terça-feira, agosto 28, 2012

Quando eu era pequena e ia para a escola da minha mãe, uma escola mesmo em cima do mar


A noite, o amor



Rachmaninov - Suite No.1 op.5 arr. para Harpa e Piano, Yana Tratsevskaya (Piano), Alexander Boldachev (Harp)

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Quando eu era pequena, talvez até ir para a primária, a minha mãe dava aulas num hospital. Depois mudou de escola, foi para uma escola 'normal' mas é dessa primeira escola, tão diferente, que eu guardo melhores recordações. Quando eu estava de férias da escola infantil e a minha mãe ainda andava com exames ou com reuniões, não sei bem, talvez as minhas férias começassem antes das dela, eu pedia para ela me levar. O  meu pai não gostava, tinha sempre medo de algum contágio, não queria que a minha mãe fosse lá para as actividades dela e que eu ficasse por ali. Mas eu nunca ficava bem por ali porque, enquanto a minha mãe desaparecia por aqueles enormes corredores, eu ficava sempre entregue aos cuidados de alguém.

Esse hospital era mesmo em cima do mar, mesmo, mesmo em cima. Lembro-me dele como se estivesse dentro do mar. Quando a minha mãe chegava, juntava-se com as colegas na sala das professoras; eram todas mulheres. Tinham lá as batas e, sempre no meio de conversa, risota ou segredos, contavam peripécias, proezas dos alunos, falavam das freiras que geriam o hospital e que por vezes eram pouco humanas ou falavam das vidas delas próprias, dos maridos, de projectos, de mudarem de escola, por exemplo. Sentavam-se viradas umas para as outras e esqueciam-se de mim e eu ficava a espreitar o mar enquanto as ouvia, curiosa e cúmplice. Antes de irem à sua actividade, vestiam a bata. Se estava muito calor, elas viravam-se de costas umas para as outras e despiam a roupa toda, excepto a roupa interior, e vestiam a bata sobre o corpo. Furtivamente eu reparava que algumas tinham as pernas gordas ou soutiens à velha.

Essa sala ficava num dos ângulos do edifício e tinha janelas a toda a volta que davam para o mar e espreitar o mar tão de perto era uma maravilha para mim, adorava ver as ondas a baterem com força nas rochas, adorava ouvir aquele rugido. Alguns pilares do grande e belo edifício de pedra estavam dentro de água, cravados nas rochas dentro de água. Era como se fosse um grande barco cravado nas rochas.

De um dos lados do edifício eram as grandes lavandarias. Havia sempre grandes alguidares (chamavam-lhes selhas) cheias de roupa em sabão e muita roupa branca estendida ao sol. Havia muitas mulheres sempre dobradas sobre a roupa. Para aí a minha mãe nunca queria que eu fosse, apenas via de longe, em especial da janela lá dessa sala. E era também por ali a cozinha. Desse lado, nas rochas viam-se frequentemente ratazanas, grandes. Não me fazia impressão, era assim.

Mas, do outro lado, o que dava para a secretaria e para as instalações hospitalares, ali por baixo era a praia, e era uma praia muito limpa, com rochas cobertas de limos e mexilhões e onde andavam caranguejos e havia muitas algas verdes, macias, e era aí que os meninos com problemas ósseos e que conseguiam andar apanhavam sol e tomavam banho. O meu pai avisava estritamente a minha mãe que não me queria ali mas a minha mãe não tinha medo e deixava-me ir. No entanto, eu percebia que ela não quereria que eu falasse nisso ao meu pai, pelo menos que não contasse que lá tinha estado ao mesmo tempo que eles e, apesar de muito pequena, eu tinha esse cuidado.



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Nas grandes galerias viradas a sul e ao sol, de tarde, as camas dos meninos que não podiam andar eram levadas para apanharem sol e eu também gostava de por ali andar, vendo aquelas crianças acamadas e que, com curiosidade, olhavam para mim, a filha da professora.

A minha mãe sempre foi muito dedicada e carinhosa com os alunos e desenvolvia grandes laços de afecto com essas crianças, grande parte delas oriundas do norte, de aldeias frias, sombrias e húmidas, onde havia pouco sol. As crianças tinham raquitismo ou, mesmo, tuberculose óssea. E estavam longe das famílias. Muitas vezes eram famílias pobres que não podiam visitar os meninos com frequência e a minha mãe tinha muita pena. Contava sempre muitas histórias deles e, sobretudo, relatava com orgulho os progressos que iam fazendo quer a nível da aprendizagem, quer a nível clínico. 



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Um dos meninos de quem ela mais falava, tinha também uma ligeira deficiência mental, tinha sido filho tardio, e a minha mãe falava dele com a ternura com que se fala de um filho especial. Esse não era de famílias pobres. Se bem me lembro, o pai ou um dos irmãos mais velhos era presidente de uma Câmara ou tinham uma fábrica de lanifícios, ou as duas coisas, não me lembro bem. Quando lá iam, levavam queijo da serra para oferecerem à minha mãe e uma vez levaram um cobertor de uma lã muito grossa e pesada, verde, chamavam-lhe cobertor de papa, e também uma mantinha de xadrez para pôr nas pernas. Enquanto vivi em casa dos meus pais, lembro-me de ver esse cobertor na cama deles quando era inverno e a mantinha era também muito usada quando, no inverno, se via televisão. Era a forma que tinham de agradecer à minha mãe os cuidados que ela tinha com o menino. Mas a minha mãe não precisava de agradecimentos pois estava no coração dela ser assim.

Outro dos sítios que fazia as minhas delícias e que era uma das grandes razões para eu lá querer ir, era a Secretaria. Era uma sala imensa, com um chão de soalho sempre muito encerado e reluzente. Tinha à volta grandes secretárias de madeira, com cadeiras de madeira que giravam, e cada secretária tinha uma máquina de escrever. E havia carimbos e almofadas para carimbos. Todos os funcionários estavam sempre muito concentrados a trabalhar. Num dos extremos havia uma divisória e era lá que estava o Chefe. Davam-se todos muito bem com a minha mãe e gostavam de mim, achavam-me graça. Eu era muito extrovertida, falava sem timidez e queria logo escrever à máquina. E escrevia. Punham-me, então, em frente de uma máquina linda, grande, antiga, com teclas redondas e douradas. Provavelmente era uma máquina antiga que já não usavam. E deixavam-me usar papel químico e eu escrevia textos em mais do que uma via. Como por essa altura já lia e escrevia, aquilo para mim era um sonho, escrever à máquina, os espaços, o manípulo para mudar de linha, as maiúsculas, andar para trás; depois soltar e puxar as folhas, depois assinar à mão, pôr carimbos. Depois davam-me um sobrescrito e ajudavam-me a dobrar as folhas com cuidado. Quando a minha mãe, à hora do lanche, me vinha ver já eu, cheia de orgulho, tinha obra para mostrar. E, quando chegava a casa, que importante me sentia, com tantas coisas escritas à máquina para mostrar ao meu pai.



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Depois havia o Senhor Director, um homem alto, de porte nobre, educadíssimo, um cavalheiro distinto. A esta distância tenho ideia que seria homem de alguma idade. Era seguramente mais velho que a minha mãe que era, nessa altura, muito nova. Alta, muito loura, de cabelo solto pelo ombro, olhos muito azuis e bata branca: é assim que me lembro da minha mãe nas galerias, no terraço ou na praia, sempre banhada de luz. O Senhor Director tinha um cão, um setter irlandês, de pêlo ruivo, longo, macio. O cão, quando me via, fazia uma festa e eu a ele. O Senhor Director levava-me para o grande terraço sobre o mar e ali ficava a ver-me brincar com o cão. Havia sempre gaivotas e o cão corria atrás delas e eu atrás deles. Muitas vezes, da sua sala de aulas que era, creio, uma espécie de enfermaria com muitas camas à volta, a minha mãe via-me no terraço com o Senhor Director e vinha de lá de propósito para me advertir que não devia estar a fazê-lo perder tempo ou a incomodá-lo. Mas ele dizia que não incomodava nada e ficavam a conversar um bocado. Lembro-me deles ali a conversar junto à balaustrada e eu a brincar com o cão e ele com as gaivotas, ou eu a espreitar o mar através dos balaústres de pedra ou a ver as gaivotas a voarem para longe, ou a espreitar os navios que, de vez em quando, passavam ao largo, longe, longe, quase irreais.

Aquele hospital imenso, de pedra, com longos corredores, com silenciosas freiras (e um dia ainda falarei de algumas de quem a minha mãe era amiga e que iam em missão cuidar de leprosos), grandes varandas cheias de sol e terraços e uma praia cheia de rochas, com intenso cheiro a iodo, com gaivotas sempre por perto, era, para mim, um local absolutamente mágico. Recordo-me muitas vezes destes dias maravilhosos e sempre tive o sonho de ter uma casa assim, em cima do mar.

....



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Hoje fui de novo ver a noite a cair sobre o mar. E, enquanto a tardinha, em todo o seu exuberante  fulgor, se ia transformando em noite, fui fotografando a praia, as crianças brincando, o sol a pôr-se, a luz a tingir a maresia. E lembrei-me disto que acabei de vos contar, recordações da menina que fui (e que ainda sou), sempre tão amiga de brincar na praia, de ver gaivotas, de respirar o ar puro que há junto ao mar.

Quando estava a vir-me embora reparei na lua, quase cheia, branca, feita de sonhos e de silêncio. Tão perto e tão longe quanto as nossas recordações, quanto o que fomos e ainda somos. Estendi a minha mão e trouxe-a para vocês.



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No mar passa de onda em onda repetido
o meu nome fantástico e secreto
que só os anjos do vento reconhecem
quando os encontro e perco de repente.


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O poema no final é uma vez mais de Sophia.

As fotografias, incluindo a da lua, foram feitas esta segunda feira numa praia da Costa da Caparica. 
Uma vez mais tive o cuidado de ocultar rostos mas retirarei qualquer delas se tal me for solicitado.

*

Desejo-vos, Caros Leitores, um dia muito bem passado. 
E desejo também que acarinhem a criança que ainda existe em vós.

12 comentários:

Bartolomeu disse...

Que belas memórias e, tão agradávelmente revisitadas.
Tiveste uma infância doce e recheada de momentos mágicos, pelo que nos é dado perceber.
Infância protegida por uma mãe-deusa e um pai-guardião, cujo resultado está à vista; uma mulher sensível às coisas belas e simultâneamente ao sofrimento alheio.
Muitas considerações se poderiam tecer com base neste maravilhoso texto, contudo, respeitando-lhe a intimidade, cumpre-nos sobretudo saborea-lo como se fosse um fruto raro, ou um vinho especial.
Quis ilustrar este comentário com um tema que de certa forma fosse um agradecimento pela oferta que nos fazes no final... captar a Lua e entrega-la, assim... de bandeja.
;)
A Lua é para mim também, o corpo celeste mais importante, pelo brilho, pelas faces e pelas fases que nos vai mostrando, pela influência que exerce sobre tudo o que constitui a Terra. Talvez porque sou Caranguejo, sinta com maior intensidade a influência da Lua e também... viva um pouco com a cabeça lá e o corpo cá.
;)))))
Voltando à questão do tema musical, pensei logo de início neste que vou "lincar", porque é cantado por um dos "idolos" que povoaram a minha idade "teen" e porque o tema da canção encerra uma "filosofia" interessante e um final poderoso.
http://www.youtube.com/watch?v=NPazGVuBXmY&feature=related
Obrigado pelo texto e, votos de um dia maravilhoso!
;)

Alice Alfazema disse...

Olá, UJM!
Belas memórias e momentos. Aí nesse triângulo entre o rio, a serra e o oceano, entre os cheiros dos arbustos de mato rasteiro, os recortes das palmeiras...onde até as ratazanas são seres do quotidiano, e onde os redemoinhos se formam em frente às varandas - é realmente um local mágico.

Um abraço

Um Jeito Manso disse...

Olá Bartolomeu,

Sim, a minha infância foi muito boa, muito livre, muito ao ar livre entre a praia, o rio, e a serra, e o campo em geral. Tirando os tempos que passava a ler e que, aí sim, estava em casa, grande parte do meu tempo livre era passado na rua. E depois havia aquilo que era diferente como estas incursões à escola onde a minha mãe trabalhava, que eu adorava como acho que deu para perceber,

Eu também sou caranguejo, toda caranguejo, e com todas as manifestações de um full-caranguejo que se preze (é que sou caranguejo, com ascendente de caranguejo - e acho que grande parte da astrologia é treta mas, conforme, li em livros escritos por matemáticos, há uma certa observação estatística em relação às manifestações dos 'signos' pelo que...).

E sendo a 'nosso' planeta a lua, é um facto que me maravilho com ela. Ontem adorei fotografá-la, estava linda, nítida.

Gostei imenso da canção do Cat Stevens. Também gostei muito dele e depois acabei por me esquecer. Gostei muito de o relembrar e não conhecia esta canção, gostei muito. No entanto, agora estou de novo a ouvi-la e parece-me familiar e não pode ter sido apenas de a ter ouvido de manhã. Se calhar conheci e ficou (injustamente!) esquecida.

Muito obrigada pela canção, pelas palavras.

E que a quarta feira seja um dia mesmo bom!

Um Jeito Manso disse...

Olá Alice rodeada de Alfazema,

Guardo na memória aquele local como um castelo fantástico, uma fortaleza no meio do mar, com muito espaço, sol, gaivotas, meninos, um cão amoroso, um senhor de idade muito atencioso, freiras silenciosas, colegas da minha mãe muito divertidas, pessoas que faziam tudo para eu passar lá um bom bocado.

Lembro-me tantas vezes de quando espreitava pelas janelas ou pelo terraço e via o mar a bater nas rochas ou os navios a passarem muito ao longe. E tudo aquilo era, para mim, tão pequena ainda, um cenário de sonho.

Agradeço a sua compreensão pelo espírito do meu texto. É isso mesmo que disse.

Um abraço, Alice rodeada de Alfazema, e tenha amanhã um belo dia!

ERA UMA VEZ disse...

Fortaleza no mar
ciosa de iodo para cura de ossos e maleitas
Vista de azuis e de penínsulas
gaivotas em puro atrevimento
gente que cresce deitada numa cama
ouvindo ondas e marés
pressentimento...

Memórias boas também
fascínio
e lembranças de fazer rir meninos
em visitas de jovens com pequenos teatrinhos mal ensaiados
e ainda assim
os meninos riam encantados...

Passaram anos...tantos.
Hoje o meu olhar evita o forte
procura alternativas no imenso mar

FOI LÁ
que num final de tarde
do último dia desse ano
sózinho
longe do nosso amor
o meu pai partiu
pra "navegar"

Como pode ser tão igual e tão diferente o nosso próprio olhar...

Anónimo disse...

Olá jeitinho,
Hoje tenho que discordar de si, olhe que a Astrologia não é treta. A Astrologia de jornal e de revista até pode ser, mas a verdadeira não o é com certeza. É até bastante complexa e tem a ver com o conheçermo-nos a nós próprios e a influência que os planetas tem sobre nós. Tem que se saber sobre Matemática, Astronomia, Filosofia,Psicologia etc.
Beijinho Ana

Isabel disse...

Ontem li o seu post, mas estava cansada e não comentei.
Gostei de saber que a sua mãe era pofessora primária, minha ex-colega portanto!
O trabalho num hospital com crianças doentes, não deve ser nada fácil. É preciso muita dedicação.

Gostei de ler o seu texto sobre a sua infância,

Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Erinha,

Estava a ler, enlevada, o seu poema, sempre as palavras a sairem com aquela fluência que parece magia, quando cheguei à parte em que fala do seu pai. Fiquei parada, emocionada.

A gente escreve conforme as ideias nos vêm, e vai escrevendo, escrevendo e, afinal, sem saber, ao falar de um local tão especial para mim, estava a falar de um local especial para si mas pelos motivos inversos. Que coisa. Lamento. Mas partiu de um sítio muito bonito e deve mesmo ter ido por esse mar fora, navegar, em paz.

Uma das minhas avós, era eu já casada, também lá esteve internada. Partiu a anca, foi operada. Nessa altura acho que já nem devia haver lá crianças, o raquitismo e a tuberculose óssea são coisas que, com os cuidados de saúde actuais, já nem devem existir.

Lembro-me que quando lá fui vê-la me fez muita impressão. Entrei como uma familiar de um doente, para as visitas e já ali ninguém me conhecia. O local familiar da minha infância era agora outro, já não pude andar lá por dentro, ir ao terraço, ir à salinha das professoras. E fez-me também muita impressão por ver a minha avó como estava nessa altura. Acho que por causa da anestesia ou nem sei bem, estava completamente baralhada, não dizia coisa com coisa. Entrou como uma mulher normal, cheia de vida e fui dar com ela, na cama, completamente confundida, mal me conhecendo. Foi horrível, fez-me muita impressão.

É assim mesmo a vida, Erinha, múltiplos olhares, vidas que partem, vidas que chegam, recordações, sonhos.

Muito obrigada pelo poema, lindo (e triste).

Um beijinho, Erinha!

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Eu não tenho ideia formada sobre a Astrologia. Como disse, li bastante sobre isso e achei muito curioso um estudo levado a cabo por matemáticos e psicólogos que constatou que existe uma certa homogeneidade de características entre pessoas do mesmo signo.

Leio o que diz no meu e revejo-me completamente, tal como revejo os meus filhos, marido, pais, no que diz dos signos deles.

Mas não encontro fundamento científico para isso e, sendo eu uma pessoa da área das ciências exactas, tenho dificuldade em aceitar o que não percebo. Ou melhor, aceitar até aceito mas mostro as minhas reservas.

Mas sabe uma coisa engraçada?

Quando agora fui operada, fui internada logo às 8 da manhã para fazer uma série de exames e depois fiquei no quarto até ser hora de ir para o bloco. Tinha a televisão ligada mas não dava nada de jeito, tirei umas fotografias mas a vista de uma janela é o que é e ao fim de umas quantas já não havia mais para tirar. Tinha levado um livro mas não estava com paciência. Então pedi ao meu marido para me ir comprar uma revista.

Trouxe-me a Caras que trazia uma entrevista muito interessante com a Ana Marques, elegante, simpática como sempre, e mais umas quantas coisas. Até que cheguei à parte da astrologia ou tarot, nem sei bem, acho que era da Maya. Vou ver o meu horóscopo e o que é que dizia? Que eram favorecidos (ou lá que expressão era) os tratamentos de ortopedia. A sério! Estando eu para entrar para uma cirurgia dupla a nível de ortopedia, leio aquilo. Nem de propósito. Fartei-me de rir.

Por isso... vou duvidando mas vou lendo... e também vou tentando perceber.

Um beijinho Ana!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Sim, a minha mãe foi, até há alguns anos, professora primária.

Sempre a conheci muito dedicada aos alunos. Quando deu aulas num bairro pobre, quando chegavam à 4ª classe levava lá para casa os mais desfavorecidos para lhes dar explicações (gratuitas). Se era à tarde, eu às vezes chegava a casa e lá estava a sala cheia, sentados nos sofás, no chão, onde calhava, e dava-lhes de lanchar.

Quando se vai passear na cidade com a minha mãe, há sempre gente a cumprimentar 'olá professora!'. São ex-alunos, são pais de ex-alunos, toda a gente ficava a gostar dela. Os meus filhos também adoravam ir para a sala dela, quando chegava o Verão. pelo menos uma tarde por ano, iam lá ter com ela.

Para grande pena dela, nunca conseguiu foi fazer nada de mim a nível de ensino. Queria que eu fizesse cópias ou coisa do género e eu não queria e dava tanta luta que ela acabava por desistir. Nunca fui aluna dela, claro. Mas ficava aflita quando ela ia fazer 'provas' ou exames à minha escola, pois tinha sempre medo que a minha professora lhe fizesse queixas de mim.

Coisas de crianças.

A Isabel também deve ser uma professora bastante querida pelos seus alunos e pelos pais deles, a julgar pelas manifestações de carinho que recebe.

Um beijinho.

Maria Eduardo disse...

Que lindo passeio pela infância e pelas recordações de menina cheias de encanto e magia!. Que mundo maravilhoso foi o vivido na nossa infância e o prazer que temos de o recordar, revivendo-o!... e para finalizar esta linda história da sua meninice, trouxe-nos a lua "feita de sonhos e silêncio" para se juntar a todos nós, numa perfeita cumplicidade e beleza! ...
Conheço este lugar, pois quando menina ia passar férias aí perto em casa de um tio.
Obrigada pelo lindo post.
Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

Escreve-se, sem saber quem lê ou se quem lê sabe do que estamos a falar. Afinal acontecem coisas assim. A Maria Eduardo conhece o local e a Leitora Era uma Vez tem, do mesmo, uma das recordações mais tristes que pode haver.

Mas a vida é mesmo assim: o mesmo espaço pode ser habitado em felicidade e sonho por uns e em tristeza por outros ou, pela mesma pessoa, em momentos distintos com disposições diferentes.

A minha infância foi muito livre, muito feliz e isso marcou-me. Hoje reconheço-me ainda muito naquilo que fui.

Um beijinho.