sexta-feira, julho 06, 2012

Passos Coelho à entrada (quiçá de um novo casting) do La Féria, afirma que vai trocar a suspensão de pagamentos de subsídios de férias e Natal actualmente em vigor para trabalhadores de Estado e reformados, medida declarada inconstitucional, por uma outra que afecte também os trabalhadores privados. Está a ver mal a coisa. Muito mal.


Hoje queria estar aqui mansinha, falar de coisinhas boas, peace and love, juro que queria. Não sei se era por me estar a sentir uma anjinha mas estava toda com asas, a voar, numa boa.




Mas eis senão, quando me lanço no primeiro salto, que ouço a notícia que o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional a suspensão do pagamento dos subsídios de férias e natal aos trabalhadores da administração pública e pensionistas. Claro. É inconstitucional, e, acrescento eu, é imoral e, sobretudo, estúpido.

Por favor confirmem se não é tão obviamente estúpido. Imaginem um cenário: numa certa casa recebem ordenados ou outros rendimentos no montante de 2.000 euros por mês e, em contrapartida, têm as seguintes despesas fixas: 750 para pagar a casa ao banco, 500 para pagar as escolas dos filhos, 250 para combustível e transportes públicos e, em média, 1000 para as despesas de supermercado, restaurantes, água, luz, telefone, gás, vestuário, etc. 

Ou seja, azarinho: o dinheiro não chega. 

Então, qual a decisão dos donos da casa? Se forem da mesma craveira que Passos Coelho e afins, deixam de pagar a casa durante uns anos.



Não é boa ideia não conseguir ter raciocínio numérico - especialmente quando se  desempenham algumas funções



Agora pense o meu caro Leitor se isso é inteligente. Claro que deixar de pagar a casa é empurrar o problema com a barriga. Podem cortar-se verbas variáveis, não críticas. Não se podem cortar verbas estruturais, críticas. Fazê-lo é um erro que sai sempre muito caro.

O que acontecerá é que ou voltam a pagar a casa ou o banco fica com ela e, aí, vão arranjar um problema ainda maior. Até porque deixar de pagar não significa que a obrigação de pagar desapareça e, portanto, o problema subsiste.

Num caso destes o que seria desejável que se fizesse?

Em primeiro lugar há que tomar uma decisão que é estratégica. Pretende sacrificar-se o nível de vida? Se não, então a solução será aumentar os rendimentos. Ou seja, os membros do casal deveriam tentar arranjar trabalhos suplementares (dar explicações, fazer limpezas, etc, consoante o caso e consoante o que for possível). Falhando esta via, então restará sacrificar o nível de vida. E aqui o que se poderia fazer? Talvez reduzir nos custos que podem ser considerados supérfluos (trocar o transporte privado por público, trocar escolas privadas por públicas, etc). Ou seja, conseguiriam atamancar o orçamento familiar de forma racional e estrutural, não protelando a sua resolução nem criando mais problemas (por exemplo, se tivessem recorrido a crédito adicional, seria outro disparate pois seria dinheiro a reembolsar mais tarde, acrescidos de juros).

Se o orçamento de estado é desequilibrado há que decidir o que se deve fazer, mas fazer a sério, de forma racional, moral, inteligente. Se o governo corta agora uns milhões nos subsídios, onde os vai arranjar quando os quiser pagar?

Há sítios onde se pode cortar: as célebres rendas, as célebres PPPs, verdadeiras purgas. Mas aí estar-se-ia a mexer nos pilares do regime e nos escritórios de advogados que põem e dispõem neste país. E não admira que ponham e disponham pois encontram pela frente, na classe política, gente fraquíssima, gente iletrada, chicos espertos, gente sem estudos, inculta, sem mundo, gente que cresce no meio de expedientes, de troca de favores, gente que desconhece o verdadeiro sentido de conceitos como a ética, ou a moral.

Voltando à inconstitucionalidade da suspensão dos subsídios: vi também há pouco Passos Coelho à porta do espectáculo do La Féria (talvez para ver se é desta que ele o contrata, coisa que não aconteceu no casting anterior). Com cara de quem lhe fizeram um exame de que os cavalheiros não costumam gostar, Passos Coelho nem parou para pensar, de súbito, saíu-se com aquele arzinho de mau perder dizendo que então iam levar todos pela medida grossa, então agora era para todos, públicos e privados 

Que este senhor é o que é e não é nada de bom já nós todos sabemos muito bem. Mas que não consiga perceber o b-a-ba da coisa já incomoda.



Aos papéis? À nora com os números?
Que não está a perceber nada, parece evidente... 



Então este senhor ainda não percebeu que retirar dinheiro da economia (através do confisco) é um desastre em toda a linha? Ainda não percebeu?! Ainda não percebeu que não são apenas as pessoas que estão mais pobres? Que não são apenas as empresas que estão aflitas para sobreviver (...as que ainda não baquearam)? Então não vê que é a dívida que está maior, que o défice está maior, que todas as contas estão piores (como as da Segurança Social), que o País está mais pobre, mais atrasado, mais envelhecido? Ainda não percebeu, senhores?! Mas o que é que é preciso acontecer para este homem perceber alguma coisa?

E Cavaco Silva onde anda, no meio deste desnorte, neste desgoverno, destas ilegalidades, desta gente que para aqui anda a fazer disparates uns atrás dos outros? 

Já aqui o disse mais do que uma vez: até o Santana Lopes quase parece um fulano atilado quando confrontado com esta troupe que por aí anda, que mais parece que anda a monte. E digo 'a monte' porque não conseguem fazer nada excepto confiscar os rendimentos de quem trabalha ou trabalhou. De resto, zero, nada, bola. Mas nem conseguem fazer reformas de jeito, nem resolver problema nenhum mas, é que nem coisas mais simples como nomear administradores para as empresas, presos e enredados nas pressões do Relvas, do Menezes e companhia. 

No outro dia ouvi um senhor da empresa Parque Expo dizer que recebem consultas e encomendas incluindo de outros governos mas que o ministério de que dependem não os deixa aceitar trabalho. E como também não há dinheiro para os mandar embora, as pessoas ali estão a ganhar o ordenado e sem nada que fazer.

Ou seja, esta gente do Governo não faz nada e o pouco que faz, faz mal. Só disparates.

Bom, esta mediocridade, esta coisa toda, cansa a minha beleza.

E, assim sendo, vou ficar por aqui - e vou ficar a pensar como é que haveremos de resolver este grande problema que o País tem e que se chama Passos Coelho (será que este estudou mesmo? Parece que também 'fez' o curso apenas em 2001, na Lusíada), Miguel Relvas (o ilustre Nº2 do Governo, ou, aparentemente, o verdadeiro Nº1), Vitor Gaspar (o tal que só atira bolas para o pinhal), etc?

Para ver se me treino mentalmente, vou ficar de arquinho na mão a ver como é que o hei-de transformar num quadrado.


Paulette Goddard

*

Se vos apetecer espairecer, convido-vos ainda a deslizarem até ao meu Ginjal e Lisboa. O poema é de Manuel António Pina e as minhas palavras debruçam-se sobre ele. Na música, despedimo-nos, por agora, de Manuel de Falla.

*

E, por hoje é isto. Amanhã não estarei por cá. Espero regressar no sábado. 
Entretanto, vocês, meus Caros, portem-se mal. 
E, sobretudo, sejam felizes.


3 comentários:

Pôr do Sol disse...

Há pouco, na farmacia, ouvi um senhor dizer com azedume, "agora queixam-se? É bem feito, não votaram neles? cada povo tem o governo que merece" e saiu barafustando. Dos que ficaram só um jovem não se prenunciou. Todos disseram não ter votado, quais crianças a quem perguntam se se portaram mal.
Parece que portando-nos bem, cada vez lucramos menos.

Vamos pois portarmo-nos mal e aproveitarmos a asneira.

Um beijinho, um bom fim de semana e aproveite

Um Jeito Manso disse...

Aos Caros Leitores que escreveram comentários que não aparecem aqui,


Como sou uma cusca, fui-me pôr a mexer nisto estando na horizontal e, ainda por cima, a partir do telefone ou seja vendo letrinhas ínfimas e, sendo o écran táctil, susceptível de, querendo carregar num sítio, carregar noutro. Ou seja, sem querer apaguei alguns comentários. Agora, que já estou mais ou menos sentada, fui ver se os conseguia salvar mas, de facto, mandei-os para o espaço.

As minhas sinceras desculpas.

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr-do-Sol,

O que se passa é que, com a qualidade doa que habitualmente 'vão a jogo' já é difícil escolher, sabendo que não nos vamos arrepender.

Por isso, o que é a gente portar-se bem?

Eu não votei nestes. Pela conversa e pelo que conhecia deles, parecia-me gente impreparada que andava para ali a vender banha da cobra. Mas não posso acusar quem se deixou enganar pois a culpa é de quem engana e não das vítimas que se deixam levar na conversa.

Um beijinho, Sol Nascente, e porte-se sempre mal: é mais divertido e mais útil!