quinta-feira, agosto 30, 2012

Os meus meninos foram ver a arte xávega na Costa da Caparica... mas a coisa não correu como previsto. Não fez mal: a brincadeira foi uma maravilha e nem acharam que a água estivesse gelada


Uma gaivota nas mãos das crianças



Coro Infantil de Carcavelos - Gaivota


*

Hoje apenas consegui começar a olhar para o blogue depois de ter deitado e contado uma história ao meu menino mais crescido. 

Contei-lhe uma história de um menino que quis conhecer um barco por dentro e que, então, foi percorrendo corredores, descendo escadas, até que chegou a casas dentro do barco que eram quase como fábricas, com as máquinas que fazem andar o barco, e grandes cozinhas e grandes despensas porque quando o navio anda no mar é preciso fazer comida para as pessoas que estão a bordo. E fui contando.

Depois quis mais uma história e eu contei-lhe a história de uma gaivota que era amiga de um pescador e que, quando ele ia para o mar, ela ia no barco com ele, voando à volta, e ele escolhia sempre peixinhos pequeninos como ela gostava para lhe oferecer ('pequeninos porque ela não tem dentes, não é...?') e, quando ele voltava para casa, ela ficava no muro à espera dele, toda a noite ali à espera, até que ele voltasse ao mar. 

Quando me levantei, ele perguntou 'Mas a história é só assim?' e eu disse que não mas que agora ele é que ia ficar a pensar em como poderia ser o resto da história. E saí do quarto.

Passado uns minutinhos fui lá espreitar e já dormia o sono dos justos.

Antes tínhamos estado na praia, ao fim do dia. Eu tinha querido mostrar-lhes os tractores na água, os peixes.

Mas claro que estas coisas nunca saem como a gente as prevê. O mar estava agitado, grandes ondas, vento. E, talvez por isso, os tractores estavam à beira de água mas não puxavam as redes.

O tempo a esfriar e nada. E manter sossegados três pestinhas à beira de água é obra...

Chegaram vestidos, agasalhados.




Mas a tentação da água e da brincadeira era muita. E cada um a correr para o seu lado. Era eu, a minha filha e o meu filho, três adultos, portanto, e as três crianças.  E eu pensava, mas oh senhores, será  que três adultos não dão conta de três crianças...? Claro que damos mas eu ainda não estou muito veloz e isso, naquelas circunstâncias, é uma séria limitação. Claro que aproveito as minhas limitações para tirar fotografias. 




E fazia um vento frio... e nada de peixe, nada de pescarias, nada de gaivotas a quererem comer o peixe porque o peixe continuava na água. Oh senhores, mas se todos os dias tenho visto os pescadores a tirarem as redes porque é que logo hoje, nada...?

E as crianças desassossegadas, a correrem, à solta, felizes.




Até que, claro, o previsível aconteceu. O mais crescido meteu-se na água... e os outros, gatinhos copiões, na maior risota, quiseram logo fazer o mesmo. Por fim, já estavam todos molhados para desespero da mãe dos dois rapazes que tem medo que se se constipem, que andaram com tosse e que com este frio... Mas como? Querem lá eles saber de cuidados? Querem é brincar.

A solução, claro, foi despi-los para ver se não andavam com as calças e os casacos ensopados. Mas tirá-los da água...? Impossível, só à força, só levá-los em pranto. Não era caso para isso. E a brincadeira estava tão boa... Corriam atrás uns dos outros, caíam, riam, brincavam.




A maré estava vazia e tinha deixado piscinas, rios, e remoinhos, não é?, perguntava o mais crescido, contente por saber palavras difíceis.




E até apareceu no saco da mãe, que é um autêntico bazar chinês, um tractor para pôr na água, já que os de verdade estavam parados.

E vendo as fotografias até parece que estava uma quente tarde de verão mas a verdade é que era quase oito da tarde e estava um vento frio que vocês não imaginam.

Por fim, já era tarde demais, era preciso ir para casa, tomar banho, jantar.

E quando estávamos nas manobras de retirada eis que, então, reparamos que os pescadores começam a retirar as redes do mar. Parecia de propósito... só para chatear. Mas vimos de longe, paciência. Outro dia logo fazemos outra tentativa para ver lá mesmo ao lado.




Puxadas a braços, as redes começam, então, a aparecer.




Já estávamos a sair da praia, as fotografias foram feitas de longe. Vejo agora que vêm pesadas as redes, carregadas de peixe.

Cá fora vimos as redes estendidas para que os pescadores as remendem, e as bóias. Estive, então, a explicar para que serve a rede e como, assim, se apanha o peixe que, depois, se vende e se come.

E então reparei que, ao longo de toda a praia, em cada um dos altíssimos candeeiros (penso que sejam candeeiros) estava uma gaivota, como se estivessem a guardar o mar. Ou talvez cada uma tivesse um pescador por amigo e estivesse à espera que ele saísse do mar para o acompanhar até a casa, para ficar à sua espera em cima do muro da sua casa, toda a noite, toda a noite à espera..




**

E é isto, meus Caros Leitores. Tenham uma boa quinta feira. Acho que a temperatura vai subir. Por isso, se puderem, procurem também a beira do mar ou de um rio ou de um lago (ou de uma piscina ou..., enfim, de um repuxo, o que puder ser)

14 comentários:

Olinda Melo disse...


Bom dia, UJM

Adorei este post, refrescante, não me referindo, claro, ao dia um tanto desagradável de ontem, mas a esses queridos amores a dar cabo da cabeça adultos. :)

Ver os seus meninos foi um regalo; para eles, e para todos os miúdos, não há dias feios ou muito frescos, o que querem é brincadeira.

Mesmo de partida, conseguiu fazer belas fotografias. Vou passar ao post em que fala da 'arte xávega', uma realidade que eu não conhecia, e das 'caravelas portuguesas'.

Bjs

Até já

Olinda

Bartolomeu disse...

E que me dizes a colocarmos os teus "reguilas" de instrumentos musicais na mão, a tocar e a cantar dentro desse mar maravilhoso? Sometimes music and see, are a good marriage.
;)))))))
http://www.youtube.com/watch?v=ejU5YAHN3vQ

Pois na verdade, lavro, mas não sou agricultor. Ou seja, não subsisto dessa arte. Sou funcionário público mas, como vivo no campo, tento retirar proveito da terra.
Um dia vou contar-te a relação entre o "Memorial do Convento" e a minha decisão de trocar a cidade pelos montes...
;)))
Have a nice day!

margarida disse...

lindo, lindo, lindo...

Maria disse...

Amiga:
Que saudades do tempo em que inventava histórias para os meus meninos.
A minha neta dava-me três palavras. Eu tinha de inventar uma história com elas. Lembro-me de um dia, em que as palavras eram: Golfinho, guarda- chuva e barco. Lá me desenrasquei. Às tantas, estranhei o silêncio dos adultos. Estavam todos a ouvir a história.
Continue a inventar histórias para eles e, conte-nos. Adoro histórias.
Abraço grande da
Mary

Isabel disse...

Eu procurava a beira do mar que adoro, mas enfim...estou longe!

Muito giro este seu post, com os pequeninos todos e o divertimento deve ter sido muito.

As fotos dos pescadores também ficaram bem. Deve ser interessante ver a recolha do peixe, feita dessa forma. Realmente foi uma pena não ter acontecido enquanto os pequeninos podiam ver.

Um beijinho

Maria Eduardo disse...

Bons instantâneos capturados nessa linda Praia da Caparica, aos seus pequerruchos...e nem o frio lhes tira a alegria de chapinhar na água e brincar na areia. E ainda, a foto das gaivotas, cada uma pousada em seu candeeiro, em fila e em silhueta, ao entardecer, está extraordinária!... gaivotas e cegonhas são uma paixão para mim, tenho centenas de fotos, sobretudo dos seus ninhos, que são verdadeiros santuários...
Continuação de bons passeios, boas fotos e postagens...
Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

Estes meus dias têm sido uma alegria, as crianças felizes umas com as outras, sempre a chamarem uns pelos outros e sempre a fazerem tropelias.

(Devo dizer que têm sido também um pouco cansativos... Hoje estou aqui que não posso com uma gata pelo rabo...)

Mas são uma graça, uma boa disposição permanente, uma energia inesgotável.

Um beijinho, Olinda!

Um Jeito Manso disse...

Olá Bartolomeu,

Mas como é? Existe algures uma base de dados pessoal indexada por palavras chave que permite descobrir as coisas mais mirabolantes? (Por exemplo: "clip musical em que os músicos estão a tocar dentro de água?")

Bom, se é, é fantástico pois essa ideia de fazer uma festa musical dentro de água é extraordinária e o clip é o máximo, adorei! Claro que desconhecia e fiquei admirada e agradada.

Quanto a conseguir conciliar a actividade do dia a dia com a do cultivo da terra ainda mais fascinante é. E deve ser bem recompensadora.

Eu, no meu bocado de terra (isto é, de paraíso), é só pedras pelo que se dão lá umas quantas árvores de fruto e árvores de sombra mas hortas nem pensar.

Mas... O Memorial do Convento? Pois, Mafra. É um sítio maravilhoso, sem dúvida e perto das praias, também. Em tempos andámos à procura de uma casa por essas bandas.

Muito obrigada uma vez mais e have a nice day, too!

Um Jeito Manso disse...

Margarida, olá,

Pode crer, foi uma tarde linda mesmo. A maré estava baixa e o areal estava coberto por uma camada de água e havia gaivotas e as crianças numa alegria.

Só me apetecia abstrair-me de que estava frio e deixá-los brincar à vontade, estavam tão divertidos uns com os outros, chamam uns pelos outros, correm, caem, brincam. A minha filha estava toda aborrecida, dizia que estava frio, vento, água gelada e que tinham andado com tosse. Mas a verdade é que não tossiram mais e, se estavam constipados, passou-lhes.

Os fins de dia na praia são sempre uma maravilha, lindos, lindos.

Um beijinho, Margarida, e um belo dia amanhã!

Um Jeito Manso disse...

Olá Mary,

Quem inventava histórias a partir de palavras era a minha filha. Cativava quem a ouvia, com uma imaginação prodigiosa.

Eu também invento mas prefiro a partir de nada. O pior é que me esqueço. Hoje ele pedia-me a do comboio. Lembrava-se lá eu qual era. Depois comecei a inventar e ele disse 'mas essa não é a mesma nem é a seguir'. Pois...

E o pior ainda é que começo a contar e começo a bocejar. Hoje à hora da sesta deixei-me dormir, provavelmente a meio de alguma palavra. Nem me lembro: apaguei.

Agora à noite já contei mais 4 e às tantas uma era tão maluca que ele já se ria à gargalhada e em vez de lhe dar sono, só lhe dava era vontade de rir.

A ver se hoje conto aqui as histórias de há bocado... se até lá não adormecer eu ou não me esquecer do que contei, o que é muito provável (estou a contar e a bocejar sem parar...).

Um beijinho, Mary!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Não tem mar mas tem uma muito bonita e arranjada piscina que vi a reportagem que fez no outro dia. A proximidade da água é sempre agradável.

Ver estes pescadores é fascinante, Isabel, metem-se à água e fazem uma força que só vendo, e todos em equipa, e ali no meio das ondas, é uma coisa mesmo especial. E as gaivotas ficam doidas, nem imagina, aparecem às centenas e gritam feitas umas esfaimadas.

Quanto aos meninos a Isabel sabe como é, que convive de perto com crianças, são sempre uma alegria muito grande.

Um beijinho, Isabel e tenha um belo dia!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo, de novo,

Também gosto muito de cegonhas, são solitárias e elegantes.

Mas com estas gaivotas, ali dispostas em fila, sabe que o mais extraordinário é que se revezam. Estive a vê-las durante um bocado e tirei muitas fotografias. À vez, vem uma de fora e chega-se a um candeeiro e a que lá está sai e cede a vez. Depois , a seguir, o mesmo no candeeiro a seguir. E assim sucessivamente. Parece uma coisa organizada. As gaivotas são aves muito interessantes.

E ver os meus três reguilinhas a correrem no meio delas... só que elas estavam também ali à espera do peixe e não se desfocaram. Afastavam-se mas regressavam à areia e os miúdos na maior alegria, todos encharcados, todos felizes.

Momentos mágicos.

Um beijinho, Maria Eduardo!

Pôr do Sol disse...

Olá Vovó Derretina,
Tem razão. Não há nada melhor que ver a brincadeira de crianças felizes e quando mete água então é completa.

A minha pequenita tem perfeita loucura pelo mar. Este ano, com a colónia do colégio, aprendeu a mergulhar e tambem nas aguas da Costa, mas fica muito surpreendida porque não gosto de molhar a cabeça: "Vovó, é muito bom e regra nº.1 numca se volta as costas às ondas."
Acho-lhe muita graça porque com todo este entusiasmo consegue respeitar as cores das bandeiras, sabe o significado das suas cores.

Há dias "melgou" o avô para pôr de castigo um adolescente irreverente que teimava em nadar com a bandeira vermelha, o que fazia o nadador salvador apitar e correr de um lado para o outro.

De facto, com a quantidade de mortes nas praias este ano por desobediencia aos nadadores salvadores deveria ser feita uma maior campanha pela consciencia não só da própria vida como a dos salvadores.

Prevêm que este vento chato vai mudar e a temperatura subir.
Boa praia

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol,

Sou mesmo uma avó indisfarçadamente babada. Não tenho emenda. Derreto-me toda com as coisas deles. Os meus filhos passam a vida a dizer que eu, quando era com eles, não era nada assim. Acho que até era mas eles devem ter guardado mais as memórias das vezes em que os contrariei do que das vezes em que me derreti.

Quanto aos perigos é um facto que há falta de consciência quando há desobediência face aos 'avisos à navegação'. Mas eu, tanto como das praias, tenho medo de piscinas. As crianças num segundo fogem, na brincadeira ou à descoberta. Felizmente cada vez mais há cuidado com isso mas li que ainda há uma ou duas semanas houve mais um acidente mortal numa piscina particular. Deve ser um horror sem tamanho.

Mas, enfim, não falemos de coisas tristes.

Pensemos antes nas nossas crianças que, cada vez mais, são avisadas para terem cuidados, não é?

Um beijinho, Sol Nascente, e boas praias também para si!