos os dias me espanto como foi possível deixarmos chegar o país a este inferno.
Um abraço,
TBM

Um Jeito Manso disse...

Uma vez mais: grande TBM!

Imagino-a a subir a um palco como o que ontem estava no Terreiro do Paço e a dizer isto alto e bom som. O impacto que isso teria. As suas palavras transbordam de energia. E coo, ainda por cima, focam objectivamente nos pontos principais e como faz exímio uso da língua, acho que poderia ser uma fantástica tribuna, uma daquelas oradoras que empolga a audiência.

Aquela ontem do Borges só revela o que ele e os inteligentes do Governo são: gente sem dois dedos de cabeça.

Afrontam os trabalhadores a quem chamam piegas ou cigarras, roubam-lhes parte dos rendimentos, fazem deles gatos sapatos. Mas agora viraram-se contra os empresários que também, quantas vezes fazem das tripas coração para conseguirem pagar ordenados e manter as portas abertas. E com uma arrogância que mete nojo chamam-lhes completamente ignorantes. Gentinha despeitada e estúpida.

Tem razão, este Borges vai andando por aí a fazer curriculum sem obra que se lhe conheça e não conseguindo aquecer lugar nenhum. Pensar que é gente desta que anda a vender o país ao desbarato, até dói.

Que país será este, com as principais empresas nas mãos de chineses, angolanos, brasileiros, colombianos? Com a população quase toda desempregada?

Isto é um filme de terror em que nos estamos a ver metidos.

Não sei o que é que o Cavaco Silva está à espera para agir.

Um abraço, TBM, e apesar do trabalho, um belo domingo!

Isabel disse...

Revolta é o sentimento que actualmente muitas vezes me assalta.
Há pessoas que não suporto sequer ver ou ouvir. O Passos Coelho, o Paulo Portas...acho-os uns cínicos.
Assaltam-me ideias de vingança...se pudesse enchia-os de doenças das que não matam mas moem, punha-os a viver numa casa minúscula e só tinham direito ao salário mínimo.Quem me dera uma varinha mágica!
Bem, são devaneios infantis que não levam a nada...

Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Isabel,

Até me fez rir com a sua revolta. Seria bom que alguns dos actuais políticos lessem o que escreveu para perceberem os sentimentos o que as pessoas que sofrem na pele os roubos diários a que são submetidas sentem.

A nossa impotência perante tudo isto gera muita revolta. Percebo isso muito bem porque sinto o mesmo.

Mas as coisas vão mudar porque os portugueses estão a mostrar que quem quer destruir o país os vai encontrar pela frente.

Ainda hoje a minha filha estava a telefonar a uma pessoa que lhe perguntava por mim. Ouvi-a a dizer que 'ontem à noite não estava grande coisa mas que não admira, agora até já vai a manifestações da CGTP...', eu que não sou nada de manifestações, e muito menos da CGTP. Mas a minha revolta é grande e quero defender o país e, para isso, vou à luta da forma que me parecer conveniente. Ah vou, vou...!

Um beijinho, Isabel!

Nuno Conceição disse...

Creio que está a abstrair de duas realidades fundamentais, que envolve na sua opinião, que é afinal outra perspectiva economicista do mesmo problema, que não passa afinal da discussão da afectação de recursos. Essas duas realidades são o sofrimento extremo que usa para ilustrar os seus pontos de vista e a infeliz alusão á ética.

É que não há uma ética estritamente portuguesa, subjacente ao modelo utilizado para tomar decisões nacionais e que tanto critica. Tem mesmo que esquecer os números e olhar para as fotografias que usou para ilustrar o que não quer para Portugal. É evidente que ninguém, nem os maus governantes que tivemos e temos, querem realidades daquelas. Mas o que é facto é que existem. E como a ética não é nacional mas de toda a Humanidade, transponha as suas opções para a escala mundial e tente explicar como vamos acabar com as realidades das fotos. A que escala está disposta a discutir as opções sobre afectação de recursos?

Porque tem formação económica, não é necessário explicar-lhe porque razão três quartos do mundo têm as condições de vida que não quer em Portugal mas que não parecem preocupá-la se estiverem uns poucos milhares de quilómetros a Sul. Ninguém com formação na sua área ignora o que se passou no mundo nos últimos 500 anos. Nem como uns povos se tornaram imensamente ricos e outros miseravelmente pobres.

A ética - ou a moral se preferir - não pode ser vista na sua perspectiva localizada (claro que como a minha formação não é em ciências económicas sou menos atreito a quadros mentais que não tenham o Ser Humano como referencial).

Pode tentar explicar qual a ética que permite ao ocidente do hemisfério norte dizer que não quer ter nas suas fronteiras a vida que considera indigna, sabendo que ela existe aqui mesmo ao lado (experimente passar o Mediterrâneo)?

A sua formação económica poderá dar uma boa explicação, que caiba nos parâmetros de qualquer ética (escolha a escola que quiser), para a enorme riqueza acumulada por uma pequeníssima parcela do mundo em que Portugal se inclui, em contraponto com as zonas onde foram tiradas as suas fotos de exemplos a não seguir?

Certamente que a sua excelente qualificação lhe exigiu a leitura de Aristóteles, Kant, Bentham, Stuart Mill e Marx (nunca consegui passar de um mísero 12 e estudei-os todos há 30 anos - estes e outros - em directas intermináveis e nem sou de filosofia ou sociologia). Explique lá onde algum pensador respeitado concebeu alguma vez a ética com fronteiras ou modelos económicos?

Ética é para todos eles o mesmo, dito de formas diferentes; saber que critério deve orientar o nosso comportamento em cada momento. Todos convergem, por deontologia ou consequencialismo: No bem estar colectivo, no tratamento do Ser Humano enquanto Ser Humano. Não tenho notícia de algum deles ter circunscrito as suas ideias a limites geográficos ou falado de fronteiras e Marx defendeu mesmo a sua abolição (admiro quem tenha conseguido ler os 3 primeiros volumes de O Capital, em inglês pois não havia tradução, sem fazer directas). A ética tem obviamente dimensão universal.

Não consigo entender como pode falar de ética, no problema concreto que refere - o racionamento ou racionalização de despesas com medicamentos - num país que tem os invejáveis indicadores de saúde que temos, enquanto faz montagens de fotos de crianças esfomeadas, abusadas, escravizadas e sobretudo sem assistência médica de qualquer espécie! É esse o mundo em que quer viver?

A ética que conheço obriga-me, face ás "suas" fotos, a engolir toda a vontade de protestar, a emudecer qualquer reclamação e a tentar conciliar o meu cinismo de ocidental que vive na opulência europeia, sem nada fazer de significativo, para diminuir em toda a Humanidade, o sofrimento que tão friamente comparou com o quotidiano português.

Um Jeito Manso disse...

Caro Nuno Conceição,

O seu texto é obra... Gostei de o ler. Vê-se que o escreveu com emoção, isso é muito patente. Se, em vez de escrever, tivesse falado, teria, certamente, falado com muito vigor, sentindo cada palavra que disse. Só por isso foi um prazer ler o que escreveu. Para além disso, está muito bem escrito (o que não é coisa pouca).

Responder-lhe com detalhe seria impossível aqui pois o espaço reservado aos comentários é limitado e eu teria mil coisas para lhe dizer.

Por isso vou ver se resumo:

1. Reconheço as razões históricas e antropológicas que justificam as disparidades brutais entre os níveis de vida nos vários pontos do planeta. Mas quem está num país e pensa no futuro do seu país não pode ficar 'tolhido' por esse conhecimento. Pode, sim, tomar os vários casos como pontos numa escala. Os pontos que referenciei através de fotografias referem-se a sociedades em que a população é pobre, em que as condições de vida são precárias, em que as condições de trabalho são massificadas e desumanas. São, pois, exemplares do que eu acho que deveremos evitar na sociedade em que vivemos. Sendo defendido por estes governantes - que considero ignorantes e incompetentes (e que, se calhar, são apenas mal intencionados) - que o país deve perseguir uma via de empobrecimento e de perda de direitos, o que eu digo é que isso pode conduzir ao ponto em que vivem as populações que referenciei.

2. Acho que deve haver racionalização e gestão inteligente dos recursos públicos e deve ser uma clara identificação dos deveres e direitos do estado e dos cidadãos. Mas isso tem que ser tarefa a cargo de gente bem intencionada, com um mínimo de cultura, com um mínimo de conhecimentos, com um perfil público reconhecido pela sociedade. Pensar que gente como um Relvas, um Passos Coelho, um Gaspar e outros que tais se entregam a decisões sobre temas tão sensíveis e complexos é de pesadelo.

3. Claro que no que se refere a saúde há muitas medidas de gestão e organização que podem e devem ser tomadas a nível global (tal como referi no meu texto) e até acho que Paulo Macedo é pessoa para o fazer com seriedade. Acho que é matéria em que os melhores da sociedade deveriam ser chamados a reflectir e a decidir. Mas, uma vez mais, não incluo nos 'melhores da sociedade' gente como os que acima referi que, como se não bastasse, ainda se rodeiam de garotagem inexperiente, gente que caíu no poder vinda nem se sabe bem de onde. Gente assim é perigosa.

4. Falar de ética é sempre melindroso, é matéria subjectiva. O que é ético para mim, pode não o ser para si.

Será mais fácil, analisar-se situações concretas. Por isso, dou-lhe um exemplo. Tirar uma licenciatura como o fez o Relvas parece-me de ética duvidosa. A mim, o meu sentido de ética impedir-me-ia de me apresentar com uma licenciatura feita naquelas circunstâncias. Mas para ele e para os defensores dele, o que ele fez deve ser do mais ético que há.

5. Todos nós, os que não somos amorfos, guiamo-nos por convicções. Eu guio-me pelas minhas. Defendo para o mundo inteiro que se regulamentem as transacções internacionais de todo o tipo, de forma a impedir a apropriação indevida de meios por parte de uns poucos, prejudicando, dessa forma, grandes camadas de população. Mas isso, é um patamar um pouco intangível para os cidadãos de um país que têm à sua disposição o poder de votar apenas no seu país ou para a UE (no caso dos países da UE). E, por isso, ciente das minha limitações, opino relativamente àquilo em que podemos influenciar.

Para terminar: volte sempre e escreva o que pensa pois gostei e porque acho que o conhecimento de argumentos não alinhados enriquece qualquer discussão.

Obrigada!

Nuno Conceição disse...

Minha Cara,

Fica a minha vénia pela lisura de publicar os pontos de vista acidamente críticos, bem como o agradecimento pela resposta que não posso deixar de apreciar, mesmo discordando. Pôs efectivamente o "dedo na ferida"; foi com grande sentimento de indignação que visualizei o seu comentário ás fotos.

Creio francamente que o mundo está a procurar um novo equilíbrio e como os recursos são por natureza escassos, vão ter que ser desafectados de quem mais tem (nós, apesar de tudo, numa perspectiva colectiva), em favor dos mais desafortunados. Em consciência, não consigo reagir enquanto me considerar privilegiado.

A questão estará mesmo em circunscrever o problema. Ao ilustrar o problema com as fotos, sugere, na minha leitura, a globalização de uma discussão, que será legítima no universo nacional, como bem diz, mas (para mim) intolerável numa visão à escala planetária.

Desejo-lhe boa sorte na defesa da sua linha, que, para já, tem muito mais adeptos que a minha. Contento-me em pensar, como Rawls, que não há maioria capaz de mudar a ética. Doutro modo admitir-se-ia de novo a escravatura de poucos para satisfação de muitos. É neste ponto que divergiremos sempre; a busca da ética, na visão que perfilho, é justamente a tentativa de fuga ao subjectivismo, a busca dos critérios objectivos para distinguir o bem do mal. Doutro modo consumir-nos-emos em lutas e discussões que enfraquecem a nossa frágil comunidade.

Saudações do

Nuno Conceição

Um Jeito Manso disse...

Caro Nuno Conceição,

No texto que escrevi hoje, em Post Scriptum convidei os meus leitores a virem aqui ler as suas palavras.

Podemos estar em campos distintos mas sinto elevação e carácter nas suas palavras e isso, para mim, vale mais do que uma divergência de opinião.

Divergimos sim, mas divergimos muito, e logo numa questão de base. Não há nada que seja objectivo e eu que sou uma pessoa das ciências ditas exactas e que lido acima de tudo com números, digo-o com toda a convicção. Não há nada que seja bacteriologicamente puro no que se refere à objectividade.

Não há uma ética objectiva.

Não há o Bem absoluto.

Tudo se resume a equacionar objectivos, condições, restrições mas, no acto de o fazer, está a arte de quem o faz e a arte, meu Caro, é do mais subjectivo que há.

Para cada coisa que você diga com toda a convicção, certo de que é inatacável, sou capaz de lhe dizer o oposto e defendê-lo com igual convicção. E não o faço por disputa ou por um qualquer jogo. Faço-o apenas porque não há nada na vida que seja inequívoco (com excepção da morte).

Você poderá dizer que o que é bom é defender a vida, proibindo o aborto; ou que o que é bom é reduzir o défice, custe o que custar; ou mil outras coisas. E eu direi o oposto e defendê-lo-ei com toda a minha moral e ética e certa de que tenho uma inabalável razão.

E, no entanto, sentindo-o honesto e inteligente, gostarei de conversar consigo e pensarei que, depois de ter conversado, terei um ponto de vista enriquecido.

Agora ponha-me em frente do Relvas ou do Passos ou do Gaspar ou do Portas ou de um qualquer outro desse género e eu ou não abro a boca (porque não lhes reconheço os mínimos) ou parto para o disparate (porque acho que uma conversa séria com eles não é coisa que seja possível).

O mundo é um lugar perigoso, é um facto. Mas é também um lugar maravilhoso e não nos podemos esquecer disso. Acredito que só vivemos uma vida, pelo que não consigo admitir políticas que causem sofrimento.

E, mesmo que eu saiba que há mil lugares no mundo onde há pessoas que sofrem muito mais do que os desempregados sem esperança do meu País, não é por isso que eu vou deixar de lutar contra quem acha que o desemprego não é senão um insignificante ajustamento, um irrelevante efeito colateral.

Fico-me por aqui não porque não me apeteça contrariá-lo mais mas porque já passa da 1:30 da manhã e daqui a nada tenho que estar a pé.

Saudações cordiais, Caro Nuno Conceição, e tenha um dia muito bom!